O visco, essa planta porventura mágica conhecida de todos os fãs de Obelix e Asterix, é o alvo de um novo desafio lançado pela equipa da Lista Vermelha da Flora Vascular. A Wilder falou com o coordenador técnico do projecto, André Carapeto, e explica-lhe o que fazer para participar.
Afinal, há ou não visco em Portugal? Esta é uma das perguntas para as quais a equipa da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, anda em busca de resposta. O projecto resulta de uma parceria entre a Sociedade Portuguesa de Botânica e a Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação (Phytos), que andam à procura de informação sobre um total de 621 espécies-alvo.
No caso do visco, uma planta relativamente fácil de identificar mesmo por quem não é especialista, o desafio é para que todos se armem em detectives e tentem encontrar esta planta em seu redor – mais precisamente, olhando para cima: “O visco é inconfundível, pois forma ‘bolas verdes’ nos ramos das árvores”, explica André Carapeto.
Na verdade, trata-se de uma planta hemiparasita. Ou seja, acrescenta o coordenador técnico da Lista Vermelha, “parasita a planta hospedeira, pois quando jovem retira nutrientes dos seus ramos, mas também possui clorofila, pelo que pode produzir o seu próprio alimento em adulto”.
E embora seja mais fácil de encontrar no Inverno, altura do ano em que “as árvores de folha caduca estão despidas”, nada como abrir bem os olhos e tentar encontrar uma de duas espécies sobre as quais existem registos históricos da sua existência em Portugal. As duas não são fáceis de distinguir.
Então, o que fazer ao encontrar aquilo que talvez seja visco? “Caso alguém observe um suspeito, teria de nos enviar uma foto e um kml do google earth (ou coordenadas gps) do local. A foto para confirmarmos se vale a pena irmos ao local e o kml ou as coordenadas, para lá chegarmos”, adianta.
Uma destas duas plantas é a Viscum album, que foi pela última vez identificada em 1987, na Beira Litoral, e que ocorreria no Litoral Atlântico. Para esta espécie, conhecida em Portugal como visco branco, existem registos históricos no Minho e na Beira Litoral. Mas para já todos estes locais foram visitados pela equipa do projecto da Lista Vermelha “sem sucesso”.
O mesmo aconteceu com a Viscum cruciatum, também chamada de visco-das-oliveiras, para a qual a observação mais recente em território português é ainda mais antiga: remonta a 1958, na zona de Portalegre. Esta espécie costumava encontrar-se em olivais antigos nessa região.
De uma forma geral, adianta André Carapeto, estas duas espécies costumam ocorrer em habitats muito variáveis: “Desde pomares antigos ou abandonados, uma vez que em pomares com as práticas actuais deverá ser impossível encontrá-las, e também carvalhais e galerias ripícolas [nas margens dos rios].”
Na verdade, pensa-se que o visco poderá estar desaparecido de território português, o que torna o desafio ainda maior. Este eventual desaparecimento “poderá estar relacionado com a diminuição do número de aves dispersoras de sementes [destas plantas], poderá estar relacionado com alterações nas práticas de gestão dos pomares, ou poderá resultar de outras causas não compreendidas”, adianta o coordenador técnico.
O Viscum album ocorre na Europa, Norte de África e Centro e Sul da Ásia. Já o Viscum cruciatum é apontado como ocorrendo no Sudoeste da Península Ibérica, Norte de África, Médio Oriente, Centro e Sul da Ásia. Em Espanha, é conhecido por exemplo na região da Andaluzia, no sul do país.
[divider type=”thin”]Saiba mais.
Descubra mais aqui sobre a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental e recorde o que anda a equipa deste projecto a fazer nos herbários.
E se encontrar um ‘suspeito’ de visco, poderá escrever para estes contactos.