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O novo Atlas dos Anfíbios e Répteis Terrestres de Angola em números

08.03.2019

O Atlas dos Anfíbios e Répteis Terrestres de Angola, apresentado a 7 de Março em Luanda, reúne em 500 páginas todas as espécies da herpetofauna angolana. Resulta de um trabalho de biólogos portugueses, do Ministério do Ambiente angolano e de universidades norte-americanas.

 

O Atlas é “uma primeira tentativa de compilar num único documento todos os registos dispersos por entre centenas de publicações, desde a primeira metade do século XIX até ao presente, e providencia uma revisão taxonómica crítica da herpetofauna do país”, explicam os seus autores.

Este é um trabalho de Luís Ceríaco (biólogo e investigador do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e da Universidade norte-americana de Villanova, na Pensilvânia), de Mariana Marques (do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência), de David C. Blackburn (do Museu de História Natural da Universidade da Flórida e da Academia de Ciências da Califórnia) e de Aaron M. Bauer (da Universidade de Villanova e da Academia de Ciências da Califórnia).

O Atlas – disponível online na revista Proceedings of the California Academy of Sciences – contém textos sobre Angola, sobre a história da investigação herpetológica no país, a diversidade, distribuição e endemismos da herpetofauna Angolana e uma revisão dos problemas de conservação que afectam a fauna herpetologia daquele país.

Cada espécie cuja ocorrência está confirmada tem uma ficha taxonómica, incluindo a descrição da espécie, a sua classificação de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a distribuição global, uma detalhada e georeferenciada lista de todos os registos para Angola – mapeados num mapa inteiramente dedicado, bem como notas taxonómicas e de distribuição.

O apêndice contém listas sinópticas sobre todas as espécies de anfíbios e répteis que ocorrem em Angola, bem com listas dos taxa erradamente referidos para a fauna Angolana.

O objectivo deste Atlas – que reúne num único volume todos os dados científicos até agora publicados e disponíveis sobre a diversidade de repteis e anfíbios – é “ser uma referência de trabalho para actuais pesquisas e planos de conservação, bem como um catalisador de futuros trabalhos”.

Este Atlas “representa um inestimável auxílio para o estudo da História Natural de Angola não só devido à metódica sectorização temática em que se destaca a apresentação de fichas taxonómicas e geográficas com mapas de ocorrência para todos os anfíbios e repteis conhe- cidos em Angola, mas também pela habilitada abordagem da fisiografia, do clima, dos biomas, da investigação histórica da herpetofauna angolana, da conservação, entre outros”, escreve, no prefácio, a Ministra do Ambiente da República de Angola, Paula Cristina Francisco Coelho.

“Por entre montanhas e escarpas, planícies e vales, savanas e densas florestas, rios e riachos, lagos e lagoas, a obra perpassa o país de lés-a-lés, transportando-nos num enleante tour de conhecimento.”

Aqui ficam alguns números sobre a herpetofauna angolana:

 

395: o número de espécies confirmadas pelo Atlas para Angola. Destas, 117 são anfíbios e 278 são répteis. Comparando a diversidade da herpetofauna de Angola com os seus países vizinhos, Angola é um dos países mais ricos, segundo os autores do Atlas. E esta diversidade de espécies estará prestes a aumentar, como resultado de novas expedições ao terreno.

54: o número de espécies endémicas de Angola, ou seja, que não se encontram em mais lugar nenhum. Destas, 18 são anfíbios e 36 são répteis, incluindo 27 lagartos, como o lagarto-espinhoso-do-Kaokoveld (Cordylus namakuiyus), descrito pela equipa de Luís Ceríaco em 2016.

678: o número de localidades onde existem registos de anfíbios e/ou répteis em Angola. Ainda assim, a maioria das espécies (62% para os anfíbios e 55% para os répteis) estão representadas em apenas cinco ou menos localidades do país. O conhecimento da herpetofauna angolana ainda está mal distribuído pelo país, admitem os autores. As zonas com mais dados são o Nordeste (Província de Luanda Norte), Centro (províncias de Kwanza, Malanje, Bié e Huambo) e Sudoeste (províncias de Benguela, Huíla e Namibe).

91: as espécies de anfíbios de Angola com estatuto Pouco Preocupante na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

22: as espécies de anfíbios, onde se incluem todas as espécies endémicas, que continuam classificadas como Informação Insuficiente na Lista Vermelha da UICN.

217: número de espécies de répteis de Angola que ainda não foram avaliadas pela UICN, correspondendo a 78% da diversidade de espécies do país. Na verdade, a maioria das espécies da herpetofauna angolana continuam “Não Avaliadas”, segundo a classificação da UICN. Para os autores do Atlas, esta situação “traz um problema potencialmente grave, já que não é claro que medidas de conservação e gestão serão as melhores para ajudar estas espécies e populações”.

1895: o ano de publicação da “Herpétologie d’Angola et du Congo”, de José Vicente Barbosa du Bocage (1823-1907). Esta é a primeira grande referência bibliográfica relativa à herpetofauna angolana. Por isso, o novo Atlas é dedicado a Barbosa du Bocage.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra as espécies de répteis que Luís Ceríaco já identificou para o “Que espécie é esta?” da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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