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Mudanças do clima são ameaça forte para o leopardo das neves

27.10.2015

O leopardo das neves (Panthera uncia) vive nas regiões montanhosas da Ásia Central, normalmente acima dos 3000 metros de altitude. Camufla-se muito bem contra a paisagem e é raramente avistado, pois evita os humanos, pelo que é conhecido por “fantasma das montanhas”.

Agora, um novo relatório do World Wild Fund (WWF) avisa que são necessárias medidas urgentes para evitar o desaparecimento definitivo da espécie, que nos últimos 16 anos terá perdido 20% da sua população e está classificada como “Em Perigo”. Calcula-se que existem actualmente entre 4080 e 6590 leopardos das neves a viver em liberdade na natureza.

O território deste grande felino espalha-se por 12 países da Ásia Central, nas terras mais altas do Afeganistão, Butão, Índia, Cazaquistão, Quirguistão, Mongólia, Nepal, Paquistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão. Mas é na China que se concentra 60% do habitat desta espécie.

No entanto, o crescimento da ocupação humana e da criação de gado a altitudes cada vez mais elevadas, além da construção de numerosas estradas e minas, estão a fragmentar e a degradar os territórios naturais onde vive a espécie.

Como algumas das presas habituais do leopardo das neves estão também em perigo, este tem cada vez menos alimento disponível. É também uma vítima crescente do tráfico ilegal de peles de animais e de conflitos com as comunidades humanas.

O leopardo das neves ocorre num dos ambientes de maior altitude do planeta, sendo também um dos mais agrestes. Por isso, poucas pessoas partilham o seu habitat, mas “esta é uma das mais importantes paisagens do planeta para as pessoas”, sublinha o relatório da WWF, sob o título “Conecções frágeis: Leopardos das neves, pessoas, água e clima global”.

Uma das grandes ameaças são agora as mudanças no clima, como o aquecimento global, avisa o novo relatório.

“Necessitamos de acção urgente para travar as mudanças climáticas e prevenir uma ainda maior degradação do habitat do leopardo das neves, pois de outra forma o ‘fantasma das montanhas’ poderá desaparecer, juntamente com importantes reservas de água que abastecem centenas de milhões de pessoas”, afirmou Rishi Kumar Sharma, líder do programa global para a conservação da espécie lançado pela WWF, citado num comunicado da organização.

Mais de 2000 milhões de pessoas utilizam água das bacias aquíferas que têm origem nas terras onde habita este leopardo. Destas, cerca de 330 milhões vivem a menos de 10 quilómetros de um dos vários rios com origem nessas montanhas.

“A água do habitat do leopardo das neves alimenta alguns dos rios mais importantes da Ásia, como o Ganges, o Indus, o Yangtze e o rio Amarelo, que correm através de algumas das mais densamente povoadas partes do planeta”, descreve o novo relatório.

Prevê-se que o aumento das temperaturas nestas regiões vai aumentar a altitude a que nascem as árvores nas montanhas, diminuindo os territórios despidos de arvoredo onde este leopardo costuma caçar e aumentando a quantidade de plantas que não são alimento adequado para as suas presas habituais.

É o caso do Carneiro-azul-anão (Pseudois schaeferi), do ‘markhor’ (Capra falconeri) e do ibex (Capra ibex), três espécies de caprinos selvagens que já hoje estão sob pressão da caça e da redução dos habitats.

A subida das temperaturas também deverá expandir a área das colheitas e alterar o calendário que rege a disponibilidade de água, derretendo os glaciares e o permafrost, temem os especialistas do WWF. Estas mudanças significam ainda mais aridez nas montanhas e menos água disponível.

Na verdade, mais de um terço do território actual do leopardo das neves pode perder-se se continuar as mudanças de clima, sublinha a organização.

 

Faltam estudos

 

Por outro lado, o WWF acrescenta que o leopardo das neves está ainda pouco estudado: pouco se conhece sobre os seus hábitos de acasalamento e alimentares.

Uma das razões é a falta de estudos e pesquisas realizados em grande parte do território onde ocorre, pois apenas 14% desses mais de 200.000 km quadrados foram alvo de actividades de pesquisa ou conservação.

“A conservação efectiva do leopardo das neves depende de conhecermos mais sobre este ícone das montanhas altas e sobre o próprio ambiente das montanhas”, aconselham os autores do relatório.

Em 2013, os 12 Estados onde ocorre este animal comprometeram-se com o Programa de Protecção Global do Leopardo das Neves e do Ecossistema: uma parceria entre governos, agências internacionais, sociedade civil e o sector privado.

A WWF lançou por seu turno o primeiro plano de acção para esta espécie, que entre várias medidas prevê a continuação de financiamento para pesquisa científica, incluindo o uso de câmaras-armadilha e de emissores de satélite para se conhecer mais sobre este grande felino.

 

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Alguns factos curiosos sobre o leopardo das neves:

Tem entre 86 e 126 cm de comprimento, excluindo a cauda, que é tão comprida como o resto do corpo. Pensa-se que a utilizam para se equilibrarem, mas também a enrolam à volta de si mesmos para se aquecerem.

Um macho adulto pesa entre 45 e 55 kg.

O leopardo das neves é reconhecido pela sua longa cauda e pelo bonito pêlo quase branco, com pequenas rosetas pretas.

É uma espécie prioritária da WWF, ou seja, considerada uma das com maior importância ecológica, económica e cultural do planeta.

Este felino pode saltar uma distância de 15 metros e não consegue rugir, ao contrário do leão e do tigre.

Vive normalmente entre 3000 a 4500 metros de altitude, mas já foi avistado acima dos 5500 metros de altitude, nos Himalaias. Nos territórios mais a Norte, também ocorre em altitudes mais baixas.

Além do carneiro-azul-anão (Pseudois schaeferi), do markhor (capra falconeri) e do ibex (Capra ibex), alimenta-se também de pequenos roedores, marmotas (Marmota sp.), ibex siberiana (Capra sibirica) e lebres (Lepus sp), entre outras espécies.

É uma espécie solitária e só se junta em casal na altura do acasalamento.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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