Cerca de 12.000 flamingos estão por estes dias abrigados no Estuário do rio Tejo, um número recorde que até agora não tinha sido registado para este local. A conclusão é dos censos realizados pelo Centro de Estudos de Migrações e Protecção de Aves (CEMPA), do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
Nos últimos anos, a população de flamingos tem vindo a aumentar em Portugal, tal como a presença da espécie em muitas zonas húmidas onde antes não se observava, disse à Wilder Vítor Encarnação, que dirige o CEMPA.
Todos os anos, uma rede de colaboradores que trabalham com o CEMPA, muitos dos quais voluntários, realizam contagens de dezenas de espécies de aves invernantes entre Outubro e Março, de Norte a Sul do país.
Já este ano, a última contagem no Estuário do Tejo veio confirmar a tendência de aumento da presença de flamingos, que no entanto continuam sem nidificar. “Em Portugal não temos condições para isso, uma vez que estas aves nidificam apenas em colónia, em enormes áreas de hipersalina, que não existem em território português”, indicou o mesmo responsável.
Mas porquê o aumento das populações? Por um lado, devido ao “aumento das medidas de conservação” na área do Mediterrâneo, onde estas aves nidificam em vários locais – Grécia, Tunísia, Itália, França (Camargue), Espanha (Doñana e Fonte de Piedra) – de onde algumas voam para Portugal quando chegam os meses mais frios.
Por outro lado, apesar de estar a aumentar o número de flamingos, os locais onde se reproduzem estão a sentir os efeitos da seca, desde há vários anos. A zona de “Doñana está agora seca; em Fonte de Piedra, a água está a diminuir cada vez mais”, exemplificou Vítor Encarnação.
Sem água, os flamingos não têm espaço para se reproduzirem. “Vêm para os sítios onde invernam, como sucede em Portugal, porque sabem que aí vão ter alimento.”
Para já ainda é cedo para se conhecerem as contagens de flamingos noutros locais do país, como o Estuário do Sado, mas o responsável do CEMPA acredita que vão acompanhar a tendência destes últimos anos.
Também há números crescentes destas aves na Ria de Aveiro, onde hoje se podem observar em locais onde há uns anos não ocorriam, contou recentemente à Wilder João Nunes da Silva, fotógrafo de natureza. Foi aqui que aliás se começou a detectar pela primeira vez a presença de flamingos em Portugal, nos anos 70.
Os resultados das contagens realizadas em anos anteriores mostram que a população rondava as 5.063 aves, em Janeiro de 2016 – isto para as principais zonas húmidas e não apenas o Estuário do Tejo. O número mais alto até hoje foi registado em 2012, também em Janeiro, com 9.060 flamingos contados de Norte a Sul do país.
“O aumento de flamingos é um bom sinal”, conclui Victor Encarnação, que deixa no entanto um alerta: “Se esta situação de seca se agravar, poderá haver problemas para esta espécie.”
[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.
Quais os locais onde é mais fácil observar flamingos, por esta altura? Vitor Encarnação explica que pode fazê-lo nalgumas albufeiras e em quase todos os principais estuários portugueses, como:
Estuário do Mondego
Rio Tejo (Hortas e Ponta da Erva ou Salinas do Samouco, na Margem Sul; foz do Trancão do lado de Lisboa)
Ria de Aveiro
Estuário do Sado
Ria Formosa
Lagoa de Santo André
Alqueva
Estuário do Douro