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Pedro Cuiça, o senhor que só sabe andar a pé encantado

15.10.2015

O autor do livro “Passo a passo” caminha desde os 12 anos e fez disso a sua vida. Descobriu esta forma de estar, o andar pelo meio das árvores, pelas montanhas acima e pelas grutas adentro. Uma desaceleração para ir mais longe. Escreveu um livro para andarmos encantados também.

 

Wilder: O que é o pedestrianismo?

Pedro Cuiça: É o andar a pé, por lazer, na natureza, independentemente das motivações de cada um. É uma palavra antiga na língua portuguesa que ganhou este significado desde os anos 80 do século passado.

 

W: Então, o que é preciso para começarmos a caminhar?

Pedro Cuiça: Apenas a vontade de andar a pé. Há pessoas que para ir ao café a 300 metros de casa vão de carro. Era bom que conseguíssemos integrar o hábito de andar no nosso dia-a-dia. Nem que seja apenas subir as escadas a pé e não de elevador. E podem existir uma miríade de motivações para o fazer, desde melhorar a saúde, conhecer novos locais, aproximarmo-nos da natureza, ou para fazer desporto.

 

W: E qual é a sua motivação?

Pedro Cuiça: A minha grande motivação é ir para a natureza. Andar a pé é uma forma de ir às origens, de nos ligarmos ao mundo natural, de nos conhecermos a nós próprios. É uma forma de desaceleração, porque temos de percorrer uma distância a pé. Temos tempo para observar e pensar.

 

W: Qual é o objectivo deste livro “Passo a passo”?

Pedro Cuiça: É, acima de tudo, motivar as pessoas a andar e despertar-lhes o gosto pelas caminhadas. É uma actividade verdadeiramente incrível.

 

W: E o que podemos encontrar nas páginas do livro?

Pedro Cuiça: O livro está dividido em três partes: a primeira é o Enquadramento, é mais filosófica e explica as diferentes formas de se praticar o andar. A segunda é A Saber, onde o leitor pode ficar a saber mais sobre equipamentos, orientação, técnicas de pernoita e informações sobre higiene e saúde, úteis quando acampamos, por exemplo. Para quem é inexperiente, estas são técnicas para poder caminhar melhor, com mais segurança, e para evitar causar impactos desnecessários na natureza. A terceira parte é A Actividade, com truques e dicas muito práticas para antes, durante e depois de uma caminhada, e sugestões de percursos desde os altamente fáceis até aos que duram vários dias.

 

W: Hoje em dia é fácil fazer caminhadas em Portugal?

Pedro Cuiça: Nunca foi tão fácil! Portugal tem uma boa rede de percursos marcados e há percursos em todos os concelhos, com uma grande diversidade. No tocante aos percursos balizados, em meados de 2014 existiam registados na Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) mais de 650 percursos de Pequena Rota (correspondentes a cerca de 6500 quilómetros) e mais de uma centena de troços ou traçados completos de Grandes Rotas (cerca de 3500 quilómetros). Mas é preciso dizer que nem todas estas rotas estavam, em 2014, implantadas no terreno. Depois há os percursos nos guias e livros, cartas militares e aplicações digitais que podemos descarregar para o GPS. Há uma enorme oferta. E de equipamento também.

 

W: Por onde gostas mais de caminhar?

Pedro Cuiça: Sou apaixonado pelo acto de andar a pé e faço caminhadas, de forma regular, há 35 anos. Mas fico especialmente encantado em andar no meio das árvores. Não gosto muito daquela atitude de só caminhar em sítios longínquos, exóticos. Valorizo muito andar à porta de casa.

 

W: E o que te inspirou para começares a andar?

Pedro Cuiça: Foi um livro que li quando tinha 12 anos, o Ao Encontro da Natureza – Como explorar e apreciar o mundo fascinante que o rodeia, das Selecções Reader’s Digest, editado no início dos anos 80. Ainda hoje o tenho. Despertou-me um grande interesse em andar e ir ver as coisas. Lembro-me de sair de casa em Faro, muitas vezes sozinho, aos 12 anos, e ir até ao Parque Natural da Ria Formosa ou à Praia de Faro, por exemplo. Andava sete, oito, dez quilómetros. Andava e descobria, por exemplo, as aves da Ria Formosa. Depois fui aprendendo técnicas, conhecendo o país. Na revista Fórum Ambiente escrevi muito sobre percursos. Depois, o trabalho continuou na Federação (FCMP). É uma actividade sempre constante. A base de tudo é andar a pé à descoberta. Permite andar pelo Alasca, pela Escócia ou à porta de casa, em Monsanto.

 

W: E já sabes qual a tua próxima caminhada?

Pedro Cuiça: Tento caminhar todos os dias. Neste fim-de-semana vou para Sintra e Arrábida. No seguinte, viajo até à Coreia do Sul, onde vou participar na assembleia da Federação Internacional de Alpinismo. É a primeira vez que lá vou. Já vi que perto de Seul há umas montanhas boas para escalar. Hei-de lá ir.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Pedro Cuiça deixa-lhe duas sugestões se não sabe por onde começar: a Pequena Rota da Terra Chã (serra D’Aire e Candeeiros) e a Rota da Biodiversidade (Lisboa). São ambas muito interessantes e muito bem marcadas no terreno.

Se ficarem fora de mão para si, contacte a FCMP para saber quais os percursos pedestres na sua zona de residência.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais sobre Pedro Cuiça

Pedro Cuiça, 47 anos, é director técnico de montanha na Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal.

Foi jornalista e editor especializado em actividades de ar livre e ambiente na revista Forum Ambiente (1995-2003) e colaborou em diversas publicações, como a Notícias Magazine e a Grande Reportagem. 

É também formador de Técnicos de Percursos Pedestres da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Escola Nacional de Montanhismo (FCMP/ENM), membro fundador do Grupo de Trabalho de Acesso à Natureza da European Ramblers Association (ERA) (2014-2015) e membro Correspondente da Comissão de Protecção da Montanha (Mountain Protection) da União Internacional das Associações de Alpinismo (UIAA) (2011-2015).

A 9 de Outubro lançou o seu mais recente livro, “Passo a Passo. Manual de caminhada e trekking”, uma das escolhas Wilder para o mês de Outubro.

Pode ler mais sobre o autor no seu blogue Pedestris.

 

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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