A leitora Isabel Stilwell tem uma dúvida que a inquieta há muitos anos e pediu ajuda à Wilder. Carine Azevedo responde.
“Há muitos anos que me pergunto porque é que as flores parecem nascer por vagas de cores”, indicou Isabel Stilwell, numa mensagem enviada à Wilder em meados de Fevereiro. “Por exemplo, agora os campos estão cheios de flores amarelas (de várias espécies), daqui a pouco aparecem predominantemente as roxas, e a seguir as encarnadas. Pelo menos é assim que as vejo, […] será que há uma explicação para isto?”
Carine Azevedo, botânica e consultora na gestão de património vegetal, começa por explicar “a coloração das flores está diretamente relacionada com a sua reprodução, pois serve como uma forma de atração de organismos responsáveis pelo transporte de pólen e polinização”.
Segundo esta especialista, “a variedade de cores representa uma grande adaptação que as plantas tiveram necessidade de encontrar para garantir a sua perpetuidade e é conseguida graças à presença de pigmentos”.
Assim, o que podemos associar a “vagas de cores” pode estar relacionado com o facto de nas flores silvestres surgirem primeiro, no geral, “as cores menos atrativas para que os insetos responsáveis pela polinização de uma determinada espécie cumpram a sua função”. Pelo menos, é dessa forma que alguns botânicos interpretam este acontecimento, esclarece.
“O período de floração de muitas espécies é relativamente curto, e se as cores mais fortes e atraentes surgissem primeiro, as espécies de flores menos atrativas corriam o risco de não serem polinizadas.”
Outra forma que muitas plantas têm de ficar mais visíveis para os polinizadores é quando as flores surgem antes das folhas, exemplifica.
Branco, rosa, vermelho
Mas que ordem é essa pela qual determinadas cores vão-se sobrepondo a outras nos campos e nos prados? “Geralmente as primeiras flores são as de tons brancos, menos atrativas”, descreve Carine Azevedo. “Depois surgem os rosas e cores similares, dentro das gamas de cores claras e suaves. Mais tarde, surgem as cores mais fortes, os laranjas, os vermelhos, etc.”
Um exemplo destacado por esta especialista é o das magnólias, nativas da Ásia e das Américas, que “são consideradas entre as mais primitivas das espécies com flor”: “Desenvolveram flores mesmo antes de existirem abelhas e borboletas para as polinizar, e por isso os besouros e os escaravelhos são os seus aliados no processo de polinização.”
Assim, descreve Carine Azevedo, as primeiras flores de magnólia que florescem são em tons de branco, como por exemplo a Magnolia denudata e a Magnolia stellata. Seguem-se as espécies e as variedades com tons mais rosa, a Magnolia x soulangeana, por exemplo, e depois os tons mais fortes, como no caso da Magnolia liliflora, com flores púrpura-avermelhado. Em todas estas espécies as flores surgem antes das folhas.
“Não há nada cientificamente comprovado de que isto seja assim mesmo, esta avaliação é meramente visual”, ressalva todavia. “É descrita de forma informal e falada por vários especialistas, mas ainda há muito estudo pela frente.”
Mesmo nas magnólias, nota a especialista, “existem outras espécies do mesmo género, com cores claras – como é o caso da Magnolia grandiflora – que florescem mais tarde e que são de folha persistente”. Por esse motivo, sublinha, não se pode por enquanto afirmar “que não existem outras causas para essa cadência de cores ao longo da primavera”.
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Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os artigos desta autora.