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Novo estudo prevê declínio de fungo mortal para os anfíbios

15.01.2016

As alterações climáticas podem tornar insustentáveis, em algumas regiões, as condições ambientais para o quitrídio, o fungo que está a fazer desaparecer dezenas de populações de anfíbios no planeta, revela um novo estudo científico.

 

Este fungo pode ser responsável pela maior perda de biodiversidade na História causada por uma doença. Nos últimos 30 anos, o quitrídio (que provoca a doença chamada quitridiomicose) está associado ao declínio e à extinção de dezenas de populações de anfíbios. Agora surgem notícias de África, mais concretamente de uma região considerada um dos hotspots de biodiversidade do planeta.

O estudo foi realizado no Rift Albertine, em África –  que abrange partes do Uganda, Ruanda, República Democrática do Congo, Burundi e Tanzânia – por investigadores da Wildlife Conservation Society (WCS) e de outras instituições do Uganda, Bélgica, Estados Unidos e Itália. Os cientistas avaliaram de que forma o quitrídio está a afectar os anfíbios na região, que alberga mais de 145 espécies de anfíbios, ou seja, 23% de todas as espécies do continente africano.

O trabalho de campo foi realizado entre 2010 e 2014 em 39 locais; foram recolhidas amostras de 1018 anfíbios de 17 géneros para saber se estes tinham o fungo. A equipa concluiu que o fungo está espalhado por aquela zona mas os animais parecem estar bem de saúde.

“Enquanto o quitrídio está a exterminar anfíbios a nível mundial, poderá existir alguma resistência no organismo dos anfíbios do Rift Albertine”, disse Denise McAloose, uma das autoras do estudo e patologista na WCS. Para saber mais, a equipa estudou a história do fungo na região.

Os cientistas tiraram amostras de 232 espécimes de anfíbios guardados nas colecções dos museus de história natural e descobriram que o registo mais antigo deste fungo é o de um sapo (Phrynobatrachus asper) colectado em 1950 no rio Itombwe, na República Democrática do Congo. “A longa história do quitrídio no Rift Albertine, juntamente com as nossas descobertas de que a maioria dos sapos com o fungo parecerem estar em boas condições, dá-nos a esperança de que os sapos nesta região de África possam, de alguma forma, ser resistentes a esta doença”, disse Andrew Plumptre, co-autor do estudo e investigador na WCS.

Quando a equipa aplicou modelos com vários cenários climáticos, concluiu que a área de distribuição do fungo vai diminuir até 2080, conforme escrevem no artigo publicado recentemente na revista PLoS One. Segundo os investigadores, a ocorrência do fungo deverá diminuir durante os períodos mais quentes e quando a precipitação exceder o limite de 1,800 mm por ano.

Ainda assim, não são só boas notícias para os anfíbios, uma vez que as alterações climáticas poderão afectá-los negativamente de outras formas, como através da redução de habitat disponível.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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