As ervas marinhas podem retirar vantagens das alterações climáticas, em especial do aquecimento dos oceanos, descobriu uma equipa liderada por cientistas do CCMAR – Centro de Ciências do Mar, na Universidade do Algarve.
“Os investigadores conseguiram mostrar neste estudo que as ervas marinhas vão beneficiar do aumento de temperatura e de CO2 nos oceanos já que a sua capacidade de aquisição de azoto irá aumentar, não limitando assim o seu crescimento”, indica em comunicado o CCMAR.
As conclusões foram publicadas no final de Abril, na revista científica Functional Ecology. O estudo foi realizado por cientistas deste centro de investigação em parceria com a Universidade de Bangor, no Reino Unido.
A equipa descobriu que o aquecimento dos oceanos “aumenta a carência de azoto da Zostera marina, uma erva marinha amplamente distribuída no hemisfério norte”, explica Ana Alexandre, especialista em ervas marinhas no CCMAR, que liderou o estudo. O que se passa é que “essa carência pode ser preenchida por um aumento da aquisição de azoto orgânico.”
Até há pouco tempo, os cientistas acreditavam que as ervas marinhas, como a Zostera marina, não tinham capacidade de consumir azoto na forma orgânica, mas apenas o azoto inorgânico, com substâncias mais simples.
A maioria do azoto encontrado em sedimentos marinhos apresenta-se na forma orgânica e “provém na sua maior parte da decomposição dos organismos”, indicou a investigadora à Wilder. Exemplos? “Ureia, aminoácidos e moléculas mais complexas como as proteínas.” O azoto orgânico está presente também na água do mar, mas de forma muito mais reduzida.
“Estes compostos orgânicos são, em geral, rapidamente decompostos em substâncias inorgânicas mais simples por microorganismos que vivem nos solos”, acrescentou Ana Alexandre, referindo-se à formação do azoto inorgânico. “Através de reações químicas de decomposição, que dependem de vários factores ambientais, estes microorganismos degradam os compostos orgânicos em moléculas inorgânicas, nomeadamente a amónia (NH4+) e o nitrato (NO3-).”
Ajuda na qualidade da água e na biodiversidade
E apesar de ser verdade que as ervas marinhas usam de preferência azoto inorgânico, quase sempre na forma de amónia, descobriu-se agora que a Zostera maritima aumenta o consumo de azoto orgânico quando precisa de responder à subida “das suas necessidades de azoto total face ao aumento da temperatura da água do mar.”
Por outro lado, ao aumentarem o consumo de azoto, estas plantas contribuem também para a manutenção da qualidade da água e promovem o aumento da biodiversidade, lembra o CCMAR. As ervas marinhas são conhecidas pela importância que têm para a “recirculação dos nutrientes em ambientes costeiros.”
A equipa de investigação combinou observações de campo das taxas de aquisição de azoto por esta espécie de erva marinha em três locais ao longo da sua distribuição geográfica – Portugal, Islândia e Reino Unido – com a resposta de aquisição de azoto da espécie a diferentes temperaturas, obtida em experiências de laboratório.
Os cientistas colocam agora uma nova hipótese: “Uma vez que o consumo de azoto orgânico pelos micróbios também aumentou com a temperatura, o aquecimento oceânico poderá potenciar a competição entre a erva marinha e a comunidade microbiana.”
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