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O mundo tem selvas suficientes para o dobro dos tigres

04.04.2016

Apenas cerca de 3.200 tigres vivem hoje na natureza, nas florestas de 13 países asiáticos, mas há condições para suportar o crescimento para o dobro destes grandes felinos até 2022, conclui um estudo agora publicado.

 

Um grupo de cientistas liderado por Anup Joshi, da Universidade do Minesotta, nos Estados Unidos, recorreu à plataforma de dados do Google Earth Engine para analisar, com recurso a imagens captadas por satélite, as perdas de habitat florestal reportadas ao longo de 14 anos (entre 2001 e 2014) pelo Global Forest Watch.

Em causa estão 76 zonas de habitat que são consideradas uma prioridade para a conservação do tigre – o animal mais ameaçado entre os grandes felinos, considerado Em Perigo – e onde se perderam cerca de 80.000 quilómetros quadrados de floresta.

No entanto, as conclusões desta análise, publicadas no jornal Science Advances,  surpreenderam os próprios investigadores.

“Do nosso ponto de vista, é assinalável e inesperado que apenas 7,7% do território [analisado] tenha sido perdido para ser convertido, ao longo do período em estudo”, admite a equipa, que adianta que anteriormente estava prevista uma taxa de perdas de habitat “muito mais elevada”.

É que entre os 13 países onde ainda hoje vivem tigres em liberdade estão algumas das economias de mais rápido crescimento do Sudeste Asiático, lembram os cientistas. Além do mais, muitos dos habitats ligados às 29 áreas consideradas de mais elevada prioridade na conservação deste felino “suportam as mais altas densidades de população rural da Terra”. Nestas últimas, perderam-se cerca de 58.000 quilómetros quadrados.

“A nossa análise indica que resta habitat suficiente para permitir a duplicação da população de tigres na natureza” em 2022 – um objectivo assumido em 2010, numa conferência internacional de alto nível realizada na Rússia, dedicada à conservação da espécie, recorda o The Guardian.

Para isso, alertam os cientistas, será necessário travar a degradação das áreas importantes para a conservação e restaurar corredores vitais nas paisagens mais degradadas.

Desde o encontro de 2010, registaram-se aumentos de população na Índia, Nepal, Rússia e ainda no Nordeste da China. A situação actual nos 13 Estados onde ocorre o tigre vai ser analisada numa nova conferência prevista para o final de Abril, na Índia.

Ainda assim, apesar de os tigres terem perdido menos habitat do que era esperado, “a perda tem sido devastadora” em 10 das zonas importantes para a conservação da espécie. Com efeito, 91% das perdas de floresta deram-se nesses dez territórios.

A principal responsabilidade vai para as culturas ligadas à produção intensiva de óleo de palma, em países como a Indonésia e a Malásia, onde a degradação do habitat destes animais mais se tem feito sentir.

Por exemplo, na Indonésia, relatam os autores do estudo, perderam-se mais de 4000 quilómetros quadrados de floresta em áreas importantes para a conservação do tigre, que foram atribuídos a concessões para o óleo de palma.

No entanto, os territórios naturais desta espécie são também dizimados pela indústria madeireira e pela construção de estradas e de outras infraestruturas. A caça e o contrabando de partes do corpo deste grande felino são outras das principais ameaças.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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