Lousada deixa de cortar relva para proteger os polinizadores

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O município está a deixar crescer a vegetação espontânea em parques e jardins, separadores ou bermas de estradas, canteiros municipais e em bordaduras de edifícios para proteger os insectos polinizadores. Mas esta é apenas uma das coisas que Lousada está a fazer para aumentar a biodiversidade do concelho.

No início deste mês de Março, a autarquia anunciou que deixou de cortar a relva e que assume a vegetação espontânea nos espaços verdes que foram devidamente assinalados com placas identificadoras.

Assim, placas amarelas espalham-se por Lousada, com uma mensagem: “Não estamos a cortar a relva… para alimentar as abelhas! Obrigado.”

Foto: Diego Alves/Município de Lousada

Segundo o programa da autarquia “Lousada Ambiente”, “a vegetação silvestre espontânea, muitas vezes considerada desagradável à vista ou ‘inútil’, é fundamental para a vida selvagem, nomeadamente para os insetos polinizadores (como as abelhas), dos quais depende toda a vida na Terra”.

Lousada quer dar o seu contributo para travar o declínio dos insectos polinizadores, causado pela pressão das atividades humanas e perda de habitat selvagem.

A paragem do corte da vegetação espontânea, que permite o crescimento de flores como os dentes-de-leão e as margaridas, está a acontecer em canteiros municipais, bordaduras de edifícios e espaços de lazer, parques e jardins, separadores ou bermas de estradas, faixas ajardinadas, entre outros.

Foto: Diego Alves/Município de Lousada

Segundo explicou à Wilder Milene Matos, do Sector de Conservação da Natureza e Educação Ambiental, Lousada tornou-se um município “amigo da biodiversidade” em 2015, através da Estratégia Municipal de Sustentabilidade.

“No caso particular dos polinizadores começou-se pela abolição do uso do glifosato em todos os espaços geridos pela autarquia. Depois temos vindo a instalar hotéis e abrigos para insetos, mas principalmente a gerir todo o território de forma a permitir compatibilizar a conservação da natureza com as atividades humanas, beneficiando áreas de maior valor ecológico e fomentando a conetividade da paisagem para a fauna e a flora, a várias escalas – incluindo a dos polinizadores.”

Foto: João Gonçalo Soutinho/Município de Lousada

Os polinizadores, como as abelhas e abelhões, beneficiam de um pacote de medidas que inclui a suspensão do corte da relva mas não só.

O município faz sementeira de prados apícolas, planta espécies melíferas ou aprazíveis para os polinizadores, instala “hotéis” para insetos e sebes vivas ou sebes de madeira morta (que funcionam como abrigos naturais para uma vasta comunidade de insetos), reforça a rede municipal de charcos para a vida selvagem (que inclui a beneficiação da vegetação aquática ou marginal e a monitorização da qualidade ecológica do espaço, garantindo condições de reprodução e alimentação) e combate as espécies exóticas invasoras.

Além destas medidas, Lousada está a fomentar a vegetação nativa e a melhorar o estado ecológico da paisagem através, por exemplo, da plantação de floresta nativa, limpeza e restauro ecológico de cursos de água e galeria ripícola e remoção de entulheiras.

Foto: Diego Alves/BioLiving

Estas acções implicam “uma vasta equipa e de custos de implementação que procuramos cobrir com financiamento europeu e nacional de tipologia variada”.

Milene Matos explica que todas estas medidas para aumentar a biodiversidade surgiram como resposta à “enorme pressão humana e descaracterização” do concelho, que é densamente habitado (cerca de 500 habitantes por km2).

Anfiteatro de madeira morta. Diego Alves/Município de Lousada

“A cada ano, Lousada perde uma média de cerca de sete hectares de áreas verdes. Constatou-se o óbvio: com a degradação dos ecossistemas, a biodiversidade não pode existir e os serviços ecológicos ficam comprometidos, o que traz repercussões na qualidade de vida e na saúde de todos nós. A mudança é urgente, a todos os níveis (…). As autarquias podem, e devem, operar à escala local e apelar à mudança individual.”

Um dos grandes passos de conservação, segundo Milene Matos, foi a aprovação do Regulamento Municipal de Gestão de Arvoredo e dos Espaços Naturais do Município de Lousada. Este documento “protege não só as árvores de grande porte do concelho, um habitat natural para vastas comunidades de insetos, como manchas e bosquetes de importância conservacionista, seja em terrenos públicos ou privados”.

Foto: Diego Alves/Município de Lousada

Mas é possível ir mais longe. Recentemente foi estabelecida oficialmente a Paisagem Protegida Local do Sousa Superior e está a ser criada uma Rede Municipal de Micro-Reservas para a conservação da natureza. “Estas visam a proteção de pequenos espaços ou núcleos populacionais importantes, à micro-escala, por todo o concelho.”

Tudo isto só foi possível graças “à forte adesão da comunidade a todo o tipo de iniciativas que fomos disponibilizando”.

Foto: Diego Alves/Município de Lousada

Neste momento, os munícipes podem participar na melhoria da biodiversidade local de várias maneiras. “Temos disponíveis diversos tipos de participação e envolvimento, o difícil será escolher!” Estão a decorrer estes projectos: acções de plantação coletiva ou individual (Plantar Lousada); limpeza e monitorização de rios e ribeiras (Lousada Guarda Rios); registo e proteção de árvores de grande porte (Gigantes Verdes); registo e monitorização de ninhos (Casa-Ninho) e actividades de educação ambiental gratuitas (BioLousada).


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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