O projecto Life Berlengas teve até agora mais de 150 voluntários de várias nacionalidades durante os últimos 3 anos. Joana Andrade, coordenadora do projecto, contou à Wilder como estão a decorrer os trabalhos no arquipélago ao largo de Peniche.
Entre os voluntários, os portugueses estão em maioria, seguidos pelos espanhóis e italianos. Mas também há franceses, ingleses, alemães e polacos, descreve esta responsável da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), entidade que coordena o Life Berlengas (Junho de 2014-Setembro de 2018).
Participam em equipas de sete ou oito pessoas que misturam técnicos e voluntários e permanecem na ilha da Berlenga uma ou duas semanas, a ajudar na remoção de chorão – uma das espécies invasoras na ilha – e a participar em todas as outras tarefas que estão ligadas a este projecto cofinanciado pela União Europeia.
Principal objectivo do projecto? “Compreender as principais ameaças que afectam os valores naturais das Berlengas, em terra e no mar, e definir estratégias para as minimizar e erradicar”, adianta uma nota de balanço divulgada pela SPEA.
“Os voluntários não apanham apenas chorão. Também fazem monitorização de aves, seguimento dos ninhos, observam a vegetação nativa da ilha, constroem ninhos artificiais e monitorizam as visitas à ilha, isto em especial durante a época balnear”, explica Joana Andrade.
As inscrições para voluntariado fazem-se através do site da SPEA. Embora para 2017 as vagas estejam já esgotadas, há quem arrisque ficar em lista de espera. E o melhor é ficar-se atento, pois logo que abrem lugares são rapidamente ocupados: “Em breve teremos o calendário [dos trabalhos] para 2018 e à partida teremos necessidades até Junho”, adianta a mesma responsável.
Nos primeiros dois anos, os voluntários ajudaram também a perceber a situação das populações de ratos-pretos e de coelhos – invasoras na ilha e uma ameaça para outras espécies, como as galhetas e as cagarras. No caso dos ratos-pretos, calculou-se que haveria entre 2.800 e 3.100 desses roedores.
Mas para já, as acções para erradicação parecem ter tido sucesso e estima-se que nestes últimos três anos o número de ratos baixou drasticamente – algo que terá de ser confirmado durante os próximos meses, ressalva Joana Andrade.
Quanto ao chorão, outra espécie invasora, nos últimos três anos foi arrancado mais de metade do tapete que ocupava a ilha, sendo “a área já removida equivalente a quase dois campos de futebol”. Resultado? “A recuperação de espécies nativas como a erva-vaqueira-ibérica ou a escrofulária”, indica por sua vez a nota da SPEA.
Futuro da arméria-das-berlengas em perigo
Já a arméria-das-berlengas, “a mais visível e carismática” das plantas endémicas da ilha, “revelou altas taxas de contaminação e mostra taxas de germinação muto baixas, o que significa que o futuro da espécie está em perigo”, admite a associação.
A colaboração com pescadores tem sido outras das várias acções do projecto. Até agora, foram colocados painéis contrastantes nas redes de emalhar em quatro barcos de pesca. “Na prática, são quadrados com tiras pretas e brancas em tecido, para serem vistos debaixo de água pelas aves mas sem afastar os peixes”, descreve Joana Andrade.
Em contraste com o trabalho com os pescadores, que “tem sido muito bom”, o número de pessoas que visitam a ilha é “um problema com difícil resolução à vista”.
“Em alguns dias de Verão são contabilizadas mais de 1000 pessoas na ilha o que pode trazer não só problemas de segurança devido à elevada concentração em alguns locais, mas também dificuldades na gestão de resíduos e saneamento”, avisa a SPEA.
São também parceiros do projecto o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, a Câmara Municipal de Peniche, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova e a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria.
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Saiba mais.
Leia testemunhos de alguns dos voluntários no Life Berlengas, no Diário de Bordo.
Acompanhado pela Wilder, faça uma visita guiada a este projecto de recuperação da natureza nas Berlengas.