Assegurar que as culturas agrícolas e a indústria da madeira são sustentáveis ajudaria a reduzir grandes ameaças à vida na Terra, que colocam em risco uma parte importante dos anfíbios, aves e mamíferos, afirma uma equipa internacional de cientistas.
Esta é uma das conclusões de um artigo publicado na Nature Ecology & Evolution, assinado por cientistas de 54 instituições em 21 países e liderada por um grupo de trabalho dedicado à sobrevivência das espécies, no âmbito da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
A equipa desenvolveu uma nova métrica, baptizada de STAR, que permite medir como é que determinadas acções podem ajudar a travar a perda de biodiversidade.
“Durante anos, um grande impedimento para envolver as companhias, os governos e outros na conservação da biodiversidade foi a dificuldade de medir o impacto dos seus esforços”, afirmou o director-geral da UICN, Bruno Oberle, citado num comunicado da organização internacional. “Ao quantificar as suas contribuições, a nova métrica STAR pode unir todos estes actores com o objectivo comum de preservarem a diversidade da vida na Terra.”
Os cientistas aplicaram a nova métrica a todas as espécies de anfíbios, aves e mamíferos, grupos que já têm sido bastante avaliados quanto ao seu risco de extinção.
Descobriram que eliminar as ameaças para a vida selvagem ligadas às culturas agrícolas iria reduzir em 24% o risco global de extinção nestes grupos. Se o mesmo fosse feito na indústria madeireira, somava-se uma diminuição do risco de 16%. E acabar com o problema das espécies invasoras? Outros 10%.
Mas os ganhos com acções de conservação podem ser também avaliados. Por exemplo, o restauro de habitats importantes para espécies ameaçadas pode traduzir-se numa diminuição de 56% no risco mundial de extinção, segundo o mesmo estudo.
Brasil entre os cinco mais importantes
Quantas mais espécies são beneficiadas, em especial as que mais estão ameaçadas, mais elevado é o resultado. Assim, salvaguardar “áreas chave para a biodiversidade”, que representam apenas nove por cento da superfície terrestre, iria reduzir para quase metade o risco global de extinção (47%). Por outro lado, concluíram os cientistas, esse risco poderia descer quase um terço (31%) através da protecção da vida selvagem em apenas cinco países considerados megadiversos: Indonésia (7,1%), Colômbia (7%), México (6,1%), Madagáscar (6%) e Brasil (5,2%).
“Estamos no meio de uma crise de biodiversidade e os recursos são limitados, mas o nosso estudo mostra que o risco de extinção está concentrado em áreas relativamente pequenas com o maior número de espécies fortemente ameaçadas. A metodologia STAR permite-nos medir de forma consistente onde e como é que a conservação e o restauro podem ter o maior impacto”, explicou Louise Mair, da Universidade de Newcastle University, autora principal do artigo. “Ao mesmo tempo, a nossa análise mostra que as ameaças às espécies são omnipresentes e que a acção para travar a perda de vida na Terra deve acontecer em todos os países sem excepção.”
A nova métrica vai estar disponível para ser usada nas grandes negociações agendadas para 2021 no que respeita à natureza, indica também a UICN. Em causa estão o Congresso Mundial de Conservação que se deverá realizar em Setembro, em França. E também a 15ª Conferência das Partes da Convenção para a Diversidade Biológica, prevista para Kunming, na China.