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Abutre-preto. Foto: Bruno Berthemy/VCF

Saiba o que se fez este ano para conservar os abutres na Europa

30.12.2024

Reintrodução de aves, marcação de juvenis e reprodução em cativeiro foram alguns dos trabalhos que a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF, sigla em inglês) conseguiu fazer em 2024 para proteger estas aves na Europa. Aqui fica o balanço do ano que está quase a acabar.

Grifo (Gyps fulvus):

Grifo de pé numa rocha, de asas abertas
Grifo (Gyps fulvus). Foto: Emiliya Toncheva/Wiki Commons

Entre os destaques da VCF está o crescimento constante da população desta espécie na Sardenha, Itália, feito que beneficiou do projecto de reintrodução no Sul daquela região. Estas libertações, em parceria com o projecto LIFE Safe for Vultures, permitiu libertar na natureza 43 grifos em dois momentos diferentes; um terceiro grupo está numa instalação de aclimatação em Villasalto, prontos para serem reintroduzidos na natureza na próxima Primavera.

Na Croácia, a Fundação registou um aumento significativo na população reprodutora das ilhas Kvarner, passando de 130 para 150 casais reprodutores, um testemunho da importância do projecto LIFE SUPport.  

Quebra-ossos (Gypaetus barbatus):

Quebra-ossos nos Pirinéus, Espanha. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

A época de 2023-2024 foi a melhor de sempre no projecto de reprodução em cativeiro do quebra-ossos. Segundo a Fundação, 44 crias sobreviveram e passaram à fase de voo e 24 foram reintroduzidas na natureza, incluindo num novo local de reintrodução na Serra Nevada, maciço montanhoso na Andaluzia (Espanha).

As populações selvagens também estão de boa saúde, com os Alpes a registar um recorde de 98 casais reprodutores (que produziram 61 crias) e a Andaluzia com nove casais (quatro crias). A população ameaçada da Córsega duplicou de dois para quatro casais reprodutores.

Os esforços de conservação para o quebra-ossos foram reforçados com a elaboração de Planos de Acção para a espécie em França e Ibéria.

A Fundação destaca ainda a identificação de um novo local para reintrodução de quebra-ossos nas Montanhas Balcãs, na Bulgária, o que marca o início dos esforços de reintrodução naquela região.

Abutre-preto (Aegypius monachus):

Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

A população de abutre-preto em Portugal registou um importante aumento, existindo agora 110 casais distribuídos por cinco colónias, incluindo uma que foi descoberta este ano na Herdade do Monte da Ribeira, no concelho alentejano da Vidigueira, com 10 aves adultas.

O projecto LIFE Aegypius Return está a trabalhar no terreno para monitorizar estas aves e para assegurar que estas têm as melhores condições possíveis para prosperar, incluindo a manutenção dos seus ninhos.

Este mês, a associação Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural revelou que a colónia transfronteiriça de abutre-preto do Douro Internacional, a mais isolada e uma das mais frágeis do país, conta agora com 14 novos ninhos artificiais, que se juntam aos oito anteriormente instalados, somando um total de 22. 

E em Novembro quatro abutres-pretos foram reintroduzidos na natureza para ajudar a reforçar a colónia mais isolada do país, no Parque Natural do Douro Internacional.

No Verão, as equipas do projecto LIFE Aegypius Return marcaram 19 crias de abutre-preto com emissores GPS/GSM.

Em 2024 foram reintroduzidos na natureza sete abutres-pretos na região de Kresna Gorge, na Bulgária, no âmbito do projecto Bearded Vulture LIFE project. A mais recente monitorização da população local deu conta de entre 15 a 17 casais e cinco crias.

No ano que agora termina foi lançado um novo projecto dedicado a esta espécie, o LIFE Rhodopes Vultures. O seu objectivo é restaurar a população de abutre-preto e a cadeia trófica na região transfronteiriça entre a Bulgária e a Grécia.

Grifo-de-ruppell (Gyps rueppellii):

Grifo-de-ruppell. Foto: Lip Kee/WikiCommons

Criticamente em Perigo de extinção, esta espécie de abutre de África tem vindo a ser vista, nos últimos anos, na Península Ibérica. Segundo a VCF, esta espécie está, lentamente, a aumentar a sua área de distribuição de África para a Europa. “Para melhorar o nosso conhecimento sobre esta espécie rara, ajudámos a marcar dois indivíduos em Marrocos.”

Em 2021, no início de Setembro, um grifo-de-ruppell juvenil foi encontrado magro e debilitado em Vouzela. Depois de recuperado no CERVAS a ave foi devolvida à natureza em Outubro.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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