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Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Nasceram as primeiras crias de lince-ibérico do ano em Silves

08.04.2020

A fêmea Jabaluna deu à luz três crias a 6 de Abril no Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro de Lince Ibérico (CNRLI), em Silves, revelou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.

 

Este foi o primeiro parto de 2020 no CNRLI, o único centro português da rede ibérica de centros que faz a reprodução em cativeiro desta espécie de felino de barbas e orelhas com pontas em pincel.

Até hoje já ali nasceram 122 linces, dos quais 89 sobreviveram. Destes, 73 foram reintroduzidos na natureza.

Jabaluna, emparelhada com o macho Hermes, deu à luz “duas crias, aparentemente saudáveis, e uma cria que nasceu com pouca vitalidade” e que acabaria por não vingar após o parto, segundo o ICNF. As duas crias estarão a ser bem cuidadas pela progenitora, “tendo em conta o perfil maternal que tem mantido ao longo dos anos”.

Foi a terceira vez que Jabaluna deu crias ao Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico. A primeira foi em 2017, ano em que teve três crias.

 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-situ/Arquivo

 

Jabaluna foi, ela própria, uma cria que marcou a história da reprodução em cativeiro desta espécie. Jabaluna nasceu em Março de 2012 no centro andaluz de El Acebuche (Doñana). Mas a sua mãe, Boj, abandonou-a pouco depois. Jabaluna, uma cria ainda sem nome, passou uma semana em cuidados intensivos numa incubadora. Acabou por protagonizar a primeira vez que um centro de reprodução conseguiu que uma mãe aceitasse de volta uma cria que tinha abandonado.

Quanto ao lince Hermes, é é filho de Caña e Flecha e nasceu no Centro de Cría de La Olivilla, em Jaén. Já foi pai de três ninhadas no CNRLI, com Fresa (quatro crias) e Jabaluna (sete crias), das quais sobreviveram sete crias, tendo quatro sido reintroduzidas na natureza.

Nesta temporada reprodutora, ainda se aguardam para os próximos dias os partos de Fresa, Juncia e Juromenha, “previsivelmente já durante o próximo fim-de-semana”, adianta o ICNF.

 

Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

 

“A natureza continua a fazer-se sentir em Silves e já temos mais dois linces novos em Portugal, o que é um motivo de esperança para o seu futuro. Todos juntos, quer no Centro de Reprodução, quer na área de reintrodução e em conjunto com as populações e os agentes locais continuamos a trabalhar em prol da preservação desta espécie.”

O Programa de Conservação Ex-situ dedicado a esta espécie estima que este ano deverão nascer entre 37 e 45 crias de lince-ibérico nos cinco centros de reprodução em Portugal e Espanha. Há 26 casais reprodutores: oito em La Olivilla, seis no CNRLI, seis em El Acebuche (Doñana), cinco em Zarza de Granadilla e um no Zoo de Jerez.

Este número de casais foi decidido tendo em conta as instalações disponíveis em cada um dos centros de reprodução e as necessidades de animais para serem libertados nas várias áreas de reintrodução.

À semelhança dos anos anteriores, cerca de 90% das crias que nasçam em 2020 serão preparadas para a sua libertação na natureza. As restantes passarão a fazer parte do grupo reprodutor do Programa de Conservação Ex-situ, “com o objectivo de manter uma adequada diversidade genética e equilíbrio demográfico”.

 

Libertação do lince-ibérico Macela. Foto: ICNF (arquivo)

 

O lince-ibérico (Lynx pardinus) tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O programa Ex-Situ de reprodução em cativeiro é apenas uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

Graças ao trabalho conservacionista, o lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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