Fotos: Hugo Marques

Hugo segue atentamente o dia-a-dia de um casal de poupas que fez ninho no telhado

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A casa dos pais de Hugo Marques fica em Pontes, Setúbal, numa zona rural, e por estes dias o telhado serve de abrigo a quatro ou cinco pequenas poupas, alimentadas pelos progenitores com as presas mais variadas.

Sempre que tem tempo, Hugo Marques segue atentamente este ritual de alimentação e vai capturando o quotidiano das duas poupas em fotografias, numa espécie de diário visual. Com 43 anos, trabalha como mestre e proprietário de uma empresa de observação de golfinhos em Setúbal.

“Entre gafanhotos, lagartas, casulos de lagarta e até cobras-cegas ou cobras de pernas tridáctilas, tenho fotos das mais variadas espécies capturadas pelo casal, e inclusivé fotos do ‘casalinho’, cada um com a sua especialidade de comida para as crias em simultâneo”, escreveu à Wilder. “Pelo que percebi, aqui não é só o macho que vem trazer comida, pois a fêmea também anda diariamente em busca de comida para as crias.”

A poupa (Upupa epops) é uma espécie de ave que faz justiça ao nome, pois exibe uma poupa vistosa, e é facilmente identificada por aquela e pelas riscas pretas e brancas das asas. Pode ser encontrada por todo o Portugal Continental, embora a norte se vejam quase só na Primavera e Verão, e também ocorre no arquipélago da Madeira.

No Alentejo, segundo o portal Aves de Portugal, estas aves são bastante comuns. Em casa dos pais de Hugo, este começou a seguir e a fotografar o casal de poupas que nidifica no telhado há quase quatro anos. “Na altura nem sabia que elas podiam fazer ninho num sítio assim”, conta este leitor. “Desde aí que tenho acompanhado todos os anos as suas movimentações diárias em busca de alimento para as crias.”

Mas foi já este ano que conseguiu captar o quotidiano das duas poupas com mais qualidade, depois de no último Natal ter investido numa máquina melhor que já lhe andava a fazer falta para o trabalho.

Um mês mais cedo

“Este ano começaram a fazer o ninho logo no início de Fevereiro; houve uns dias mais quentes este ano entre os finais de Janeiro e os primeiros dias de Fevereiro e elas vieram mais cedo”, apercebeu-se Hugo Marques. “Nos anos anteriores chegavam normalmente entre fins de Fevereiro e o início de Março.”

“Assim que começam a trazer todo tipo de alimento no bico, já sei que as crias já nasceram.” E se desta vez as poupas repetirem a estratégia dos últimos dois anos, não vão faltar oportunidades para tirar boas fotografias desses momentos. É que pelo menos nos últimos dois anos o casal não se ficou por apenas uma ninhada. “Logo depois que as primeiras crias saíram do ninho, elas continuaram a entrar no buraco do telhado, e cerca de um mês, um mês e meio depois, começaram novamente a trazer comida. Soube logo que já havia crias novamente.”

Não perturbar

Mas o facto de Hugo fotografar as idas e vindas destas hóspedes não impede que todos tomem os devidos cuidados para não prejudicar as crias, pelo que nem têm a certeza sobre o número de pequenas aves; serão quatro ou cinco. “Um dos cuidados que temos é não utilizar o sótão neste período para não as perturbarmos. Quando é mesmo necessário ir ao sótão, não nos aproximamos nem tentamos ir ver onde está o ninho.”

De resto, a presença humana não parece incomodar as poupas, que prosseguem com a tarefa de cuidar das pequenas aves até que estas estejam prontas para deixar o ninho. “Elas fazem a vida delas normalmente sem interferência humana.” O casal mostra aliás alguma curiosidade quanto ao seu observador humano: “estou por vezes a fotografar e elas até ficam curiosas a olhar para mim e logo de seguida vão alimentar as crias normalmente.”

Em breve já deverá ser possível ver as crias a sair do ninho, adianta Hugo Marques, que lá estará bem atento para captar o momento.


Saiba mais.

Recorde o casal de poupas que decidiu fazer ninho no forno de Carlos Pacheco.

E se tiver uma boa história de Primavera para nos contar, escreva-nos para [email protected].

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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