Banner

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Linces começam a regressar a Silves

07.12.2018

O Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), afectado pelo incêndio de Agosto, começou esta semana a receber os 29 animais que passaram os últimos meses em centros espanhóis, revelou o ICNF.

 

Os primeiros quatro linces a regressar chegaram ao CNRLI a 4 de Dezembro, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

“Até à próxima semana, regressarão ao CNRLI os restantes animais, que foram acolhidos nos centros espanhóis de El Acebuche, La Olivilla e Zarza de Granadilla, em Espanha.”

Neste momento estão em fase de finalização as obras de recuperação do CNRLI, informa o mesmo instituto.

O incêndio que deflagrou a 3 de Agosto na serra de Monchique acabou por chegar ao Vale de Fuzeiros, onde está instalado o CNRLI. Na altura estavam no centro 29 linces, seis dos quais (quatro fêmeas e dois machos) são crias que nasceram este ano e que tinham, então, cerca de cinco meses de idade.

 

Transporte dos linces. Foto: Forças Armadas Portuguesas

 

Os maiores danos do incêndio no CNRLI registaram-se nos cercados do centro, disse em Agosto à Wilder Rui Pombo, membro da direcção do ICNF.

Segundo o levantamento dos danos, cerca de 50% dos cercados da ala norte tiveram “impactos muito, muito significativos”.

Ainda assim, nem todos os cercados ficaram totalmente danificados. “Aliás, há cercados que não sofreram qualquer impacto”, mais concretamente na ala Sul, acrescentou.

Além da rede dos cercados, foi preciso substituir câmaras de videovigilância, a rede eléctrica e de fibra óptica, as redes de ensombramento, as caixas parideiras e as caixas ninho e os marouços construídos para distribuir coelhos nos cercados, por exemplo.

A evacuação do CNRLI começou a 8 de Agosto. Doze linces foram levados para o centro La Olivilla (Jaén), com capacidade para 23 animais, nove para o centro de Zarza de Granadilla, em Cáceres, com capacidade para 16 animais, e oito para o centro de El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana (Huelva) e que tem capacidade para 18 linces.

 

O CNRLI

O CNRLI, em Vale de Fuzeiros (Silves), é o único centro português que faz parte da rede ibérica de reprodução em cativeiro. Foi inaugurado a 22 de Maio de 2009, como medida de compensação pela construção da barragem de Odelouca. Para trás ficaram cinco anos de preparação.

 

CNRLI antes do incêndio. Foto: Joana Bourgard/Wilder/arquivo

 

A equipa técnica instalou-se no centro a 1 de Junho de 2009 – depois de meses de formação em Espanha – e o primeiro lince, a fêmea Azahar, chegou a 26 de Outubro de 2009, vinda do Zoo de Jerez.

Lá trabalha uma equipa de 13 pessoas que garante o seu funcionamento e que é coordenada por Rodrigo Serra, veterinário e director técnico. Há 16 cercados, cada um com 1.000 metros quadrados e câmaras de video-vigilância, e com capacidade máxima para 32 linces.

O grande objectivo do CNRLI, que não é visitável, é conseguir crias saudáveis, treiná-las para a liberdade e, meses depois, soltá-las na natureza, para que novas populações de linces voltem aos territórios de onde se extinguiram há décadas.

 

Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

 

A primeira temporada reprodutora, que aconteceu em 2009/2010, resultou em três crias que não conseguiram sobreviver. Em oito anos, 74 de 103 crias conseguiram sobreviver. Dessas 74, 11 continuam no programa ibérico de reprodução em cativeiro, distribuídas pelos cinco centros de Portugal e Espanha. As outras 63 foram reintroduzidas na natureza, como reforço das populações selvagens, quase uma média de 11 por ano.

 

O lince-ibérico

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O programa Ex-Situ de reprodução em cativeiro é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

 

Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ

 

Hoje, esta é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Actualmente, os únicos 547 linces-ibéricos do planeta vivem na Andaluzia (em quatro zonas: Doñana-Aljarafe, Andújar-Cardeña, Guarrizas e Guadalmellato), na Extremadura espanhola (Valle del Matachel), em Castela-La Mancha (Serra Morena Oriental e Montes de Toledo) e no Vale do Guadiana (Mértola e Serpa).

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do CNRLI em Silves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss