A linária-dos-olivais (Linaria ricardoi), planta de flores roxas que vive nos olivais tradicionais do Alentejo, foi a escolhida de entre mais de 2.800 votos nesta iniciativa da Sociedade Portuguesa de Botânica, foi hoje revelado.
A linária-dos-olivais, espécie Em Perigo de extinção segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, foi eleita a Planta do ano 2022 de Portugal com 53% dos votos, numa iniciativa que decorreu de 17 de Janeiro a 14 de Fevereiro. Nela participaram pessoas de norte a sul do país, do Continente e das Ilhas, e também do outro lado da fronteira. Alunos de dezenas de escolas também participaram.
Em segundo lugar ficou a soagem-gigante (Echium boissieri) e em terceiro a alcachofra-rasteira (Cynara tournefortii), que reuniram respetivamente 28% e 19% dos votos.
Ao longo deste ano de 2022, a linária-dos-olivais será a “embaixadora dos tesouros botânicos do Alentejo aquém e além-fronteiras”, segundo um comunicado da Sociedade Portuguesa de Botânica.
Esta votação foi organizada para alertar para a situação preocupante das espécies botânicas dos olivais tradicionais do interior alentejano.
A linária-dos-olivais é uma dessas espécies que requer cuidados de conservação. Aliás, é uma espécie de conservação prioritária.
Segundo o portal FloraOn, esta espécie é um endemismo que só vive na região de Ferreira do Alentejo, Beja, Cuba e Serpa. “Embora possa ser localmente abundante em alguns locais, as alterações de uso do solo (intensificação) nesta região constituem uma séria ameaça à sua persistência”, refere este portal.
Esta planta “tem sofrido um declínio galopante”, alerta a Sociedade Portuguesa de Botânica. “Sem o roxo desta flor nos campos, Portugal ficará mais pobre.”
A linária-dos-olivais, espécie que não existe em mais lugar nenhum do mundo, é uma planta de flores roxas que cresce em searas, pousios e prados em olivais tradicionais ou montados, raramente em taludes e bermas de caminhos. Pode crescer até aos 30 centímetros.
Actualmente esta espécie terá apenas três localizações conhecidas e uma área de ocupação de apenas 208 quilómetros quadrados. Além de existir em cada vez menos locais, o seu habitat também está a perder qualidade.
“A conversão dos sistemas agrícolas tradicionais em culturas intensivas de regadio é uma ameaça direta à população desta espécie, uma vez que a sua distribuição coincide em cerca de 95% com a área de implementação do Sistema Global de Rega de Alqueva”, segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental.
“Apesar de ser uma espécie de conservação prioritária, o seu estatuto de proteção legal muito dificilmente a protegerá num futuro próximo, caso não seja implementado um plano de conservação dedicado. As medidas de conservação devem centrar-se na manutenção dos sistemas agrícolas tradicionais, através da contratualização com os proprietários dos terrenos no sentido da manutenção de parcelas de olival tradicional com núcleos da planta, e através do incentivo económico aos produtores de forma a manterem as práticas tradicionais de gestão”, consideram os autores da Lista Vermelha.
Para este ano, a Sociedade Portuguesa de Botânica vai preparar uma série de iniciativas dedicada à linária-dos-olivais, que serão conhecidas em breve.