Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.
Um espaço exterior ou interior com pouca luz são sempre um desafio quando se pretende instalar um jardim. Mas nada é impossível. Conseguimos criar um ambiente agradável e cheio de vida sem a presença direta de luz solar. Além disso, muitas das plantas que se adaptam a estes ambientes não são tão exigentes como as plantas de luz.
Plantas de luz, de sombra e de meia-sombra
As plantas de luz ou de pleno sol são aquelas que crescem naturalmente em locais com muita luz para que possam realizar a fotossíntese, processo pelo qual produzem o seu próprio alimento, e assim continuarem com um aspecto saudável e bonitas. Todavia, nem todas as plantas precisam de grandes quantidades de luz solar para se desenvolver e sobreviver.
Existem inúmeras espécies que gostam de estar em contacto direto com o sol apenas algumas horas por dia, preferencialmente no período da manhã ou do fim da tarde, quando a intensidade do sol é menos forte – são as plantas de meia-sombra. E há outras que têm como habitat natural a sombra total – plantas de sombra. Estas apenas precisam de luz indireta para se desenvolverem.
As plantas de sombra e de meia-sombra precisam de luz para crescer, mas em menor quantidade e intensidade do que as espécies de luz ou de pleno sol. Isto porque possuem adaptações para sobreviver em ambientes com menos luz, desde uma maior capacidade de absorverem nutrientes do solo a uma maior tolerância às temperaturas mais baixas.
Desde logo, têm folhas maiores e mais finas, adaptação que lhes permite aumentar a área de captação da luz solar, e apresentam uma coloração mais escura, o que ajuda na absorção daquela. Quando estão expostas a condições de alta luminosidade, estas espécies têm uma menor taxa de fotossíntese, mas são porém mais eficientes na utilização da luz disponível.
Em contrapartida, as plantas de luz possuem folhas de menores dimensões e mais espessas, para evitar a perda excessiva de água por transpiração. Além disso, costumam ter uma coloração mais clara, o que as ajuda a refletir a luz solar.
Estas plantas realizam fotossíntese de forma mais intensa do que as suas congéneres de sombra, mas não necessariamente de forma mais eficiente. A intensidade da luz pode danificar as células da planta, levando à perda de eficiência fotossintética, e por isso estas espécies possuem adaptações para se protegerem da luz intensa. Exemplos? Cutículas mais espessas e pigmentos fotoprotetores, como as xantofilas e os carotenos.
Como cuidar das plantas de sombra e de meia-sombra?
As plantas de sombra ou de meia-sombra podem ser plantadas sob a sombra das árvores e de outras plantas maiores, que crescem ao seu redor e que não deixam passar grandes quantidades de luz por entre a sua folhagem.
A maioria não precisa de ser regada com frequência e pode ser facilmente mantida em vasos e em ambientes interiores, desde que esses espaços sejam arejados e protegidos de correntes de ar. Por isso, são perfeitas para quem mora em apartamentos.
No exterior, estas plantas são ideais para as colocarmos em canteiros e em zonas do jardim onde haja muros ou paredes que impeçam a incidência do sol, o que torna esses espaços mais húmidos e sombrios, onde as espécies mais comuns não se conseguem desenvolver plenamente.
Outra condição que deve ser tida em consideração é o tipo de substrato, que para estas plantas deve ser poroso, para se garantir uma boa drenagem, e também rico em matéria-orgânica. A fertilização regular do solo é fundamental para que cresçam de forma saudável.
Além disso, o excesso de água pode prejudicar o desenvolvimento destas espécies, daí ser importante garantir uma rega equilibrada. Estas plantas necessitam de menos rega, uma vez que os locais onde crescem são geralmente mais frescos.
Por outro lado, as plantas de sombra e de meia-sombra têm um crescimento mais lento quando comparadas com as plantas de luz, pelo que requerem menos manutenção. No meu texto “Como cuidar das plantas durante o Verão?”, encontra algumas dicas para regar na medida certa e outros cuidados a ter para manter as suas plantas sempre saudáveis.
Fetos, avencas e …
De entre as plantas disponíveis, existe um grande leque de espécies adaptadas a condições de sombra e de meia-sombra, como os fetos, as avencas, a costela-de-adão (Monstera deliciosa), os encefalartos (Encephalartos villosus e Encephalartos horridus), zamia (Zamia furfuracea), entre outras, cujas folhagens são particularmente interessantes.
Porém, também existem várias plantas adaptadas a condições de luminosidade reduzida que ostentam delicadas e belas flores, como acontece com os agapantos (Agapanthus africanus), as hortenses (Hydrangea spp.) e os antúrios (Anthurium spp.), por exemplo.
As nativas
Em Portugal, existem algumas espécies nativas adaptadas a estas condições de sombra e de meia-sombra. Nas espécies de meia-sombra, embora podendo tolerar alguma exposição solar, destacam-se:
- Feto-dos-montes (Pteridium aquilinum subsp. aquilinum)
- Polipódio (Polypodium vulgare)
- Folhado (Viburnum tinus)
- Medronheiro (Arbutus unedo)
- Rododendro (Rhododendron ponticum subsp baeticum)
- Sabugueiro (Sambucus nigra)
- Pilriteiro (Crataegus monogyna)
- Gilbardeira (Ruscus aculeatus)
- Sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus)
- Aveleira (Corylus avellana)
Já no que respeita a outras espécies de meia-sombra e também espécies de sombra, estas são plantas nativas que podemos ter num espaço verde:
- Feto-real (Osmunda regalis)
- Avenca (Adiantum capillus-veneris)
- Azevinho (Ilex aquifolium)
- Feto-pente (Blechnum spicant subsp. spicant)
- Feto-fêmea (Athyrium filix-femina),
- Teixo (Taxus baccata)
- Azereiro (Prunus lusitanica)
- Carvalho-português (Quercus faginea)
- Hipericão-do-gerês (Hypericum androsaemum)
- Pervinca (Vinca difformis)
As exóticas
Além das espécies nativas existe um grande número de espécies exóticas, com diferentes cores de folhas e com bonitas flores, que também se adaptam bem a essas condições, tais como: o louro-do-japão (Aucuba japonica), a uva-do-oregon (Mahonia aquifolium), a ajuga (Ajuga reptans), o agapanto (Agapanthus africanus), as hortenses (Hydrangea spp.), a rosa-do-japão (Kerria japonica), os brincos-de-princesa (Fuchsia hybrida), a relva-de-sombra (Ophiopogon japonicus), a camélia (Camellia japonica), as espécies do género Hosta, Skimmia, entre outras.
Entre as espécies exóticas, muitas também são perfeitas para o interior das nossas casas, tais como os antúrios (Anthurium spp.), o lírio-da-paz (Spathiphyllum wallisii), as begónias (Begonia spp.), a palmeira-areca (Dypsis lutescens), a espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata), a lança-de-são-jorge (Sansevieria cylindrica), a clívia (Clivia miniata), a planta-de-oração (Maranta leuconeura), as bromélias (Bromelia spp.), o Clorofito (Chlorophytum comosum), as alegria-da-casa (Impatiens spp.), a violeta-africana (Saintpaulia ionantha) e o incenso (Plectranthus spp.).
Com este leque de opções falta apenas olhar para aquele cantinho sombrio do jardim ou aquele espacinho dentro de casa que está a necessitar de transformação, e pensar de que forma o poderá tornar mais agradável.
Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrar um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.
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Ao longo de mais de dois anos Carine Azevedo deu-nos a conhecer, todas as semanas, novas plantas para descobrirmos em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
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