Plantar árvores nas margens dos rios pode reduzir até 20% o impacto das inundações em cidades, revela um novo estudo de duas universidades inglesas.
A plantação de árvores em locais estratégicos nos leitos de cheia pode reduzir as inundações mais a jusante em 20%, segundo um estudo publicado recentemente na revista Earth Surface Processes and Landforms por investigadores das universidades de Birmingham e de Southampton.
Os cientistas, financiados pela Agência do Ambiente britânica, estudaram a bacia hidrográfica de um rio numa área de 100 quilómetros quadrados, em New Forest, a montante da cidade de Brockenhurst (Hampshire, Sul de Inglaterra). Queriam compreender como é que a plantação de árvores e o restauro de rios poderiam afectar o pico de inundações numa localidade urbana a jusante.
Usando um modelo digital da paisagem da zona e uma simulação do modelo hidrológico, os investigadores concluíram que plantar árvores em leito de cheia e aumentar o número de troncos nos rios – para ajudar a bloquear a passagem da água – em 10% da extensão do rio pode reduzir o pico de uma potencial inundação na cidade em 6%, quando as árvores tiverem 25 anos. A estratégia é criar mini-inundações ao longo do curso de água, mais a montante.
Além disso, concluíram que a plantação de árvores e o restauro de uma área maior do rio, com entre 20 a 25%, pode reduzir o pico de cheia até 20%. “À medida que as árvores vão crescendo e as florestas se tornam mais maduras e complexas, o seu efeito também será maior”, explicam, em comunicado.
“Acreditamos que a plantação de árvores pode dar um grande contributo para reduzir o risco de cheias e deve fazer parte de uma abordagem de gestão de cheias mais abrangente, incluindo as convencionais defesas e barreiras”, comentou Simon Dixon, investigador da Universidade de Birmingham e o principal autor do estudo. Os investigadores defendem que, perante um cenário de alterações climáticas e de eventos climatéricos mais intensos, muitos locais não poderão ser protegidos simplesmente com barreiras de cimento.
“A plantação de árvores representa um elemento extra que ajuda a abrandar o fluxo da água das chuvas em localidades mais vulneráveis.”
David Sear, da Universidade de Southampton, lembrou que “os processos naturais, quando geridos cuidadosamente, podem reduzir o risco de cheias e trazer outros benefícios para a sociedade, incluindo o aspecto recreativo e a promoção da biodiversidade”.
Ainda assim, Ben Lukey, da Agência do Ambiente, disse à BBC News que não há financiamento suficiente para aplicar as ideias do estudo a uma escala considerável. “Conseguir mudanças a uma escala que possa ajudar uma grande cidade, como Leeds ou Manchester, é uma ambição que vai demorar algum tempo.”