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O primeiro voo destas corujas podia ter corrido melhor

21.04.2015

No mundo das aves, Primavera é sinónimo de novos desafios. Como sair dos ninhos e voar pela primeira vez. É nesta altura do ano que, num passeio pelo campo, poderá encontrar crias a precisar da sua ajuda. Ou não.

Neste momento, sete crias de coruja-do-mato (Strix aluco) estão aos cuidados do CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), em Gouveia. A mais velha terá cerca de dois meses e a mais nova cerca de um mês.

 

 

“Estas são das aves de rapina nocturnas que se reproduzem mais cedo”, explica Ricardo Brandão, médico veterinário responsável pelo CERVAS. Por isso, são das primeiras crias a dar entrada no centro, na Primavera. “O mais normal são as corujas-do-mato”, mas também “têm entrado crias de melros”, acrescenta.

No total, estão no centro cerca de 50 animais em recuperação.

Quando as jovens aves “caem” ao tentar voar “continuam a ser alimentadas pelos seus progenitores, no chão ou em ramos”, diz o veterinário.

 

 

“Se o local for afastado de zonas humanizadas e os riscos de predação (por gatos, cães ou outros animais) ou de acidentes, como o atropelamento, forem reduzidos, estas crias não devem ser recolhidas”, acrescenta o veterinário. “A pessoa deve evitar tocar nas crias e afastar-se do local. Os pais irão continuar a cuidar delas mesmo quando já estão fora do ninho”, garante.

No caso de haver perigo para as crias, “o ideal é os animais serem de imediato encaminhados para um centro de recuperação. Não se lhes deve forçar alimento nem água e as aves devem ficar num local tranquilo, sem contacto com humanos, até serem encaminhados para um centro de recuperação”, acrescenta. É proibido ter espécies selvagens autóctones em casa.

Quando as crias de coruja-do-mato chegam ao CERVAS são pesadas, são-lhes recolhidas amostras de sangue e fezes para exames parasitológicos e passam por um exame físico completo.

 

 

As crias de coruja-do-mato, uma das aves de rapina nocturnas mais comuns de Portugal, alimentam-se sozinhas desde o primeiro momento em que chegam ao centro. “A alimentação é à base de ratos, complementada por pedaços de carne de coelho”, diz o responsável. “As aves são colocadas em contacto directo com outras da mesma espécie para que desde o início haja uma socialização correcta e para que não haja risco de se habituarem a humanos.”

Quando as aves têm capacidade de voo passam para instalações exteriores onde podem treinar o voo e aprender a caçar presas vivas (ratos) com os animais adultos que desempenham um papel de mães/pais adoptivos.

 

 

As aves que estão actualmente em recuperação serão devolvidas à Natureza em locais próximos de onde foram encontradas, ao longo dos meses de Maio e Junho.

 

A partir de final de Maio, mas principalmente início de Junho, é a época pico para a chegada ao centro de crias de andorinhões. Se encontrar alguma, entre em contacto com um centro de recuperação de animais selvagens para saber exactamente o que fazer.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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