Especialistas e investigadores em tubarões enviaram uma carta pública ao comissário europeu do Ambiente, Oceano e Pescas, Virginijus Sinkevičius, exigindo “medidas urgentes e cruciais”.
Em causa está a recuperação e protecção de uma das espécies de tubarões mais ameaçadas do Oceano Atlântico, o anequim, também conhecido como tubarão mako.
“O papel da União Europeia (UE) é decisivo, tendo em conta que grande parte das capturas desta espécie no Atlântico Norte são realizadas por Espanha e Portugal, tendo por isso a carta sido subscrita por vários investigadores dos dois países”, informam os subscritores sobre esta carta pública, num comunicado enviado à Wilder.
Reunião decisiva em Novembro
Esta é uma altura muito importante, explicam, uma vez que os “os representantes dos estados-membros da UE estão a definir a posição que vão assumir na próxima reunião anual da Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT), marcada para meados de Novembro”. Nesse encontro, vão ser discutidas e decididas medidas de gestão para várias populações de peixes do Atlântico, incluindo o anequim. “Este será um momento-chave que, inevitavelmente, moldará o futuro desta espécie”, sublinham os investigadores.
Este grupo de especialistas defende desde logo a proibição da retenção de anequins a bordo das embarcações de pesca, ou seja, “os pescadores teriam de libertar imediatamente estes animais quando trazidos a bordo”. Avançam também com outras propostas para proteger este predador de topo ameaçado de extinção, nomeadamente “medidas de gestão específicas para prevenir o melhor possível capturas acidentais” – que acontecem quando estes tubarões são pescados por acidente no âmbito da pesca de outras espécies – e “recolher mais informações sobre as suas áreas de distribuição e reprodução”.
“Alguns países propuseram, e continuam a propor, estas medidas no seio do ICCAT”, afirmam também os signatários. “A questão é se a UE irá finalmente alinhar-se às recomendações científicas e apoiar a implementação destas medidas.”
Um incrível predador oceânico
“Considerando a responsabilidade da UE nas capturas de anequins e os compromissos assumidos como líderes mundiais na protecção da biodiversidade marinha, esperamos que a UE finalmente oiça a ciência e se torne numa campeã para a conservação dos anequins”, afirma João Correia, professor no Instituto Politécnico de Leiria e membro do Grupo de Especialistas em Tubarões da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), e um dos cientistas que fazem parte deste grupo.
João Correia acrescenta, citado no comunicado, que “o anequim é um exemplo primordial de um incrível predador oceânico que os humanos colocaram numa situação terrível num prazo relativamente curto”. Em causa está principalmente a “elevada pressão pesqueira, nomeadamente de embarcações portuguesas e espanholas”. “A sua população no Atlântico Norte está numa fase tão crítica que as capturas precisam de ser completamente interrompidas para que possa recuperar nos próximos 25 anos”, afirma o mesmo especialista.
A maioria das capturas de anequim têm na verdade como alvo o espadarte e o tubarão-azul. São feitas por embarcações que pescam com palangre, uma longa linha com milhares de anzóis ao longo desta. “E infelizmente uma grande parte dos indivíduos capturados são juvenis [de anequim] que ainda não tiveram a oportunidade de se reproduzir, prejudicando ainda mais as hipóteses de recuperação desta população”, adiantam os signatários.
Este e outros fatores levaram à inclusão do anequim no Apêndice II da CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, em Agosto de 2019, que confirma o alarmante estado de conservação desta espécie. Esta decisão baseou-se em vários estudos científicos e no facto de as atuais medidas de gestão em vigor não impedirem o esgotamento das várias populações deste tubarão.
Em Dezembro passado, Espanha e Portugal emitiram uma proibição de desembarque para os anequins capturados em alto-mar, no Atlântico Norte. Os dois países foram entretanto mais longe, ao alargar esta proibição às capturas em águas nacionais. “No entanto, as autoridades pesqueiras da UE continuam a insistir em querer que as frotas da UE possam capturar esta espécie, contrariando os pareceres científicos e a proibição atual de desembarques em Portugal e Espanha”, lamentam estes cientistas.