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A história de uma fotografia vencedora e da rã acrobata

27.06.2016

Afonso Petronilho tem 13 anos e gosta de calçar as botas de borracha e andar no meio de riachos à procura de insectos ou anfíbios. Este mês o entusiasmo deste naturalista de Mira, que terminou agora o 8º ano de escolaridade, foi reconhecida, ao vencer o Concurso Nacional de Fotografia “Parques e Vida Selvagem”, na categoria Jovem Fotógrafo. Conheça a história por detrás desta rela acrobata.

 

Afonso Petronilho. Foto: João Petronilho
Afonso Petronilho. Foto: João Petronilho

 

Wilder: Como foi o teu dia de campo, no dia em que tiraste aquela fotografia?

Afonso Petronilho: Foi excelente. Gosto de calçar as botas de borracha e de caminhar dentro de água, à procura de insectos aquáticos ou anfíbios, de sentir os sons e os cheiros das zonas húmidas. Nesse dia, também observámos mergulhões-pequenos, patos-reais, galinhas-d’água, rãs-verdes, ovos de anfíbios, artémias, larvas de libelinhas e de outros insectos aquáticos.

 

W: Qual é a espécie protagonista da fotografia e o que estava a fazer?

AP: É uma Rela-comum (Hyla arborea), uma espécie de anfíbio que consegue trepar às plantas. Para isso, possui discos adesivos na extremidade dos dedos. Pode ser encontrada em charcos, lagoas, ribeiros e caniçais. Numa tarde, enquanto caminhávamos ao longo das margens de um charco temporário que eu e o meu pai costumamos visitar, a nossa atenção caíu sobre um pequeno animal que saltou à nossa frente e que de imediato identificámos como uma rela. Provavelmente andaria à procura de um parceiro para procriar, uma vez que estava na época de reprodução. Das várias fotos que tirei, esta foi das que mais me agradou. Curiosamente, ao fim do dia encontrámos outra Rela-comum mas não era igual às outras que temos observado. Tinha a pele cinzenta, o que foi uma alegria para nós. Eu nunca tinha observado esta coloração nesta espécie. Foi fantástico!

 

W: Tecnicamente, foi simples ou complicado conseguir esta imagem?

AP: Não foi nada de muito complexo. Tive de decidir rapidamente uma vez que a rela não se manteve mais do que alguns segundos naquela posição. Apenas tive tempo de fazer três fotografias. O mais dificil foi tentar focá-la antes dela saltar daquele pequeno ramo.

 

W: Soubeste logo que tinhas uma boa fotografia?

AP: Não tive logo a certeza, pois quando se fotografa um animal destes não se tem muito tempo entre cada fotografia para pensar na anterior. Só mais tarde, ao visualizar as fotos é que tive a noção que esta retratava uma ação relacionada com estilo de vida destes anfíbios, e isso agradou-me.

 

W: Como surgiu o teu gosto pela fotografia de natureza e desde quando fotografas?

AP: Fui criado numa casa florestal (Casa Florestal do Poço da Cruz) até aos 7 anos de idade, rodeado pela natureza, e acho que isso teve uma grande influência no tipo de opções e gostos que eu tenho hoje em dia, como por exemplo, na fotografia e no desenho. Acho que comecei a fotografar por volta dos nove anos, mas apenas ocasionalmente, tal como hoje em dia.

 

W: O que mais gostas de fotografar e porque é a natureza importante para ti?

AP: Basicamente, eu gosto de fotografar a natureza e tudo o que envolve. Não tenho para já uma preferência por algo em específico. A natureza sempre fez parte da minha vida e, para mim, ela representa não só a serenidade mas também a complexidade da vida e do mundo. A natureza dá-nos uma percepção diferente das coisas, mostra-nos algo que dificilmente se vê de outra forma, algo fantástico que devemos preservar e estimar.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui todos os vencedores do Concurso Nacional de Fotografia “Parques e Vida Selvagem”, promovido pelo Parque Biológico de Gaia.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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