A análise e recolha de novos dados a nível nacional, realizada pelo LIFE Aegypius Return, permitiu duplicar as estimativas anteriores, anunciaram os responsáveis deste projecto de conservação.
Os últimos dados recolhidos pelos diferentes parceiros do LIFE Aegypius Return, que está a trabalhar para a recuperação desta ave necrófaga em Portugal e Espanha, indicam que existem entre 78 a 81 casais nidificantes em território nacional, afirma a equipa do projecto numa nota de imprensa divulgada esta terça-feira.
Destes casais, um total de sete encontram-se no lado espanhol da fronteira, a menos de 1000 metros desta, considerando-se que “ecologicamente integram as colónias portuguesas.”
O abutre-preto (Aegypius monachus), que é o maior abutre da Europa, tem uma envergadura de asas de quase três metros. Foi classificado em 2005 como Criticamente em Perigo em Portugal. Após a sua extinção como espécie reprodutora no país, na década de 1970, o primeiro ninho em território nacional foi observado em 2010, no Parque Natural do Tejo Internacional.
Em 2022, estimava-se existirem apenas cerca de 40 casais nidificantes no país, recorda a equipa do LIFE Aegypius Return numa nota de imprensa, na qual adianta que “o elevado aumento deste número [agora revelado] é fruto de uma apurada prospecção de novos ninhos, monitorização e coordenação de dados de várias entidades”.
No entanto, o êxito reprodutor é ainda “relativamente baixo, comprometendo a continuidade da espécie a longo prazo”. Isto porque os casais contabilizados só tiveram 50 crias nascidas este ano, das quais apenas sobreviveram 35 a 37 pequenas aves. Feitas as contas, o sucesso reprodutor do abutre-preto em Portugal cifra-se em 0,47, indicam os responsáveis deste programa LIFE cofinanciado por fundos europeus, liderado pela Vulture Conservation Foundation.
“É objectivo do projecto garantir condições favoráveis à espécie para que, até 2027, este parâmetro aumente para um valor superior a 0,5”, adianta a equipa. A acontecer, isso significará que pelo menos metade das posturas resultam num juvenil voador sobrevivente até à idade adulta, assegurando “a renovação e a continuidade” desta espécie em Portugal.
Quatro colónias
Em território português, o abutre-preto está hoje presente em quatro colónias diferentes, todas elas ao longo da fronteira. Os dados recolhidos pelo projecto mostram que o Tejo Internacional, área protegida na região de Castelo Branco, se mantém como o maior núcleo reprodutor destas aves necrófagas, seguindo-se a Herdade da Contenda (Baixo Alentejo), a Serra da Malcata e o Parque Natural do Douro Internacional, na região de Miranda do Douro.
Douro e Malcata aumentam casais
No Douro Internacional, a colónia “mais limítrofe, isolada e frágil”, monitorizada pela associação Palombar juntamente com a delegação regional do Norte do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), teve este ano três casais que ali fizeram ninho, adiantam também os responsáveis do LIFE Aegypius Return. Esta terá sido a primeira vez que se registou aqui um número tão elevado de casais, desde que a espécie regressou à região em 2012.
Já a colónia da Serra da Malcata teve o maior aumento no número de ninhos conhecidos e de casais nidificantes identificados, entre as quatro colónias portuguesas. No ano passado tinham sido registados apenas dois casais nidificantes, enquanto que este ano esse total aumentou para 14, dos quais resultaram oito crias que sobreviveram.
“Embora se verifique um efectivo aumento no número de casais nidificantes nesta colónia, estes resultados demonstram principalmente a importância da coordenação de esforços de monitorização”, afirma a equipa do projecto LIFE.
“Em 2023, os técnicos e vigilantes do ICNF – Direcção Regional Centro e a Rewilding Portugal articularam as metodologias de prospecção e monitorização da espécie na Zona de Protecção Especial (ZPE) da Serra da Malcata, definidas conjuntamente no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return, tendo obtido impressionantes resultados”, descrevem, acrescentando que “o parceiro Associação Transumância e Natureza (ATNatureza) reforçou a prospeção de ninhos noutras regiões potencialmente adequadas à espécie, como, por exemplo, em Almeida e nos vales dos rios Coa e Águeda”.
Aumento de mais de uma dezena no Tejo Internacional
O Tejo Internacional é a região que alberga a maior colónia de abutre-preto em Portugal. Em 2023, ali foram registados um total de 44 a 46 casais nidificantes – cinco dos quais localizados do lado espanhol da fronteira – o que representa um aumento de mais de uma dezena de casais nidificantes conhecidos, indicam os responsáveis do projecto. “Nesta colónia foram recrutadas 20 a 22 crias para a população, cinco das quais nascidas nos ninhos em território espanhol.”
Foi no Tejo Internacional que o abutre-preto estabeleceu o seu primeiro ninho em Portugal após um desaparecimento de várias décadas, em 2010. A prospeção de novos ninhos e a monitorização em 2023 esteve a cargo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), contando ainda com o apoio da Quercus e dos vigilantes do ICNF – DR do Centro, que já asseguravam a monitorização da espécie, desde o seu regresso.
“A SPEA fez ainda a prospecção de habitats com condições favoráveis à espécie nas regiões de Serra de São Mamede, rio Sever, Serra das Talhadas, Vila Velha de Ródão e Serra de Penha Garcia. No entanto, nestas regiões não se confirmou a nidificação da espécie.”
Herdade da Contenda com 17 casais
Quanto à Herdade da Contenda, localizada na Zona de Protecção Especial de Mourão/Moura/Barrancos, dentro da Rede Natura 2000, acolhe a colónia mais a sul de Portugal. Também aqui se registou um aumento no número de ninhos conhecidos e ocupados por abutre-preto, indica a equipa.
Os trabalhos de monitorização estão a cargo da Liga para Protecção da Natureza (LPN) e contam com a colaboração da Herdade da Contenda e os vigilantes do ICNF – DR do Alentejo. Em 2022, esta colónia registou 10 casais nidificantes, número que aumentou agora para um total de 17 a 18 abutres, inluindo dois em território espanhol. Destes, resultaram 12 posturas e cinco crias voadoras.
Saiba mais.
Recorde a acção realizada em Junho no âmbito deste projecto, para a marcação de 15 abutres-pretos para serem seguidos por GPS .