Investigadores do Centro de Ciências Marinhas (CCMAR) da Universidade do Algarve descobriram, 168 anos depois da sua última colheita em Portugal, três populações do género Althenia sp. Esta planta aquática é “tão desconhecida que nem sequer foi considerada aquando da elaboração da lista vermelha das plantas de Portugal”, refere João Neiva, um dos investigadores envolvido na descoberta.
A Althenia é uma planta aquática característica de um tipo de habitat denominado lagoas mediterrânicas temporárias, onde se incluem as salinas. “São sítios com salinidades elevadas, têm pouca profundidade, portanto secam no verão; o número de espécies que conseguem crescer lá é muito reduzido”, explica Duarte Frade, investigador do CCMAR co-responsável pelo artigo.
Os investigadores explicam que encontraram exemplares das espécies Althenia filiformis e Althenia orientalis em três populações, duas na Ria Formosa e uma no estuário do Mondego. Até à data da descoberta da primeira população, em maio de 2021, a última recolha de um exemplar de Althenia tinha sido em 1853, perto de Tavira. Este espécime, colhido por Eugène Bourgeau, está no herbário da Universidade de Coimbra.
Estas plantas aquáticas são consideradas raras e ameaçadas na Europa; segundo os autores, sentem a pressão da degradação das zonas húmidas. Além disso, há demasiadas incertezas taxonómicas em relação a este género para atribuir um estatuto de ameaça nas Listas Vermelhas.
Entre maio de 2021 e abril de 2024, os investigadores do CCMAR recolheram não só material para herbário e em sílica gel (um material que permite secar amostras vegetais), mas também exemplares vivos, de modo a poderem realizar registos fotográficos e documentar a morfologia destas plantas: são plantas frágeis e pequenas, com caules que chegam a 30 cm de comprimento e 0,2 mm de largura. Estas características poderão ter sido determinantes para explicar a falta de conhecimento sobre estas espécies e a sua “raridade aparente”, aliadas ao habitat “pouco convidativo” onde estas ocorrem, nas palavras de João Neiva.
Apesar de as três populações se encontrarem dentro de áreas protegidas, é de grande importância saber mais sobre estas lagoas, para além da distribuição geográfica e das necessidades ecológicas dos organismos que nelas habitam. Segundo Duarte Frade, “são ambientes que estão relativamente pouco estudados em Portugal, têm uma importância para a conservação e têm um conjunto de espécies que não vemos em outros ambientes”.
Este grupo de investigadores tem planos futuros para o estudo da Althenia: para além da realização de análise genética do material recolhido e da procura de outros locais onde este género possa ocorrer, o projeto LIFE Restore Seagrass vai permitir expandir o conhecimento e contribuir para a conservação deste tipo de plantas.
Este projecto de conservação – que inclui vários parceiros, como o CCMAR, o ISPA, o ICNF ou a SPEA – foi idealizado para outras espécies de plantas aquáticas mas agora inclui também as plantas do género Althenia.
Quem pode ajudar?
Qualquer pessoa pode contribuir para melhorar o conhecimento sobre as diversas espécies, através de plataformas de ciência cidadã, como a Biodiversity4All. Estas plataformas permitem que qualquer utilizador submeta registos fotográficos de organismos que, aliados à informação do local onde foi tirada a fotografia, são informações extremamente úteis para projetos de investigação e de conservação, pois permitem que os investigadores tenham acesso a um volume de dados muito maior.