Equipa internacional de cientistas alerta que a paisagem sonora marinha, crucial para a saúde das espécies selvagens, está a ser abafada pelo ruído da actividade humana.
Os danos causados pelo ruído são tão prejudiciais quanto a sobre-pesca, a poluição e a crise climática, alerta uma equipa internacional de 25 cientistas – da Arábia Saudita, Reino Unido, Países Baixos, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Noruega, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia – num artigo publicado a 5 de Fevereiro na revista Science.
Os animais que vivem nos oceanos conseguem ouvir através de longas distâncias, o que torna o som um elemento crucial.
A vida marinha – como os peixes, caranguejos, amêijoas e os corais – usa o som para apanhar presas, para se orientar no oceano, para defender o seu território, para atrair parceiros, para encontrar casa ou para lançar o alerta em caso de perigo.
“A paisagem sonora do oceano é uma das mais importantes fontes de informação para os animais marinhos”, explicou Andy Radford, investigador da Universidade de Bristol e que fez parte da equipa.
Mas a paisagem acústica do mundo natural subaquático está a mudar drasticamente.
Esta equipa de investigadores documentou de que forma as paisagens sonoras do oceano estão a mudar e explorou todos os impactos do ruído nos animais e nos ecossistemas. E identificou maneiras de restaurar paisagens sonoras mais naturais.
Os cientistas sublinham ainda que a poluição sonora tem impactos negativos no comportamento, fisiologia e reprodução da vida selvagem, desde os invertebrados às baleias. Em casos extremos, como as explosões, pode mesmo causar uma morte directa.
“Desde a Revolução Industrial, os humanos tornaram o planeta, e os oceanos em particular, mais ruidosos através, por exemplo, da pesca, da navegação e do desenvolvimento de infra-estruturas”, disse, em comunicado, Carlos Duarte, coordenador do estudo e investigador na Universidade King Abdullah da Ciência e Tecnologia (KAUST). Ao mesmo tempo, os humanos “silenciaram os sons dos animais marinhos que dominavam o oceano pristino”.
Contudo, salientam os investigadores, as políticas actuais para melhorar a saúde dos oceanos ignoram a necessidade de mitigar o ruído como um pré-requisito para um oceano saudável.
A boa notícia é que é fácil baixar o volume da nossa cacofonia nos oceanos. “O nosso estudo identifica formas relativamente fáceis de o conseguir, desde modificar os motores dos navios a usar cortinas de bolhas quando se constroem parques eólicos offshore”, acrescentou Nathan Merchant, do Centro para o Ambiente, Pescas e Aquacultura. “Os decisores políticos podem implementar estas medidas ao definir metas obrigatórias e ao providenciar incentivos económicos.”
O estudo aponta a rápida resposta dos animais marinhos ao confinamento dos humanos como consequência da Covid-19 como uma prova de uma potencial recuperação rápida da poluição sonora.
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