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Ganso-patola. Foto: Pixabay

Plásticos ameaçam aves marinhas do Atlântico

20.09.2017

Um artigo publicado recentemente por investigadores ingleses reforça o alerta para o problema dos plásticos para as aves marinhas, desta vez com o estudo de 34 espécies do oceano Atlântico Nordeste.

 

O artigo, publicado a 13 de Setembro na revista científica Environmental Pollution, alerta que ainda há muito por saber sobre a forma como os plásticos estão a afectar as aves marinhas na região Nordeste do oceano Atlântico.

A investigação – a cargo do Environmental Research Institute, na Escócia, e da Royal Society for Protection of Birds (RSPB) – trabalhou dados de todos os estudos conhecidos sobre ingestão e incorporação de plásticos nos ninhos das aves no Norte da Europa, desde a Escandinávia, Rússia e Gronelândia às ilhas Faroé e Islândia.

Das 69 espécies de aves marinhas que ocorrem regularmente naquela região do Atlântico, apenas 16% têm dados sobre a ingestão de plásticos, com séries de vários anos e para vários países. Na região, mais de metade das espécies nunca foram estudadas para perceber se estão, ou não, a ingerir plásticos.

Mas, de acordo com os dados disponíveis, relativos a 34 espécies, os investigadores descobriram que 74% dessas espécies estão a ingerir plásticos.

Quanto à incorporação de plásticos nos ninhos, ainda se sabe menos. A equipa só encontrou três artigos publicados para apenas duas espécies: o ganso-patola (Morus bassanus) e a gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla). “Para muitas espécies, as amostras eram muito pequenas ou nem sequer existiam. Apenas 39% dos estudos eram relativos ao século XXI”, escrevem os investigadores no artigo.

“A poluição dos oceanos por plásticos é um problema ambiental mundial que está a aumentar e que ameaça a biodiversidade marinha”, diz Nina O’Hanlon, especialista em aves marinhas no Environmental Research Institute e uma das investigadoras que trabalhou no projecto.

“A produção de plásticos continua a aumentar com milhões de toneladas a entrarem nos oceanos todos os anos. As aves marinhas podem ingerir plásticos, ficar presas neles ou incorporá-los nos seus ninhos, com impactos que podem ter consequências negativas na reprodução e sobrevivência das crias.”

Na região Nordeste do Oceano Atlântico, uma zona de importância internacional para as aves marinhas, a falta de dados é um problema. “Sabemos muito pouco sobre a actual ingestão de plásticos e incorporação nos ninhos de muitas espécies, como o papagaio-do-mar e o pato-de-cauda-afilada”, acrescentou Nina O’Hanlon, em comunicado.

“Acreditamos que é crucial um esforço coordenado e colaborativo para melhorarmos a nossa percepção sobre este tema importante.”

Alex Bond, da RSPB, concorda, acrescentando que é preciso uma “acção concertada” com produtores e consumidores para resolver a poluição dos plásticos em terra, já que 80% do lixo marinho vem daí. “As características que tornam os plásticos desejáveis são as mesmas que os tornam um problema”, explicou. “Porque são baratos de produzir, cerca de metade de todos os objectos de plástico são produzidos para um uso único. O plástico nunca se parte, apenas se degrada em fragmentos mais pequenos que permanecem no ambiente. E, conforme a sua densidade, pode ser encontrado na coluna de água, aumentando o número de espécies que entram em contacto com ele”, acrescentou.

Esta investigação foi realizada no âmbito do Circular Ocean, um projecto financiado pelo Programa da União Europeia para o Árctico e Periferia do Norte, que tem como objectivo incentivar a reutilização e a reciclagem do lixo plástico marinho em regiões rurais e remotas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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