É no Outono que amadurecem as bolotas dos carvalhos e de outras árvores da espécie Quercus, como sobreiros e azinheiras. Esta é uma oportunidade bem aproveitada pelos gaios, que as armazenam debaixo de folhas e de vegetação rasteira.
“As bolotas são enterradas e ficam bem escondidas. Caso contrário, outros animais poderiam roubá-las, pois há inúmeros animais que gostam de comer bolotas, desde inúmeros ratinhos aos javalis e muitas aves”, explica Paulo Catry, investigador do MARE-Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
Este ornitólogo lembra que “as bolotas são super-abundantes no Outono e se armazenadas, fornecem um rico alimento para o Inverno”.
Os gaios são aves da família dos corvídeos (Corvidae). São omnívoros e comem o que estiver disponível, incluindo insectos e ovos de outras aves, mas as bolotas são a parte mais importante da sua dieta.
Calcula-se que cada gaio esconde vários milhares de bolotas por ano, que depois do Inverno vão ser importantes ainda nos restantes meses. Para as comer, partem a casca com o bico e comem o que está no interior.
“Têm uma memória incrível e podem memorizar durante meses centenas de esconderijos de bolotas”, adianta Paulo Catry.
‘Semeadores’ de carvalhos
No entanto, todos os anos, são muitas as bolotas que acabam por ficar esquecidas nos seus esconderijos, acabando por dar origem a novas árvores, o que transforma os gaios num dos mais importantes “semeadores” de carvalhos e de outras plantas da espécie Quercus – tanto no campo como em jardins de cidades.
Muito variável é a distância a que os gaios escondem estes alimentos: tanto podem ficar enterrados a cerca de três metros da árvore onde foram colhidos, como a pouco mais de meio quilómetro, concluíram dois investigadores espanhóis do CEAM-Centro de Estudos Ambientais do Mediterrâneo, Josep Pons e Juli Pausas.
As bolotas das azinheiras (Quercus ilex) estão entre as mais apreciadas por estas aves, seguidas pelas do sobreiro (Quercus suber) e do carvalho-cerquinho (Quercus faginea), notam os mesmos investigadores.
Já Paulo Catry reconhece que não é fácil observar gaios nesta actividade, uma vez que são aves “muito discretas” no campo. Ainda assim, por vezes um observador mais atento poderá avistar um gaio a passar com uma bolota no bico, geralmente as maiores.
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