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É verdade que as flores do campo nascem por vagas de cores?

16.03.2021
Papoila. Foto: Armennano/Pixabay

A leitora Isabel Stilwell tem uma dúvida que a inquieta há muitos anos e pediu ajuda à Wilder. Carine Azevedo responde.

“Há muitos anos que me pergunto porque é que as flores parecem nascer por vagas de cores”, indicou Isabel Stilwell, numa mensagem enviada à Wilder em meados de Fevereiro. “Por exemplo, agora os campos estão cheios de flores amarelas (de várias espécies), daqui a pouco aparecem predominantemente as roxas, e a seguir as encarnadas. Pelo menos é assim que as vejo, […] será que há uma explicação para isto?”

Carine Azevedo, botânica e consultora na gestão de património vegetal, começa por explicar “a coloração das flores está diretamente relacionada com a sua reprodução, pois serve como uma forma de atração de organismos responsáveis pelo transporte de pólen e polinização”.

Foto: Paul van de Velde / Wiki Commons

Segundo esta especialista, “a variedade de cores representa uma grande adaptação que as plantas tiveram necessidade de encontrar para garantir a sua perpetuidade e é conseguida graças à presença de pigmentos”.

Assim, o que podemos associar a “vagas de cores” pode estar relacionado com o facto de nas flores silvestres surgirem primeiro, no geral, “as cores menos atrativas para que os insetos responsáveis pela polinização de uma determinada espécie cumpram a sua função”. Pelo menos, é dessa forma que alguns botânicos interpretam este acontecimento, esclarece.

Foto: Jibi44 / Wiki Commons

“O período de floração de muitas espécies é relativamente curto, e se as cores mais fortes e atraentes surgissem primeiro, as espécies de flores menos atrativas corriam o risco de não serem polinizadas.”

Outra forma que muitas plantas têm de ficar mais visíveis para os polinizadores é quando as flores surgem antes das folhas, exemplifica.

Branco, rosa, vermelho

Mas que ordem é essa pela qual determinadas cores vão-se sobrepondo a outras nos campos e nos prados? “Geralmente as primeiras flores são as de tons brancos, menos atrativas”, descreve Carine Azevedo. “Depois surgem os rosas e cores similares, dentro das gamas de cores claras e suaves. Mais tarde, surgem as cores mais fortes, os laranjas, os vermelhos, etc.”

Foto: Ana Júlia Pereira / Flora-On

Um exemplo destacado por esta especialista é o das magnólias, nativas da Ásia e das Américas, que “são consideradas entre as mais primitivas das espécies com flor”: “Desenvolveram flores mesmo antes de existirem abelhas e borboletas para as polinizar, e por isso os besouros e os escaravelhos são os seus aliados no processo de polinização.”

Assim, descreve Carine Azevedo, as primeiras flores de magnólia que florescem são em tons de branco, como por exemplo a Magnolia denudata e a Magnolia stellata. Seguem-se as espécies e as variedades com tons mais rosa, a Magnolia x soulangeana, por exemplo, e depois os tons mais fortes, como no caso da Magnolia liliflora, com flores púrpura-avermelhado. Em todas estas espécies as flores surgem antes das folhas. 

Flores de Magnolia x soulangeana. Foto: AnRo0002 / Wiki Commons


“Não há nada cientificamente comprovado de que isto seja assim mesmo, esta avaliação é meramente visual”, ressalva todavia. “É descrita de forma informal e falada por vários especialistas, mas ainda há muito estudo pela frente.”

Mesmo nas magnólias, nota a especialista,  “existem outras espécies do mesmo género, com cores claras – como é o caso da Magnolia grandiflora – que florescem mais tarde e que são de folha persistente”. Por esse motivo, sublinha, não se pode por enquanto afirmar “que não existem outras causas para essa cadência de cores ao longo da primavera”.


Saiba mais

Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os artigos desta autora.


Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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