Foto: Carmen B. de los Santos/Creative Commons license Attribution-NonCommercial 4.0-International

Esta quarta-feira, pela primeira vez, comemorou-se o Dia Mundial das Ervas Marinhas

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A Wilder entrevistou a investigadora Carmen B. de los Santos, do centro de investigação CCMAR, e dá-lhe a conhecer estas plantas que formam vastas pradarias debaixo de água, importantes por vários motivos.

Adoptado em Maio do ano passado, o novo Dia Mundial das Ervas Marinhas chama a atenção para “a necessidade urgente de aumentar a consciencialização e facilitar acções para conservação deste tipo de vegetação”, indica numa nota publicada esta quarta-feira a ONU. Com efeito, segundo a Organização das Nações Unidas, em cada ano perde-se 7% deste habitat marinho em todo o mundo.

Quando têm as condições para isso, estas plantas que são encontradas em águas rasas, “desde os trópicos até ao círculo ártico”, formam vastas pradarias onde se alimentam e abrigam milhares de espécies. Mas não só, pois são grandes sequestradoras de carbono e ajudam a purificar as águas, entre outros benefícios.

Erva marinha Cymodea nodosa. Foto: Carmen B. de los Santos/Creative Commons license Attribution-NonCommercial 4.0-International

Em Portugal, as ervas marinhas podem ser encontradas em várias zonas do país. A Wilder falou com Carmen B. de los Santos, investigadora no CCMAR – Centro de Ciências do Mar, ligado à Universidade do Algarve, que explica que plantas são estas e porque são tão importantes.

Wilder: O que é uma erva marinha?

Carmen B. de los Santos: Uma erva marinha é uma planta angiospérmica (ou seja, plantas com flores) especializada, que se adaptou à vida nas zonas marinhas costeiras. Formam prados densos em áreas rasas e protegidas, ao longo da costa. Por vezes são confundidas com as algas marinhas, mas são diferentes.

Existem cerca de 60 a 70 espécies de ervas marinhas que pertencem a quatro famílias (Posidoniaceae, Zosteraceae, Hydrocharitaceae e Cymodoceaceae), todas da ordem de Alismatales (no clade das monocotiledóneas).

Aspecto de pradaria marinha, na Ria Formosa. Foto: Carmen B. de los Santos/Creative Commons license Attribution-NonCommercial 4.0-International

As ervas marinhas evoluíram de plantas terrestres, que recolonizaram o oceano há 70 a 100 milhões de anos. O nome de “ervas” é porque a maioria apresentam folhas longas e estreitas, que crescem por extensão de rizomas e muitas vezes se espalham por grandes “prados” que parecem prados terrestres; muitas espécies assemelham-se superficialmente a gramíneas terrestres da família Poaceae.

W: Que espécies de ervas marinhas ocorrem em Portugal e em que zonas?

Carmen B. de los Santos: Existem três espécies de ervas marinhas em Portugal: Zostera noltei, Zostera marina e Cymodocea nodosa

A Zostera noltei encontra-se na Ria de Aveiro, estuário do Mondego, estuário o Tejo, Estuário do Sado, estuário do Mira, Ria de Alvor, estuário do Arade, Ria Formosa, e no estuário do Guadiana.

Erva marinha Zostera noltei. Foto: Carmen B. de los Santos/Creative Commons license Attribution-NonCommercial 4.0-International

Já a Zostera marina encontra-se na Ria de Aveiro, lagoa de Óbidos, Estuário do Sado, e na Ria Formosa.

Quanto à Cymodocea nodosa, pode ser observada no Estuário do Sado, Ria Formosa, e na Madeira.

W: Porque é que estas plantas precisam de ajuda?

Carmen B. de los Santos: As ervas marinhas estão sujeitas a várias ameaças ambientais devido à actividade humana. Por exemplo, o desenvolvimento e a construção costeiras, actividades de navegação pouco respeitosas com o meio natural, uma baixa qualidade da água devido à poluição, a alteração do leito ou da margem dos estuários, e as espécies invasoras, entre outras.

Pradaria marinha, na Ria Formosa. Foto: Carmen B. de los Santos/Creative Commons license Attribution-NonCommercial 4.0-International

W: Qual é a importância das ervas marinhas?

Carmen B. de los Santos: As pradarias de ervas marinhas fornecem uma série de benefícios para as pessoas e para o planeta:

– actuam como viveiro e fonte de alimento para uma grande variedade de espécies marinhas, e também lhes fornecem abrigo e refúgio, sendo portanto ecossistemas que suportam uma alta biodiversidade;

– muitas das espécies que vivem nas pradarias marinhas têm interesse comercial (por exemplo, peixes da família dos esparídeos ou bivalves como as amêijoas) e outras são espécies protegidas, como por exemplo o cavalo marinho;

– protegem as costas da erosão e das inundações, absorvendo a energia das ondas;

– produzem oxigénio e limpam o oceano, absorvendo os nutrientes poluentes produzidos pela atividade humana;

– fazem com que a água esteja mais limpa de agentes patogénicos que causam doenças em peixes e humanos;

– sequestram grandes quantidades de carbono que armazenam nos sedimentos onde crescem, contribuindo desta forma para a mitigação das alterações climáticas.


Saiba mais.

Recorde aqui um estudo que traz alguma esperança sobre o futuro das pradarias marinhas na Europa, publicado em 2019.

Conheça também três benefícios prestados pelas ervas marinhas no Estuário do Sado e noutros locais onde habitam.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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