Foto: David Perez/Wiki Commons

Mais de uma em cada cinco espécies de répteis ameaçadas de extinção

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A primeira avaliação geral do risco que correm mais de 10.000 espécies de répteis por todo o mundo foi agora publicada por uma equipa internacional de cientistas na revista Nature.

O artigo científico compara como estão hoje 10.296 espécies de répteis incluídas na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. “Os répteis do estudo incluem tartarugas, crocodilos, lagartos, cobras e o tuatara, o único membro vivo de uma linhagem que evoluiu no período Triássico, aproximadamente há 200 a 250 milhões de anos”, descreve uma nota de imprensa da NatureServe, entidade que coordenou o estudo em conjunto com a UICN e a Conservation International.

A equipa de 52 investigadores analisou os dados do Global Reptile Assessment (“Avaliação Global dos Répteis”, em português), que junta contributos de mais de 900 cientistas, e concluiu que pelo menos 21% das espécies de répteis a nível mundial estão hoje ameaçadas de extinção – mais de uma em cada cinco.

Mas nem tudo são más notícias. Os cientistas perceberam também que os esforços que muitas vezes se dedicam a conservar outros animais ameaçados, como mamíferos, aves e anfíbios, acabam a beneficiar também os répteis que com eles partilham o habitat.

Por outro lado, apesar de se acreditar que cobras e lagartos vivem principalmente em locais áridos e inóspitos, como os desertos, a verdade é que a maioria vive em florestas, “onde tanto eles como outros grupos de vertebrados sofrem com ameaças como o abate de árvores para madeira e a conversão em terrenos agrícolas”, explicam os cientistas. Com efeito, o estudo descobriu que 30% dos répteis em florestas estão agora em risco de extinção, mais do dobro dos 14% de répteis que vivem em habitats áridos e estão igualmente ameaçados.

Cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), um dos répteis mais comuns em Portugal. Foto: Alexandre Roux/Wiki Commons

“Fiquei surpreendido com o grau em que mamíferos, aves e anfíbios, colectivamente, podem servir como indicadores biológicos [‘surrogate species’, em inglês] para os répteis”, comentou Bruce Young, co-líder do estudo e zoologista-chefe na NatureServe. “Isso são boas notícias porque os esforços para proteger melhor animais mais conhecidos parece que também contribuíram para proteger muitos répteis.”

Fósseis vivos

Se os esforços de conservação falharem e as 1.829 espécies de répteis que estão hoje em risco de extinção desaparecerem da Terra, iríamos perder um total de 15,6 mil milhões de anos de história evolucionária, incluindo “inúmeras adaptações à vida em ambientes diversos”, explica a nota de imprensa.

Mike Hoffman, da Sociedade Zoológica de Londres, nota que “desde tartarugas que respiram através dos seus genitais, até camaleões do tamanho de uma ervilha, os répteis são um bando eclético”. “Muitos répteis, como o tuatara ou a tartaruga-nariz-de-porco, são como fósseis vivos, cuja perda significaria o fim não só destas espécies que têm papéis únicos nos seus ecossistemas, mas também muitos milhares de milhões de anos de história evolutiva.”

Tuatara (Sphenodon puntactus), uma espécie endémica da Nova Zelândia. Foto: PhillipC/Wiki Commons

E apesar de muitos répteis receberem a ajuda de planos de conservação que não foram desenhados especificamente para eles, muitos necessitam de medidas que sejam mais directas, alertam também os cientistas.

Em causa estão especialmente os lagartos endémicos das ilhas, ameaçados por predadores introduzidos como gatos e ratazanas, e as espécies mais directamente afectadas pelos humanos. Um exemplo são as tartarugas e os crocodilos, principalmente ameaçados pela caça e não por alterações nos seus habitats. Metade destes correm risco de extinção.

A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) está classificada como Vulnerável à extinção. Foto: Rabon David, U.S. Fish and Wildlife Service

As conclusões do estudo vão ajudar a medir as alterações na situação futura dos répteis e vão servir também para informar decisões sobre onde e como aplicar recursos em estratégias de conservação, explica a equipa.

“Muitas vezes os répteis não são usados para inspirar acções de conservação, mas são criaturas fascinantes e desempenham papéis indispensáveis em ecossistemas por todo o planeta”, lembra Sean T. O’Brien, presidente da NatureServe. “Beneficiamos todos do seu papel no controlo de espécies que são pestes e do facto de servirem como presas para aves e outros animais.”


Saiba mais.

Descubra as espécies de répteis que se encontram em Portugal e que já foram publicadas no consultório “Que Espécie é Esta?”, aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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