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Primeiro registo confirmado de gato-bravo em 30 anos para o Vale do Côa

18.07.2024

“Quando me deparei com a primeira foto deste gato quase saltei da cadeira!”, disse o biólogo Pedro Ribeiro, biólogo da Rewilding Portugal envolvido nesta descoberta no Grande Vale do Côa. O gato-bravo estará reduzido a menos de 100 animais adultos em todo o país e é uma espécie Em Perigo de extinção.

O gato-bravo em causa foi primeiro registado com recurso a fotoarmadilhagem, explicou, em comunicado, a organização Rewilding Portugal.

Mas este método não é por si só infalível, já que “é muito difícil distinguir esta espécie de um gato doméstico com fenótipo selvagem”, salientou Pedro Ribeiro, biólogo da Rewilding Portugal envolvido nesta descoberta. Por isso, depois de consultar especialistas do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), fez-se uma prospeção no terreno, onde foi possível encontrar excrementos.

“Quando me deparei com a primeira foto deste gato quase saltei da cadeira! É extremamente raro encontrar gatos-bravos em Portugal e, em especial, na região do Côa”, contou Pedro Ribeiro sobre o primeiro momento em que a identificação se parecia confirmar, ainda antes dos testes de genética através dos excrementos, que viriam a acontecer posteriormente.

Não é raro fotografar gatos domésticos e assilvestrados no campo através deste tipo de câmaras, já que estes animais conseguem viver a dezenas de quilómetros das povoações humanas mais próximas, podendo até ter impactos negativos nas populações selvagens de aves, répteis e mamíferos. Também competem por território com o autóctone gato-bravo e hibridizam com esta espécie, diluindo a sua genética selvagem, principalmente quando falamos de uma espécie em perigo de extinção como neste caso.

Os excrementos seguiram então para análise genética, no âmbito da colaboração com o CIBIO-InBIO/BIOPOLIS da Universidade do Porto, em que o grupo CONGEN, coordenado por Paulo Célio Alves, está a desenvolver um estudo sobre a diversidade genética e o grau de hibridação do gato-bravo a nível Ibérico.

A análise de marcadores moleculares do ADN nuclear permitiu confirmar geneticamente que o animal era de facto um gato-bravo, o primeiro registo numa das áreas rewilding no Grande Vale do Côa. “Um dos objetivos das áreas rewilding é atuarem como refúgios onde a vida selvagem encontra as condições necessárias para prosperar e estas descobertas são indicativos de que estão de facto a cumprir esta função”, explicou a organização.

O gato-bravo está em Perigo de Extinção em Portugal e estima-se que existam menos de 100 indivíduos adultos. É no Norte de Espanha onde estão as maiores populações na Península Ibérica, mas os especialistas falam de uma extinção silenciosa a nível ibérico, principalmente no sul de Portugal e de Espanha, mas também em outras regiões da Europa.

A perda de habitat e a hibridação com gatos domésticos são os seus maiores problemas de conservação. Na verdade, em locais da Europa como na Escócia, 88% dos gatos-bravos têm genes de gato doméstico.

“É urgente iniciar ações para recuperar o gato-bravo na Península Ibérica e, desde já, a Rewilding Portugal vai começar por apoiar a esterilização dos gatos domésticos que se encontram nas proximidades desta área onde foi registado o gato-bravo, para evitar riscos de hibridação.”

A organização defende que a espécie se encontra numa “situação crítica que é necessário inverter” e que se deve começar “a trabalhar com esta espécie no imediato”.

gato-bravo (Felis silvestris) é um dos mamíferos mais raros de Portugal. Esta espécie selvagem enfrenta desafios tais que podem fazê-lo desaparecer do nosso país.


Saiba mais.

Conheça a história destes dois naturalistas que conseguiram um registo de gato-bravo em Montesinho.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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