Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

National Geographic premeia Costa Rica e Colômbia por liderança nas áreas marinhas protegidas

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O antigo Presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado Quesada, e o Presidente da Colômbia, Iván Duque Márquez, receberam ontem o prémio Planetary Leadership Award 2022 da National Geographic Society na Conferência dos Oceanos da ONU.

Ambos os países já conseguiram cumprir a meta de ter, pelo menos, 30% das terras e dos mares protegidos bem antes do prazo previsto, 2030 (o objectivo 30×30).

Até agora já são 100 os países que se juntaram à coligação que quer ver essa meta cumprida (30×30), onde se inclui Portugal.

O Planetary Leadership Award, atribuído ontem durante a Noite dos Oceanos da National Geographic, distingue líderes mundiais que conseguiram estabelecer, com sucesso, áreas protegidas significativas a nível mundial, como parques nacionais, áreas de vida selvagem ou áreas protegidas marinhas, vedadas à exploração.

Foram anteriores vencedores Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, Michelle Bachelet, antiga Presidente do Chile e os antigos Presidentes das Seychelles Danny Faure e James Michel.

“Louvamos os compromissos do Presidente Alvarado e do Presidente Duque com a preservação da incrível biodiversidade dos seus países”, disse Jill Tiefenthaler, CEO of the National Geographic Society. “As suas palavras, decisões e acções são um exemplo planetário da liderança e protecção, ajudando a criar soluções sustentáveis e impactantes para o nosso oceano.”

Hoje, menos de 8% dos oceanos do mundo têm algum tipo de protecção legal e é preciso fazer mais para evitar a rápida perda de biodiversidade e mitigar as alterações climáticas, entende a National Geographic Society.

Alvarado e Duque têm dado o seu contributo para a meta 30×30, oito anos mais cedo do que o prazo definido.

Alvarado aumentou o Parque Nacional da Ilha Cocos 27 vezes, protegendo-o totalmente da pesca e de outras actividades extractivas. A área é hoje de 54.000 quilómetros quadrados em redor da jóia da coroa das águas da Costa Rica, incluindo uma cadeia de montes submarinos por onde migram espécies ameaçadas de grandes predadores, como os tubarões. Além disso, também designou uma nova área, Bicentennial Marine Managed Area, em redor do parque nacional aumentado, conseguindo a meta dos 30% de protecção para as águas marinhas da Costa Rica.

O Presidente Duque aumentou o Santuário Malpelo da Flora e Fauna enquanto zona de pesca zero, protegendo uma cadeia montanhosa subaquática que é a casa de ecossistemas únicos de profundidade e que funciona como uma auto-estrada marinha para espécies ameaçadas de tubarões. Também designou outra área totalmente protegida nas Caraíbas e duas áreas marinhas no Pacífico, chegando assim aos 30% de protecção para as águas marinhas da Colômbia.

“Um oceano saudável é tão vital para o futuro da humanidade como o respirar é vital para cada um de nós, já que gera pelo menos 50% do oxigénio da Terra e absorve um quarto das emissões de dióxido de carbono”, comentou Carlos Alvarado Quesada. “Por isso, precisamos ser muito ambiciosos quanto à protecção do oceano e da sua biodiversidade.”

“A Costa Rica acredita na liderança pelo exemplo e, por isso, a minha administração lançou, juntamente com a França e o Reino Unido a High Ambition Coalition for Nature and People e a meta 30×30. Em Dezembro passado assinei a ordem executiva para aumentar a protecção do nosso mar de 2.7 para 31% de uma só vez. A humanidade tem a oportunidade e a responsabilidade de promover um oceano saudável e resiliente. Vamos a isso.”

Já o Presidente da Colômbia, Iván Duque Márquez, recordou que “as alterações climáticas são uma realidade e uma ameaça ao nosso futuro. É por isso que a Colômbia decidiu agir e fazer parte da High Ambition Coalition for Nature and People”.

“Antes de Agosto deste ano, 30% do nosso território nacional será declarado uma área protegida, oito anos antes do prazo. Não iremos esperar até 2030 para o fazer. Este ano 17 milhões de hectares marinhos farão parte do nosso sistema de áreas protegidas. Já começámos com a expedição à cadeia montanhosa de Beata e com a declaração da Ilha Ají como área protegida. O nosso compromisso é inevitável, não há planeta B. O nosso dever moral é agir agora”, acrescentou.

Ontem à noite foi anunciado que 100 países já se juntaram à High Ambition Coalition for Nature and People, um grupo de países que estão a promover o objectivo 30×30. A ideia é travar a perda acelerada de espécies e proteger habitats em nome das pessoas, das economias, da biodiversidade e do clima. Deverá ser uma peça crucial das negociações em curso no âmbito da Convenção da ONU para a Diversidade Biológica.

“A Costa Rica, França e Reino Unido lançaram um sonho: uma coligação de países que apoiam a protecção de, pelo menos, 30% do nosso planeta até 2030”, disse Enric Sala, explorador residente da National Geographic e fundador da National Geographic Pristine Seas. Desde 2008, este programa fez 35 expedições e apoiou a criação de 26 áreas marinhas protegidas que cobrem 6.5 milhões de quilómetros quadrados de oceano.

“Hoje, esse sonho tornou-se mainstream. A coligação tem 100 nações como membros e continua a crescer.”

Mais de sete mil pessoas, provenientes de mais de 140 países, com cerca de uma centena de delegações representadas a nível político, estão em Lisboa para participar na Conferência dos Oceanos da ONU, de 27 de Junho a 1 de Julho.

A Conferência deverá aprovar a Declaração de Lisboa, um documento que realçará as áreas de atuação inovadoras e baseadas na ciência que permitam apoiar a concretização do ODS 14: conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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