Martim Quinta. Foto: D.R.

Retrato de um naturalista: Martim Quinta

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Martim Quinta, 18 anos, está a acabar o 12º ano e passa muito do seu tempo a desenhar a natureza, especialmente animais marinhos. Há cerca de três anos apaixonou-se pela ilustração científica e das suas mãos saem tubarões, polvos e os mais variados peixes.

WILDER: Qual a sua idade e ocupação?

Martim Quinta: Tenho 18 anos, estou a acabar 12º ano de escolaridade, além disso, passo muito tempo a desenhar a natureza. No desenho mais descontraído, registo apenas aquilo que mais me chama a atenção, sem grande preocupação com o resultado final. Quando faço ilustrações científicas foco-me no rigor das proporções, da cor, da luz, do número de raios de uma barbatana, caso esteja a desenhar uma determinada espécie de peixe. Dentro destas duas variedades ocupo-me mais com as ilustrações científicas.

Martim Quinta. Foto: D.R.

W: De que forma expressa e satisfaz o seu gosto pela natureza?

Martim Quinta: Para além de desenhar elementos da natureza, principalmente animais marinhos, através de uma ilustração ou de um desenho de campo mais descontraído, costumo passear com a minha irmã pela praia e pelos pontões da Costa de Caparica, que são perto de casa. Gosto de ver o que o mar trouxe nesse dia, a correria frenética dos pilritos para fugirem das ondas de maré, os caranguejos marmoreados a desertar a cem à hora por me verem a chegar perto ou, simplesmente, ver o rebentar das ondas nas rochas. Quando estou noutro local qualquer, costumo ir dar uma volta para ver que animais andam por ali. Para além de tudo isto, procuro ver também documentários sobre vida selvagem, ver e ler livros sobre natureza. 

W: Quando é que se começou a interessar pela natureza?

Martim Quinta: Desde que me lembro. Quando eu era pequeno o meu pai levava-me para o campo, para o meio dos animais. Mostrava-me como eles eram, ensinava-me coisas da vida deles. Os meus pais e avós davam-me figuras de animais em miniatura para brincar, desde baleias, tubarões, tartarugas até leões e dinossauros, que mais tarde serviram de modelos para desenhos à vista. Diria que foram nesses tempos que se instalou em mim o “bichinho” pela vida animal. O meu interesse pela natureza surge naturalmente. Começo a olhar para os animais como amigos para a brincadeira.

Ilustração: Martim Quinta

W: E como é que começou a fazer ilustrações?

Martim Quinta: Desde pequeno que gosto de desenhar. Mais uma vez foi algo que me surgiu muito pelo meu pai que, de vez em quando, também desenhava e que me mostrava como se fazia. Diria que desde os meus sete anos comecei a desenhar à vista as tais figuras de animais. No entanto, só aos catorze, quinze anos é que comecei a querer desenhar mais e mais, e me interessei a sério pela área. Foi nessa altura que frequentei o curso do Pedro Salgado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (em Lisboa), que foi fundamental para chegar ao nível a que cheguei. Ensinou-me muito, quer ao nível do desenho científico, quer ao nível do desenho de campo. Estou-lhe muito grato por isso. A partir daí, comecei a fazer as tais ilustrações usando as várias técnicas, aguarelas, lápis de cor, grafite etc, com diversos objetivos.

Ilustração: Martim Quinta

W: Que espécies ou locais mais procura ou gosta de observar?

Martim Quinta: Acho que facilmente me fascino por qualquer espécie. Ainda assim, diria que os peixes são aqueles que mais me entusiasmam e que mais gosto de observar. Quando vou mergulhar, na Costa da Caparica, no Portinho da Arrábida ou em Sesimbra, gosto muito de ver os peixes nas suas atividades. Sargos a comerem algas, tainhas a serem desparasitadas por peixes mais pequenos, linguados enterrados na areia a tentarem enganar seus predadores e presas ou rascassos imóveis a procurarem passar-se despercebidos no meio das algas. Os polvos também me fascinam. Gosto de os ver dentro dos seus buracos a arrumarem as suas muralhas de pedras ou simplesmente, a pairarem por cima das rochas. Quando vou para o mar a história é outra, aí espero encontrar animais maiores, mas igualmente bonitos. Desde tubarões a peixes-lua, passando por baleias e tartarugas. Também vou muitas vezes à praia, não para tomar banhos de sol ou “furar ondas”, mas para apanhar vendavais. Depois de um temporal ou quando ainda há muito vento a vir do oceano, é provável que encontre animais pelágicos que arrojam na praia, alguns deles raros e difíceis de encontrar. Nunca se sabe o que nos espera. 

Ilustração: Martim Quinta

W: O que o fascina na natureza e o que esta representa na sua vida?

Martim Quinta: O facto de nada ser previsível. Tudo me fascina na natureza, todos os tipos interações entre animais, os diferentes ecossistemas, as mais variadas histórias de vida, mas acima de tudo a sua imprevisibilidade. Lembro-me de ir à praia em determinadas épocas do ano e encontrar animais que arrojaram em certas condições meteorológicas e voltar à praia noutra ocasião, na mesma altura do ano, com as mesma condições atmosféricas ou 99% idênticas e encontrar pouca coisa ou nada do que esperava. Tenho tido uma vida em estreita relação com a natureza e, especialmente com o mar, muito graças aos meu pai. Eu diria que se tivesse sido diferente, grande parte do que sou agora não existia.

Sargo. Ilustração: Martim Quinta

W: Há alguma mensagem que gostaria de deixar aos responsáveis pela conservação da natureza em Portugal?

Martim Quinta: Julgo que, para além das campanhas de sensibilização da população que incentivam a adoção de práticas amigas do ambiente ou da criação de legislação que controlam determinados atos, é igualmente relevante a divulgação de conhecimento sobre o que se está a proteger. Acho que é importante conhecer o que protegemos. Saber, por exemplo,  como uma determinada espécie, em vias de extinção, se reproduz ou como se alimenta, ou que tipo de ambiente prefere. Esta abordagem também é necessária para que possamos tomar uma decisão e agir de forma mais acertada. Ou simplesmente dar a conhecer uma história de vida que, pela sua beleza, faça com que as pessoas se apaixonem pelo mundo natural e, desse modo, as incentive a protegê-lo.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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