Um novo documento da Efsa-Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, divulgado esta quarta-feira, concluiu que os pesticidas neonicotinóides são uma ameaça tanto para as abelhas domésticas, como para as abelhas silvestres.
O relatório desta agência europeia, que analisou mais de 1.500 estudos sobre os efeitos de três grandes neonicotinóides sobre as abelhas, vai ser determinante para a votação dos Estados-membros da União Europeia (UE) sobre a proibição total do uso destes produtos nos campos agrícolas, lembra o The Guardian.
O assunto foi discutido pela última vez em Novembro passado, mas os Estados-membros não chegaram a uma conclusão unânime, e vai voltar a ser votado em breve.
Este tipo de pesticidas são usados como insecticidas e são quimicamente semelhantes à nicotina. Ao contrário de outros produtos do mesmo género, são absorvidos pelas plantas. Afectam o sistema nervoso central dos insectos, levando à sua paralisia e morte, e nas abelhas são acusados de levarem a perdas de memória e à diminuição de abelhas-rainha.
“A disponibilidade de uma quantidade tão grande de informação permitiu-nos produzir conclusões muito detalhadas”, sublinhou o responsável máximo pela unidade de pesticidas da Efsa, Jose Tarazona. “Há variabilidade nas conclusões, devido a factores como as espécies de abelhas, o objectivo do uso dos pesticidas e a rota de exposição (…), mas em geral o risco para os três tipos de abelhas está confirmado.”
Pela primeira vez, além das abelhas domésticas (‘honeybees’, em inglês), foram analisados também os efeitos de neonicotinóides sobre abelhas silvestres – várias espécies de abelhões e de abelhas solitárias – que até agora não tinham sido incluídos em avaliações europeias.
“Em muitos casos, as abelhas que andam em busca de alimento em colheitas tratadas [por estes produtos] nos campos, tal como na vizinhança, provavelmente serão expostas a níveis prejudiciais destes pesticidas”, afirmam os técnicos da agência europeia.
Isto porque, explicam, tanto o néctar como o pólen das plantas das colheitas tratadas contêm resíduos dos pesticidas. Estas substâncias chegam também às plantas ali perto, transportadas pelo vento, e podem contaminar os solos, onde se acumulam e passam para o pólen e o néctar de novas colheitas.
Abelhas são essenciais
Tanto as abelhas como outros polinizadores são essenciais para a produção de comida em todo o mundo, uma vez que deles dependem cerca de dois terços das colheitas.
Cientistas e agricultores têm alertado para a diminuição das populações de abelhas, que se considera que estão a ser gravemente atingidas por doenças, pela destruição dos habitats ricos em flores e ainda pela utilização generalizada de pesticidas neonicotinóides.
Actualmente, mais de um quarto dos abelhões da Europa – e quase uma em cada dez abelhas – estão em risco de extinção, segundo a Lista Vermelha das Abelhas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
O novo relatório da Efsa, agora divulgado, voltou a analisar três de cinco neonicotinóides utilizados a nível europeu, que já em 2013 tinham considerados como tendo riscos “inaceitáveis” para as abelhas: clotianidina, imidacloprida e tiametoxam. Nesse mesmo ano, dentro da UE, o uso destas três substâncias foi banido de culturas em campos abertos que se considera serem “atraentes para as abelhas”, como o milho e o girassol.
Segundo a Comissão Europeia, outro destes cinco neonicotinóides, a acetamipidra, foi considerado num outro relatório da Efsa como tendo baixo risco para as abelhas. Já a tiacloprida é candidata a substituição por ser considerada uma disruptora endócrina.
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