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WWF alerta consumidores para declínio preocupante do camarão de Moçambique

04.07.2017

A organização WWF lançou recentemente um alerta para o declínio preocupante dos stocks de camarão de Moçambique. Por isso apela a uma moderação no consumo em Portugal, um dos países que mais importa estes camarões.

 

Actualmente, 82% do camarão capturado em Moçambique vem para a Europa, em especial para Portugal e Espanha, revela um relatório da WWF lançado a 30 de Junho.

Acontece que, “embora as populações de camarão de Moçambique tenham sido historicamente abundantes, encontram-se agora ameaçadas”, segundo um comunicado da WWF Portugal enviado ontem à Wilder.

A WWF apela aos consumidores europeus, especialmente da Península Ibérica, para fazerem escolhas informadas, apoiando, desta forma, “uma urgente melhoria na gestão desta pescaria”. Segundo a organização, “se nada for feito, a continuação da disponibilidade – e mesmo da sobrevivência – do recurso pode ficar em risco”.

“Quando compramos camarões provenientes de Moçambique em Portugal ou Espanha, influenciamos uma cadeia inteira que inclui cerca de 850.000 moçambicanos (20% da população), que dependem da pesca como fonte de rendimento ou subsistência”, diz Angela Morgado da WWF em Portugal.

Os maiores problemas são a sobre-pesca – com pesca de camarões juvenis e destruição dos habitats destes animais por causa da pesca de arrasto -, a pesca ilegal, as alterações climáticas e a poluição e destruição de mangais, “maternidades vitais para o camarão deste país”.

De acordo com o último relatório da WWF Um Caso de Estudo da pesca semi industrial e industrial do Camarão em Moçambique, a captura de camarão de Moçambique caiu de forma significativa na última década – de 9.000 para 1.800 toneladas na década anterior a 2012 – e algumas populações estão agora à beira do colapso.

Esta situação põe em risco a biodiversidade e os meios de subsistência das pessoas que vivem da pesca. A organização salienta que mais de 60% da população de Moçambique vive em áreas costeiras.

E não são apenas os camarões que causam preocupação. “A pesca de arrasto de camarão tropical causa mais mortes de tartarugas do que todas as outras actividades combinadas. Em Moçambique, cerca de 1.500 tartarugas marinhas afogam-se em redes todos os anos.”

A WWF propõe então que se tente reconstruir as populações marinhas, com defesos sazonais e de área, que se aposte na sensibilização do Governo, empresas e pescadores e que se melhorem os lucros, “investindo em instalações de congelação e frigoríficos para aumentar a qualidade do produto e o potencial de exportação”.

Para a WWF, os consumidores e empresas portuguesas e espanholas podem influenciar significativamente a situação em Moçambique, exigindo camarão sustentável. Os consumidores devem procurar camarão certificado pelo MSC ou ASC, ou verificar o guia de consumo de pescado da WWF.

“Se a procura continuar a crescer e a pesca não for bem monitorizada, as consequências podem ser devastadoras”, disse Angela Morgado. “A situação só se irá alterar se todos fizermos escolhas conscientes para fortalecer o futuro dos oceanos e os seus recursos, do mar ao nosso prato. Uma das melhores formas de o fazer é apoiar a produção sustentável nos países em desenvolvimento”, conclui.

Actualmente, Moçambique está a desenvolver um Projecto de Melhoria de Pescas, apoiado pela WWF, para avançar para a certificação Marine Stewardship Council (MSC) da sua frota industrial de águas profundas.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Pode ler aqui o relatório da WWF.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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