Outrora comuns em Inglaterra, as martas (Martes martes) são hoje um dos mamíferos mais ameaçados daquele país. Várias organizações juntaram-se para trazê-las de volta.
Em Agosto e Setembro deste ano, 18 martas foram capturadas perto de Inverness, na Escócia, e libertadas na Floresta de Dean, em Gloucestershire, numa localização remota e não tornada pública, foi revelado ontem.
Os conservacionistas esperam que estes animais se reproduzam, se espalhem e eventualmente se liguem a um grupo de 51 martas que foi reintroduzido no País de Gales entre 2015 e 2017.
A marta já foi comum no Reino Unido e Irlanda. Mas nos últimos 200 anos tem vindo a desaparecer por causa da perda de habitat, caça e controlo de predadores. O seu único bastião são as terras altas da Escócia.
Estima-se que restem apenas 20 martas em Inglaterra.
Trazer esta espécie icónica de volta é o grande objectivo de um projecto que juntou a Forestry England, o Gloucestershire Wildlife Trust, o Vincent Wildlife Trust e a Forest Research.
As martas são da mesma família que as lontras e as doninhas. Têm um tamanho semelhante ao de um gato doméstico, um corpo esguio, pêlo castanho e uma mancha creme na garganta. A cauda é comprida e felpuda.
Rebecca Wilson, da Forestry England, disse à BBC News que as martas têm um papel importante no “delicado equilíbrio” do ecossistema florestal. Este mamífero alimenta-se de frutos, fungos e de vários animais, incluindo o esquilo-cinzento (Sciurus carolinensis), uma espécie exótica que tem tido um grande impacto nas florestas por toda a Inglaterra. Os conservacionistas acreditam que uma redução dos esquilos-cinzentos vai ajudar a preservar as florestas antigas inglesas.
Catherine McNicol, do Gloucestershire Wildlife Trust, espera que este projecto dê à marta “a ajuda de que precisa para se tornar resiliente e prosperar”.
Para acompanhar a adaptação dos 18 animais libertados na natureza, a cada um foi colocado um colar transmissor que permite seguir os seus movimentos. A Forestry England vai trabalhar com voluntários, comunidades locais e organizações parceiras para monitorizar como é que os animais se estão a adaptar à floresta.
As organizações esperam que nos próximos dois anos mais martas sejam reintroduzidas no mesmo local.
Em 2018, o Plano Ambiental do Governo britânico para os próximos 25 anos declarou a reintrodução de espécies nativas como as lontras e os toirões como “crucial” para a recuperação da natureza. A marta é uma das 18 espécies de mamíferos terrestres mais ameaçados do Reino Unido.
“A marta não é só uma parte carismática e atractiva da fauna britânica, mas também um predador das florestas que tem um papel importante nas dinâmicas naturais dos ecossistemas florestais”, segundo o Gloucestershire Wildlife Trust.
“Estamos numa emergência de biodiversidade e conservar a vida selvagem que resta não é suficiente. Precisamos de agir para ajudar a recuperação da natureza”, comentou Gareth Parry, director de conservação do Gloucestershire Wildlife Trust, citado pelo jornal The Guardian.
Saiba mais.
Em Portugal não se conhece qual o tamanho populacional da marta. Por isso, o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005) classifica a espécie como DD (Informação Insuficiente).
Ainda que a tendência populacional seja desconhecida, “localmente a espécie poderá estar a declinar”.
“A conservação da espécie beneficiará de todas as medidas que favoreçam o seu habitat, nomeadamente estratégias de renovação da floresta utilizando espécies florestais autóctones”, aconselha o Livro Vermelho português.