O município está a deixar crescer a vegetação espontânea em parques e jardins, separadores ou bermas de estradas, canteiros municipais e em bordaduras de edifícios para proteger os insectos polinizadores. Mas esta é apenas uma das coisas que Lousada está a fazer para aumentar a biodiversidade do concelho.
No início deste mês de Março, a autarquia anunciou que deixou de cortar a relva e que assume a vegetação espontânea nos espaços verdes que foram devidamente assinalados com placas identificadoras.
Assim, placas amarelas espalham-se por Lousada, com uma mensagem: “Não estamos a cortar a relva… para alimentar as abelhas! Obrigado.”
Segundo o programa da autarquia “Lousada Ambiente”, “a vegetação silvestre espontânea, muitas vezes considerada desagradável à vista ou ‘inútil’, é fundamental para a vida selvagem, nomeadamente para os insetos polinizadores (como as abelhas), dos quais depende toda a vida na Terra”.
Lousada quer dar o seu contributo para travar o declínio dos insectos polinizadores, causado pela pressão das atividades humanas e perda de habitat selvagem.
A paragem do corte da vegetação espontânea, que permite o crescimento de flores como os dentes-de-leão e as margaridas, está a acontecer em canteiros municipais, bordaduras de edifícios e espaços de lazer, parques e jardins, separadores ou bermas de estradas, faixas ajardinadas, entre outros.
Segundo explicou à Wilder Milene Matos, do Sector de Conservação da Natureza e Educação Ambiental, Lousada tornou-se um município “amigo da biodiversidade” em 2015, através da Estratégia Municipal de Sustentabilidade.
“No caso particular dos polinizadores começou-se pela abolição do uso do glifosato em todos os espaços geridos pela autarquia. Depois temos vindo a instalar hotéis e abrigos para insetos, mas principalmente a gerir todo o território de forma a permitir compatibilizar a conservação da natureza com as atividades humanas, beneficiando áreas de maior valor ecológico e fomentando a conetividade da paisagem para a fauna e a flora, a várias escalas – incluindo a dos polinizadores.”
Os polinizadores, como as abelhas e abelhões, beneficiam de um pacote de medidas que inclui a suspensão do corte da relva mas não só.
O município faz sementeira de prados apícolas, planta espécies melíferas ou aprazíveis para os polinizadores, instala “hotéis” para insetos e sebes vivas ou sebes de madeira morta (que funcionam como abrigos naturais para uma vasta comunidade de insetos), reforça a rede municipal de charcos para a vida selvagem (que inclui a beneficiação da vegetação aquática ou marginal e a monitorização da qualidade ecológica do espaço, garantindo condições de reprodução e alimentação) e combate as espécies exóticas invasoras.
Além destas medidas, Lousada está a fomentar a vegetação nativa e a melhorar o estado ecológico da paisagem através, por exemplo, da plantação de floresta nativa, limpeza e restauro ecológico de cursos de água e galeria ripícola e remoção de entulheiras.
Estas acções implicam “uma vasta equipa e de custos de implementação que procuramos cobrir com financiamento europeu e nacional de tipologia variada”.
Milene Matos explica que todas estas medidas para aumentar a biodiversidade surgiram como resposta à “enorme pressão humana e descaracterização” do concelho, que é densamente habitado (cerca de 500 habitantes por km2).
“A cada ano, Lousada perde uma média de cerca de sete hectares de áreas verdes. Constatou-se o óbvio: com a degradação dos ecossistemas, a biodiversidade não pode existir e os serviços ecológicos ficam comprometidos, o que traz repercussões na qualidade de vida e na saúde de todos nós. A mudança é urgente, a todos os níveis (…). As autarquias podem, e devem, operar à escala local e apelar à mudança individual.”
Um dos grandes passos de conservação, segundo Milene Matos, foi a aprovação do Regulamento Municipal de Gestão de Arvoredo e dos Espaços Naturais do Município de Lousada. Este documento “protege não só as árvores de grande porte do concelho, um habitat natural para vastas comunidades de insetos, como manchas e bosquetes de importância conservacionista, seja em terrenos públicos ou privados”.
Mas é possível ir mais longe. Recentemente foi estabelecida oficialmente a Paisagem Protegida Local do Sousa Superior e está a ser criada uma Rede Municipal de Micro-Reservas para a conservação da natureza. “Estas visam a proteção de pequenos espaços ou núcleos populacionais importantes, à micro-escala, por todo o concelho.”
Tudo isto só foi possível graças “à forte adesão da comunidade a todo o tipo de iniciativas que fomos disponibilizando”.
Neste momento, os munícipes podem participar na melhoria da biodiversidade local de várias maneiras. “Temos disponíveis diversos tipos de participação e envolvimento, o difícil será escolher!” Estão a decorrer estes projectos: acções de plantação coletiva ou individual (Plantar Lousada); limpeza e monitorização de rios e ribeiras (Lousada Guarda Rios); registo e proteção de árvores de grande porte (Gigantes Verdes); registo e monitorização de ninhos (Casa-Ninho) e actividades de educação ambiental gratuitas (BioLousada).
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