Os resultados da primeira campanha de ciência cidadã lançada pelo projecto Cigarras de Portugal foram divulgados esta semana, num encontro em Lisboa.
O objectivo desta iniciativa, que decorreu entre 1 de Junho e 30 de Setembro, era aumentar o conhecimento dos cientistas e da população em geral sobre as 13 espécies de cigarras com presença confirmada em Portugal, em 2004.
Assim, quem ouvisse uma cigarra a cantar podia gravá-la e enviar o registo à equipa do projecto, ligada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), juntamente com o local onde tinha sido ouvido. São as diferenças nos sons que estes insectos cantores emitem, quando os machos procuram atrair as fêmeas, que ajudam a identificar as espécies.
Até ao dia 30 de Agosto, a equipa tinha recebido 102 registos de cigarras, revelam os números divulgados num poster científico esta quinta-feira, durante o 2º Encontro Nacional de Ciência Cidadã.
Mais de metade dos sons gravados recebidos pela página do projecto no Facebook e por outros meios eram da espécie Cicada orni, 56% do total, e outros 34% de Cicada barbara. Esse “enviesamento nas espécies registadas” foi uma das limitações reconhecidas pela equipa: os registos foram dominados pelas “duas espécies mais comuns e audíveis”. Outras cinco espécies foram também enviadas por quem participou nesta iniciativa.
Quanto aos locais de origem das 102 gravações recebidas, quase metade foram obtidas nos distritos de Lisboa e Setúbal, seguidas pela região Centro e em terceiro lugar pelo Algarve. Da região Norte, chegaram apenas três.
Também aqui terá ocorrido um “enviesamento geográfico e temporal nos registos, mais frequente no período de férias e zonas urbanas do litoral”, admite a equipa do projecto, liderada por Paula Simões, professora auxiliar na FCUL e investigadora do cE3c-Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, e por Vera Nunes, também investigadora no cE3c.
Por outro lado, o lançamento desta primeira campanha de ciência cidadã, que decorreu no Facebook e foi divulgada na comunicação social, “resultou num incremento significativo do número de observadores e de registos de cigarras identificadas ao nível da espécie, face aos anos anteriores”, notam.
Para que vai servir?
Os dados recolhidos poderão ser agora usados, adiantam, para “acelerar o mapeamento das populações de cigarras” e “descobrir novas populações e estabelecer locais de interesse para monitorização”, mas também para “registar alterações aos limites de distribuição (expansão/contracção) e investigar as suas causas” e “modelar as necessidades ecológicas e o impacto de alterações no habitat nas cigarras.”
Quanto ao Verão do próximo ano, para quando está prevista uma nova campanha, a equipa quer realizar mais workshops de formação gratuitos, à semelhança dos dois que se realizaram em 2019.
Outros desafios: “Dirigir a campanha para espécies e áreas geográficas específicas”, tal como “reforçar a informação científica acessível digitalmente para cada espécie”, explicam.
Em cima da mesa está também o eventual alargamento dos censos de cigarras a Espanha e a outras espécies de insectos cantores durante o Verão, como é o caso dos grilos e dos gafanhotos, que muitas vezes são confundidos com as primeiras.
Saiba mais.
Comece já a preparar-se para o próximo Verão aprendendo mais sobre o canto das cigarras, aqui e aqui.
E acompanhe o projecto Os Sons do Verão, no portal FonoZoo.