Nesta terça-feira, um abutre-preto com cerca de dois anos foi libertado na zona de Freixo de Espada à Cinta, depois de uma longa recuperação. Vai ser seguido à distância no âmbito do projecto Life Aegypius return.
O abutre-preto é uma espécie Criticamente em Perigo de extinção em Portugal, onde existe um reduzido número desta espécie que é considerada o maior abutre da Europa, podendo chegar aos três metros de envergadura. Actualmente, estima-se que existem no país cerca de 40 casais, distribuídos por quatro núcleos reprodutores: Tejo Internacional, Alentejo, Serra da Malcata e Douro Internacional.
Foi precisamente no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), junto à fronteira com Espanha, que o jovem abutre-preto foi devolvido à natureza nesta terça-feira. A ave foi marcada com um emissor GPS para ser acompanhada à distância, pelo projecto Life Aegypius return, e tem também anilhas de marcação que vão ajudar na sua identificação, quer seja observada por telescópio ou com binóculos, indicou Filipe Silva, diretor do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O objectivo deste acompanhamento é “avaliar o sucesso da recuperação e a adaptação da ave ao seu ambiente, bem como ter conhecimento dos seus movimentos de dispersão e eventual longevidade”, informou em comunicado a UTAD. Uma das esperanças da equipa, aliás, é que este abutre-preto se estabeleça na região do Douro Internacional, “onde existe um pequeno núcleo da espécie a nidificar”, avançou também Filipe Silva.
Socializando com outros abutres
Quando foi encontrado em Setembro de 2021 em Alqueidão da Serra, Porto de Mós, na região Centro, o abutre mostrava sinais de “debilidade, fraqueza generalizada e desidratação”, explicou por sua vez o Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS), do Hospital Veterinário da UTAD.
O primeiro ano da recuperação foi passado nas instalações do LxCRAS, no Parque Florestal de Monsanto, onde entretanto “a ave sofreu um traumatismo, que resultou na luxação de uma falange de dois dígitos”. O abutre acabou por ter que ser “intervencionado cirurgicamente, alargando consideravelmente o seu período de recuperação”.
Finalmente, em Dezembro passado, deu-se a transferência para Trás-os-Montes. A fase final da recuperação aconteceu no Centro de Interpretação Ambiental e de Recuperação Animal, em Torre de Moncorvo, cuja gestão clínica é da responsabilidade do CRAS. “Foi aí que este abutre-preto teve oportunidade de socializar com outros indivíduos da espécie e fazer exercícios de musculação e treino de voo, para aumentar as hipóteses de sobrevivência no regresso ao meio selvagem.”
A libertação foi acompanhada por alunos de Medicina Veterinária da UTAD, estudantes do ensino especial do Agrupamento de Escolas de Freixo de Espada à Cinta, comunidade local, vigilantes da Natureza do PNDI, ONG locais e parceiros do projecto LIFE Aegypius Return.