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Crias de andorinhões em recuperação no CERVAS. Foto: CERVAS/arquivo

No Verão é quando as crias dos andorinhões mais precisam de si

06.07.2017

Os meses do Verão são muito importantes na vida de inúmeras espécies de aves e os andorinhões não são excepção. É agora que as crias começam a sair dos ninhos nos seus primeiros voos. Mas Ricardo Brandão, veterinário de vida selvagem, sabe que estes podem correr mal. Acredita que a ajuda dos cidadãos pode fazer a diferença para estas pequenas aves.

 

Se encontrar uma cria de andorinhão no chão, o mais provável é ser um andorinhão-preto (Apus apus) ou um andorinhão-pálido (Apus pallidus), espécies mais comuns.

O grande momento do primeiro voo chega quando as aves têm entre 37 a 56 dias de idade (para os andorinhões-pretos) ou 46 dias (para os andorinhões-pálidos). Nesta altura, as penas de voo já estão desenvolvidas, o que permite às aves deixarem o ninho – feito em cavidades paredes, telhados, torres de igreja e fendas um pouco por todo o país – para só regressar na altura da reprodução.

É que os andorinhões foram feitos para voar. Serão das aves que mais tempo passam a deslizar nos céus; é a voar que caçam, que se alimentam, que bebem, que acasalam e que dormem. Adaptaram-se de tal maneira que parece terem-se desabituado de um apoio mais terrestre; as suas patas são demasiado pequenas e unidas para se empoleirarem. Em Maio, um estudo de ornitólogos espanhóis descobriu que os andorinhões-pretos voam 20.000 quilómetros nas suas migrações para África.

 

Bando de andorinhões-pretos. Foto: Keta/Wiki Commons
Bando de andorinhões-pretos. Foto: Keta/Wiki Commons

 

Mas não poucas vezes, o primeiro voo rumo aos céus corre mal e caem no chão. Foi o que aconteceu às 21 crias que estão neste momento em recuperação em Gouveia, no CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens. “A entrada de crias de andorinhão no centro acontece todos os anos no Verão”, diz Ricardo Brandão, director veterinário daquele centro. No ano passado, os andorinhões-pálidos encabeçaram a lista das espécies que entraram no centro, com 63 animais. A maioria eram crias que caíram dos ninhos.

Normalmente, para outras espécies de aves, Ricardo Brandão aconselha a deixar as crias no chão onde foram encontradas. Isto se os progenitores estiverem por perto. “Muitas vezes, os pais continuam a alimentar as crias que caíram do ninho.”

Mas este não é o caso dos andorinhões. “Não recolher as crias não é opção porque os pais não as conseguem alimentar no chão e por isso arriscam-se a morrer à fome. Ou a ser apanhadas por algum animal predador”, explicou hoje à Wilder.

O melhor a fazer é encaminhá-las o mais depressa possível para um dos centros de recuperação de animais selvagens do país. “As pessoas não devem levar estes animais para casa, ainda que seja com a melhor das intenções. Estas aves alimentam-se de insectos, algo que não costumamos ter em casa.”

Nos centros, e porque as crias não se alimentam sozinhas, as equipas têm de lhes “dar comida à mão, de duas em duas horas, e tentar simular o que os pais fazem.” Estes pequenos comem larvas de escaravelhos, um alimento muito completo.

Além disso, os andorinhões precisam de estar em grupo, sendo animais gregários. “Além da alimentação adequada que os centros proporcionam, há grupos de outros andorinhões, o que é muito importante para a sua recuperação”, acrescentou.

 

Andorinhão-preto num ninho artificial. Foto: Amikosik/Wiki Commons
Andorinhão-preto num ninho artificial. Foto: Amikosik/Wiki Commons

 

Das 21 crias em recuperação no CERVAS – do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), gerido pela associação ALDEIA desde 2009, com o apoio da ANA – Aeroportos de Portugal e de outros parceiros -, dez chegaram hoje. “Temos de tudo. Há crias com dias de vida que chegaram ainda sem penas (que terão caído do ninho porque esteve muito calor ou porque foram empurradas) e outras com poucas semanas, já com as penas desenvolvidas, mas cujo primeiro voo correu mal.”

Segundo Ricardo Brandão, as crias “dão trabalho mas são muito resistentes”. “A taxa de libertação é de 85% nos jovens. Já nos adultos, a percentagem é muito mais baixa porque os animais chegam com problemas mais graves, como fracturas nas asas ou no bico.”

Há poucos dados sobre o que acontece aos andorinhões devolvidos à natureza, depois de um processo de recuperação. “Tivemos apenas um caso de recaptura. Foi um andorinhão-pálido libertado em 2011 e recapturado em 2014. Mas isto prova que os cuidados funcionam e que as aves conseguem adaptar-se à vida em liberdade.”

A devolução à natureza acontece quando os andorinhões chegam a um peso entre 35 e 40 gramas e quando as penas de voo atingem dimensões mínimas. Depois, é marcá-los com anilhas e libertá-los num local onde exista um grupo grande andorinhões, “para terem referências no céu para imitar.”

Agora, com o corpo totalmente preparado para a vida aérea, este será o primeiro voo a sério para estes pequenos andorinhões.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se encontrar uma cria de andorinhão no chão, pode telefonar para os seguintes contactos.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais:

Cinco factos fascinantes sobre andorinhões:

 

  • Os casais de andorinhões-reais e de andorinhões-pretos mantêm-se para a vida.
  • Fique atento ao coro de gritos emitidos por grandes bandos de andorinhões-pretos quando voam a baixa altitude, nas noites de Verão. Vai ver que é um espectáculo.
  • O andorinhão-preto evita alimentar-se de insectos com ferrão, como abelhas e vespas.
  • Graças a estudos de anilhagem na serra da Arrábida foi possível saber que o andorinhão-pálido pode viver, pelo menos, 14 anos.
  • Os ninhos de andorinhão-real são construídos com uma mistura de penas e palhinhas, unidas com saliva.

Conheça e aprenda a identificar as espécies de andorinhões que ocorrem em Portugal, com a ajuda do ilustrador naturalista Marco Nunes Correia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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