Foto: Bruno/Wiki Commons

Florestas urbanas: O segredo para uma cidade mais verde e sustentável?

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Neste novo artigo da série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo fala-nos sobre o poder de cada um de nós para fazer a diferença no ambiente urbano que nos rodeia. Juntos, podemos construir um futuro mais sustentável e equilibrado para todos.

As cidades têm sido símbolo de desenvolvimento, progresso e inovação. No entanto, por detrás de um prédio imponente e de ruas movimentadas, muitas vezes esconde-se um vazio verde, uma lacuna na conexão entre a vida urbana agitada e a natureza serena. Será que não há maneira de transformar este cenário cinzento e de cimento em algo mais vibrante e cheio de vida?

Florestas urbanas: um refúgio no caos urbano

À medida que o mundo enfrenta desafios ambientais cada vez mais urgentes, as florestas urbanas assumem um papel importante na procura de soluções sustentáveis.

À primeira vista, pode parecer contraditório pensar em vastas áreas de árvores e vegetação exuberante dentro das cidades. No entanto, ao explorarmos um pouco mais, torna-se evidente que as florestas urbanas desempenham um papel multifacetado.

Estes espaços verdes no coração das cidades contribuem para a redução dos impactos das alterações climáticas, mas também promovem a saúde física e mental das comunidades urbanas. Além disso, são áreas onde a natureza persiste, proporcionando beleza estética e servindo como excelentes refúgios para a fauna e a flora nativas, promovendo a biodiversidade no meio do betão e do alcatrão das cidades.

Mãe e filho no Parque Florestal de Monsanto, Lisboa. Foto: Jules Verne Times Two/Wiki Commons

Em Portugal já existem algumas florestas urbanas exemplares que servem como modelos inspiradores para outras cidades, como é o caso do Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, um dos maiores parques urbanos da Europa.

O Parque da Cidade, no Porto, o Parque da Devesa, em Vila Nova de Famalicão, o Parque Verde do Mondego em Coimbra, o Parque da Ponte em Braga, o Parque da Cidade de Aveiro, e o Parque Aquilino Ribeiro, em Viseu, são outros exemplos de grandes espaços verdes dentro de contextos urbanos que podem ser considerados florestas urbanas e que contribuem significativamente para a qualidade de vida dos residentes locais.

Outros casos, como o Parque Natural do Alvão, em Vila Real, o Parque Natural de Sintra-Cascais, o Parque Natural da Arrábida, que abrange Setúbal, Palmela e Sesimbra, o Parque Natural da Ria Formosa, em Faro, a Mata Nacional do Choupal, em Coimbra, a Mata Nacional do Buçaco, na Mealhada, a Mata Nacional de Leiria e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, em Aljezur, são áreas naturais protegidas que incluem partes integradas nas áreas urbanas.

Mata Nacional do Buçaco. Foto: Ines S./Wiki Commons

Também o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o único parque nacional de Portugal e uma das áreas protegidas mais importantes do país, reconhecido pelos seus ecossistemas únicos e paisagens deslumbrantes, não poderia ficar fora desta lista.

Jardins particulares, a ligação vital às florestas urbanas

Por outro lado, embora numa escala menor e a um nível mais íntimo, os nossos jardins particulares, bem planeados e cuidados, também podem contribuir para esse conceito mais abrangente.

Ao criar um ambiente mais natural e biodiverso nos nossos quintais e jardins, estamos a promover a saúde do ecossistema local e a atrair a vida selvagem, ao mesmo tempo que oferecemos a nós próprios um refúgio tranquilo de descanso. Os nossos jardins particulares também desempenham um importante papel na expansão da rede verde das cidades, ao contribuir para a criação de corredores verdes.

Flores numa varanda, na cidade. Foto: Bruno/Wiki Commons

Os corredores verdes ligam as florestas urbanas aos espaços naturais mais pequenos, como parques e jardins particulares, e desempenham um papel fundamental na criação de uma rede contínua de habitats para a vida selvagem e para a promoção da biodiversidade.

Estas passagens verdes funcionam como verdadeiras pontes ecológicas, permitindo que animais como pássaros, borboletas, abelhas e pequenos mamíferos se desloquem livremente entre as diferentes áreas verdes da cidade, em busca de alimento ou de locais de refúgio e de nidificação. As plantas, por sua vez, podem estabelecer corredores de dispersão de sementes, contribuindo para a regeneração natural do ecossistema local e a expansão de áreas verdes.

Caixa-ninho para aves numa árvore. Foto: Benjamin Balazs/Pixabay

Como podemos contribuir para fortalecer e expandir a rede verde dentro das cidades?

Optar por plantas nativas nos nossos jardins é uma maneira eficaz de promover a biodiversidade e apoiar a vida selvagem local. Em Portugal, existe um vasto leque de espécies nativas ideais para jardins. Na série ”O que procurar: espécies botânicas” encontra informações sobre um inúmeras plantas nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu espaço verde. Estas fornecem alimento, abrigo e habitat para uma variedade de insetos benéficos, pássaros e outros animais.

Em particular, escolher espécies que florescem ao longo do ano e que são atrativas para os insetos polinizadores, como borboletas e abelhas, contribui para a vitalidade dos ecossistemas urbanos.

Além disso, podemos adotar práticas de jardinagem sustentável, como o uso de composto orgânico para fertilizar o solo, o aproveitamento da água da chuva para a rega e a redução do uso de pesticidas e herbicidas químicos.

Borboleta azulinha-comum. Foto: Charles J. Sharp/Wiki Commons

Com a instalação de comedouros e bebedouros para os pássaros, por exemplo, e a preservação de espaços com vegetação nativa florida e mais densa para atrair e sustentar a vida selvagem local, estamos a criar habitats acolhedores nos nossos jardins.

Já publiquei anteriormente alguns textos que o ajudarão a criar habitats para a vida selvagem:

Ao implementar estas práticas em jardins particulares, podemos desempenhar um papel significativo na criação de corredores verdes e na promoção da biodiversidade dentro das cidades.

Construir um futuro mais sustentável e equilibrado

Introduzindo mais áreas verdes nas cidades, não estamos apenas a adicionar beleza estética ao ambiente urbano, mas também a promover e a preservar a biodiversidade, a garantir a sustentabilidade e o equilíbrio dos ecossistemas urbanos.

Não nos podemos esquecer que as árvores desempenham um papel importante na melhoria da qualidade do ar e na redução do calor. Absorvem dióxido de carbono, ajudam a purificar o ar e também fornecem sombra e frescura natural, combatendo o fenómeno das “ilhas de calor” que tanto afeta as grandes cidades.

Cada pequena ação conta! Cada um de nós tem o poder de fazer a diferença no ambiente urbano que nos rodeia. E juntos podemos construir um futuro mais sustentável e equilibrado para todos.

Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrar um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.

Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).


Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

Para acções de consultoria, pode contactá-la no email [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.

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