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Nova cria de abutre-preto nasceu no Alentejo

28.07.2016

Uma cria de abutre-preto, a maior ave de rapina da Europa, nasceu na Herdade da Contenda no Alentejo, pelo segundo ano consecutivo, anunciou ontem a Liga para a Protecção da Natureza. Esta é uma boa notícia para os esforços conservacionistas que tentam criar um terceiro núcleo reprodutor da espécie em Portugal, a seguir ao Tejo Internacional e ao Douro Internacional.

 

A cria de abutre-preto (Aegypius monachus) é um macho e tem hoje quase três meses de idade. Nasceu num dos 12 ninhos artificiais instalados em 2012 pelo projecto LIFE Habitat Lince Abutre (de Janeiro de 2010 a Setembro de 2014) na Herdade da Contenda, propriedade da Câmara Municipal de Moura (Baixo Alentejo) com 5.300 hectares.

No ano passado nidificaram dois casais na Herdade e em Abril nasceu a primeira cria do Alentejo, no espaço de mais de 40 anos. Esta é uma fêmea e foi marcada com uma anilha PVC vermelha com código em branco 7E. Este ano nidificaram quatro casais e nasceu uma cria, desta vez um macho.

“Este é um resultado muito encorajador com vista ao desejado restabelecimento de um núcleo reprodutor desta ave na região”, comentou em comunicado a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), entidade coordenadora do projecto.

Recentemente, e na presença do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), esta cria foi marcada com uma anilha PVC vermelha com o código 7K, o que permitirá identificá-la quando deixar o ninho. Segundo a LPN, este macho está em “perfeitas condições físicas” e deverá manter-se ainda no ninho nas próximas semanas “até que adquira a capacidade de voar”. A cria que nasceu no ano passado começou a voar em meados de Agosto.

Actualmente existem 15 casais de abutre-preto no Tejo Internacional e um casal no Douro Internacional. No ano passado, a espécie começou a nidificar no Alentejo, na Herdade da Contenda. Esta é uma espécie classificada como Criticamente em Perigo de Extinção.

 

Porquê a Contenda?

 

Estas aves são muito fiéis aos locais e às colónias onde nasceram e, por isso, não é fácil criar novos núcleos reprodutores, explicou anteriormente à Wilder Eduardo Santos, responsável da LPN. Mas na sua opinião, a Contenda consegue reunir um pacote de “atractivos” para a espécie. “Tal como todos os abutres-pretos da Península Ibérica, estes só nidificam em árvores de grande porte (os ninhos são muito grandes e pesados), em locais sossegados e onde a vegetação é abundante. Esta herdade consegue reunir essas condições.”

Além disso, há alimentação disponível. “Para se alimentarem, estas aves necrófagas percorrem, normalmente, entre 50 a 60 quilómetros. Para este sucesso muito contribuiu a rede de dez campos de alimentação”, seis na zona de Moura-Mourão-Barrancos (um dos quais na Contenda) e quatro no Vale do Guadiana. Na época de nidificação este é um factor particularmente importante. “É crucial na alimentação das crias os abutres terem alimento disponível e seguro, isto é, que não esteja envenenado”, acrescentou.

O declínio desta espécie em Portugal deveu-se à perda de habitat, envenenamento, colisão e electrocussão em linhas eléctricas e diminuição de alimento disponível. Na verdade, o abutre-preto tem um papel crucial na sanidade do ecossistema mediterrânico, ao actuar como agente de limpeza natural, removendo cadáveres.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Eduardo Santos, da LPN, e Gonçalo Elias, do portal Aves de Portugal, dão-lhe as dicas que o vão ajudar a observar abutres-pretos. Leia tudo aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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