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Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Morreu Calabacín, um dos primeiros linces a chegar a Silves

16.10.2018

Há 10 anos no programa de reprodução do lince-ibérico em cativeiro, Calabacín teve seis descendentes. Morreu de forma repentina na madrugada de 11 de Outubro.

 

Calabacín foi capturado na natureza em 2008, depois de os peritos terem detectado que tinha uma lesão ocular.

“Ao comprovar-se que o exemplar tinha perdido por completo a visão num olho e que tinha o outro muito afectado, decidiu-se o seu ingresso no programa de reprodução em cativeiro da espécie”, explica o programa Ex-Situ.

Este foi um dos primeiros linces a chegar ao Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico (CNRLI) em Silves. Emparelhado com Era, foi um dos quatro casais que, em 2010, deram início ao esforço de reprodução do lince-ibérico (Lynx pardinus) em cativeiro em Portugal, para ajudar a restabelecer as populações da espécie na natureza.

Mais tarde soube-se que era portador de epilepsia.

Em Agosto deste ano, Calabacín foi um dos linces retirados de emergência do CNRLI, em Silves, por causa do incêndio de Monchique. Desde então estava no Centro de Reprodução de El Acebuche, em Doñana (Andaluzia).

“Ali permaneceu sem mostrar qualquer tipo de anomalia, até à noite de dia 11 de Outubro quando, lamentavelmente, às 05h20, Calabacín teve uma série de episódios convulsivos e faleceu.”

O cadáver foi levado para o Centro de Análise e Diagnóstico de Fauna Silvestre da Consejería de Ambiente da Junta da Andaluzia para a realização da necropsia que poderá trazer mais informação sobre a sua morte.

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O programa Ex-Situ de reprodução em cativeiro é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

Hoje, esta é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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