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Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Portugueses e espanhóis protegem juntos o abutre-preto na Herdade da Contenda

16.05.2024

Recentemente, conservacionistas portugueses e espanhóis reuniram-se na Herdade da Contenda, em Moura, para reforçar o trabalho que têm vindo a fazer para proteger a colónia mais a Sul de abutre-preto (Aegypius monachus), no âmbito do projecto LIFE Aegypius Return.

A Herdade da Contenda, com os seus 5267 hectares e propriedade do município de Moura, alberga a colónia mais a Sul desta espécie em Portugal, na Zona de Protecção Especial (ZPE) Mourão/Moura/Barrancos.

É a segunda maior colónia do país, tendo registado 18 casais nidificantes em 2023 e contribuído com cinco crias para a população. Curiosamente, dois desses casais estão em território espanhol, perto da fronteira, ainda que, do que ponto de vista ecológico, todos os casais pertençam à mesma colónia reprodutora.

abutre em voo
Abutre-preto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Este ano houve sinais da expansão da colónia para Este, depois da descoberta de quatro novos ninhos durante os esforços de monitorização à reprodução da espécie do lado espanhol da Contenda, revela a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF, Vulture Conservation Foundation). Esses ninhos situam-se dentro da ZPE e Área Especial de Conservação da Sierra de Aracena y Picos de Aroche.

Recentemente, técnicos espanhóis estiveram na Herdade da Contenda para coordenar os trabalhos de conservação, como o reforço da vigilância e o evitar trabalhos florestais e outro tipo de perturbações durante a época de reprodução das aves, que normalmente ocorre de Janeiro a Setembro.

Reuniram-se naquela herdade técnicos da VCF, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) – que ajuda a Herdade a monitorizar e a proteger a colónia – e de várias entidades espanholas, como a Junta da Andaluzia e do Plano de Conservação da Andaluzia para a Recuperação de Aves Necrófagas.

Durante os trabalhos de campo, os técnicos observaram vários ninhos, a grande distância, com a ajuda de binóculos e telescópios, para evitar perturbar os animais.

abutre-preto em voo
Abutre-preto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Acordaram definir um polígono de protecção ao redor de todos os ninhos conhecidos do lado espanhol, expandindo os esforços que já estão a ser feitos do lado português e também nas regiões espanholas de Sierra Pelada e Rivera del Aserrador que também albergam abutres-pretos reprodutores.

“O abutre-preto é uma espécie ameaçada e muito sensível à perturbação durante a temporada reprodutora”, salienta a VCF.

De momento há quatro colónias reprodutoras em Portugal, duas das quais – Douro Internacional e agora a Herdade da Contenda – já têm colaboração transfronteiriça para a sua protecção. As outras são o Tejo Internacional e a Malcata. No ano passado, entre 78 a 81 casais nidificaram em Portugal, distribuídos por estes quatro núcleos reprodutores.

Em 2023, o abutre-preto viu o seu estatuto de conservação melhorar para Em Perigo de extinção, em relação a 2005, quando estava Criticamente Em Perigo.


Leia aqui as histórias que temos publicado sobre o abutre-preto e saiba mais sobre a sua conservação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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