Recentemente, conservacionistas portugueses e espanhóis reuniram-se na Herdade da Contenda, em Moura, para reforçar o trabalho que têm vindo a fazer para proteger a colónia mais a Sul de abutre-preto (Aegypius monachus), no âmbito do projecto LIFE Aegypius Return.
A Herdade da Contenda, com os seus 5267 hectares e propriedade do município de Moura, alberga a colónia mais a Sul desta espécie em Portugal, na Zona de Protecção Especial (ZPE) Mourão/Moura/Barrancos.
É a segunda maior colónia do país, tendo registado 18 casais nidificantes em 2023 e contribuído com cinco crias para a população. Curiosamente, dois desses casais estão em território espanhol, perto da fronteira, ainda que, do que ponto de vista ecológico, todos os casais pertençam à mesma colónia reprodutora.
Este ano houve sinais da expansão da colónia para Este, depois da descoberta de quatro novos ninhos durante os esforços de monitorização à reprodução da espécie do lado espanhol da Contenda, revela a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF, Vulture Conservation Foundation). Esses ninhos situam-se dentro da ZPE e Área Especial de Conservação da Sierra de Aracena y Picos de Aroche.
Recentemente, técnicos espanhóis estiveram na Herdade da Contenda para coordenar os trabalhos de conservação, como o reforço da vigilância e o evitar trabalhos florestais e outro tipo de perturbações durante a época de reprodução das aves, que normalmente ocorre de Janeiro a Setembro.
Reuniram-se naquela herdade técnicos da VCF, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) – que ajuda a Herdade a monitorizar e a proteger a colónia – e de várias entidades espanholas, como a Junta da Andaluzia e do Plano de Conservação da Andaluzia para a Recuperação de Aves Necrófagas.
Durante os trabalhos de campo, os técnicos observaram vários ninhos, a grande distância, com a ajuda de binóculos e telescópios, para evitar perturbar os animais.
Acordaram definir um polígono de protecção ao redor de todos os ninhos conhecidos do lado espanhol, expandindo os esforços que já estão a ser feitos do lado português e também nas regiões espanholas de Sierra Pelada e Rivera del Aserrador que também albergam abutres-pretos reprodutores.
“O abutre-preto é uma espécie ameaçada e muito sensível à perturbação durante a temporada reprodutora”, salienta a VCF.
De momento há quatro colónias reprodutoras em Portugal, duas das quais – Douro Internacional e agora a Herdade da Contenda – já têm colaboração transfronteiriça para a sua protecção. As outras são o Tejo Internacional e a Malcata. No ano passado, entre 78 a 81 casais nidificaram em Portugal, distribuídos por estes quatro núcleos reprodutores.
Em 2023, o abutre-preto viu o seu estatuto de conservação melhorar para Em Perigo de extinção, em relação a 2005, quando estava Criticamente Em Perigo.
Leia aqui as histórias que temos publicado sobre o abutre-preto e saiba mais sobre a sua conservação.