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um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

No Douro Internacional, um dos maiores abutres da Europa foi devolvido à natureza

21.03.2023

Nesta terça-feira, um abutre-preto com cerca de dois anos foi libertado na zona de Freixo de Espada à Cinta, depois de uma longa recuperação. Vai ser seguido à distância no âmbito do projecto Life Aegypius return.

O abutre-preto é uma espécie Criticamente em Perigo de extinção em Portugal, onde existe um reduzido número desta espécie que é considerada o maior abutre da Europa, podendo chegar aos três metros de envergadura. Actualmente, estima-se que existem no país cerca de 40 casais, distribuídos por quatro núcleos reprodutores: Tejo Internacional, Alentejo, Serra da Malcata e Douro Internacional.

Foi precisamente no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), junto à fronteira com Espanha, que o jovem abutre-preto foi devolvido à natureza nesta terça-feira. A ave foi marcada com um emissor GPS para ser acompanhada à distância, pelo projecto Life Aegypius return, e tem também anilhas de marcação que vão ajudar na sua identificação, quer seja observada por telescópio ou com binóculos, indicou Filipe Silva, diretor do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Libertação do abutre-preto. Vídeo: CRAS UTAD

O objectivo deste acompanhamento é “avaliar o sucesso da recuperação e a adaptação da ave ao seu ambiente, bem como ter conhecimento dos seus movimentos de dispersão e eventual longevidade”, informou em comunicado a UTAD. Uma das esperanças da equipa, aliás, é que este abutre-preto se estabeleça na região do Douro Internacional, “onde existe um pequeno núcleo da espécie a nidificar”, avançou também Filipe Silva.

Socializando com outros abutres

Quando foi encontrado em Setembro de 2021 em Alqueidão da Serra, Porto de Mós, na região Centro, o abutre mostrava sinais de “debilidade, fraqueza generalizada e desidratação”, explicou por sua vez o Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS), do Hospital Veterinário da UTAD.

O abutre-preto quando estava em recuperação no CRAS, ligado ao Hospital Veterinário da UTAD. Foto: CRAS UTAD

O primeiro ano da recuperação foi passado nas instalações do LxCRAS, no Parque Florestal de Monsanto, onde entretanto “a ave sofreu um traumatismo, que resultou na luxação de uma falange de dois dígitos”. O abutre acabou por ter que ser “intervencionado cirurgicamente, alargando consideravelmente o seu período de recuperação”.

Finalmente, em Dezembro passado, deu-se a transferência para Trás-os-Montes. A fase final da recuperação aconteceu no Centro de Interpretação Ambiental e de Recuperação Animal, em Torre de Moncorvo, cuja gestão clínica é da responsabilidade do CRAS. “Foi aí que este abutre-preto teve oportunidade de socializar com outros indivíduos da espécie e fazer exercícios de musculação e treino de voo, para aumentar as hipóteses de sobrevivência no regresso ao meio selvagem.”

Durante a última parte da recuperação, em Trás-os-Montes. Foto: CRAS UTAD

A libertação foi acompanhada por alunos de Medicina Veterinária da UTAD, estudantes do ensino especial do Agrupamento de Escolas de Freixo de Espada à Cinta, comunidade local, vigilantes da Natureza do PNDI, ONG locais e parceiros do projecto LIFE Aegypius Return.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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