Há muitos anos que os cientistas queriam perceber quais são os números verdadeiros de focas de Weddell, uma espécie importante na Antártida, mas só agora tiveram sucesso. E perceberam que as estimativas anteriores estavam distantes do que será a realidade.
A foca-de-Weddell (Leptonychotes weddellii) são as focas que têm a sua área de distribuição mais a sul do planeta e passam uma boa parte dos dias por baixo do gelo, a guardar os seus territórios e em busca de comida como bacalhau, pequenos crustáceos e polvos. São também um indicador importante para o estado de saúde do gelo e dos complexos ecossistemas da Antártida.
No entanto, durante muitos anos, as estimativas de quantas focas-de-Weddell haveria não passavam de pouco mais do que aquelas contas que fazemos na parte de trás dos envelopes, contou Michelle LaRue, professora associada da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, numa notícia do The Guardian.
As focas eram observadas pelos métodos clássicos – a partir de embarcações ou contadas em voos de avião – mas era impossível abarcar um território tão vasto como é a Antártida e por isso os resultados eram “imprecisos”.
Finalmente, em 2016, esta investigadora teve a ideia de recorrer à ajuda de voluntários para ajudar a contar as focas através de imagens de satélite. Mais de 300.000 pessoas aderiram ao projecto e analisaram imagens de satélite da Antártida, para confirmarem se conseguiam perceber alguma silhueta de focas ou não, clicando na opção correspondente. Quantas mais pessoas clicassem que sim, mais focada naquela área do mapa ficava a busca.
Os resultados de todo este esforço foram publicados na revista científica Science Advances no final do ano passado. A equipa concluiu que os números agora obtidos, a partir de imagens de satélite de 2011, ficam 40% abaixo de estimativas anteriores sobre os números totais desta espécie, que apontavam para 800.000 animais.
Em vez disso, foram observados 202.000 sub-adultos e focas fêmeas. Os machos não foram contados pois passam a maior parte dos dias debaixo do gelo.
A grande diferença encontrada face ao que se pensava antes, explica a mesma responsável, está principalmente relacionada com a pouca eficácia dos métodos tradicionais de contagens no caso destas focas. Ainda assim, alguns sinais de declínio podem também estar relacionados com mudanças na cadeia alimentar, disse La Rue ao jornal britânico.
Esta não foi a única vez que satélites foram usados para estudar e contar populações de animais. Em 2020, foi anunciada a descoberta de 11 novas colónias de pinguins-imperador pelo British Antarctic Survey, a partir de imagens captadas do espaço.
E por estes dias está em curso uma nova campanha muito semelhante à das focas-de-Weddell, mas que se foca no Ártico, na região do Pólo Norte, intitulada “Morsas do Espaço”. Nesta parceria entre a instituição britânica e a organização internacional WWF, voluntários ajudam a contar morsas em imagens de satélite que analisam nos seus computadores pessoais.