Tetraz pirenaico. Foto: SEO/birdlife

Lançado alerta para extinção do tetraz nos Pirinéus aragoneses até 2053

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Apenas restam 40 machos de tetraz (Tetrao urogallus) nos Pirinéus aragoneses, alertou hoje a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/BirdLife). A situação é crítica e esta ave poderá mesmo desaparecer da região até 2053, denuncia.

Se continuar a tendência actual, o tetraz pode extinguir-se em 2053 por causa de uma cada vez maior redução das suas populações e da distância entre elas.

Tetraz pirenaico. Foto: SEO/birdlife

O tetraz pirenaico é, em conjunto com o tetraz cantábrico, a subespécie de tetraz mais primitiva do mundo – por ter ficado isolada nos Pirinéus durante a época glaciar e sem nenhuma ligação com as outras populações da Europa durante dezenas de milhares de anos. Os Pirinéus é o limite Sul da distribuição mundial de tetrazes.

Esta espécie deverá ter nidificado em Portugal, particularmente na serra do Gerês, tendo-se provavelmente extinguido há cerca de 100 anos, segundo o portal Aves de Portugal. “As zonas de nidificação mais próximas situam-se no norte de Espanha, não havendo notícia da ocorrência recente desta espécie no nosso país.”

O primeiro censo à espécie em Aragão, em 1990, contabilizou 154 machos; mas no último censo, realizado em 2017, apenas restavam 40. A população aragonesa registou um declínio de 74%.

Esta situação crítica levou à declaração do tetraz como espécie Em Perigo de extinção pelo Governo espanhol e Criticamente Em Perigo no Livro Vermelho das Aves de Espanha (2021).

O tetraz, grande galináceo, tem a plumagem escura – em tons de preto, castanho e verde -, bico amarelado e uma faixa avermelhada sobre os olhos (os machos). As fêmeas são acastanhadas. Os machos pesam cerca de três quilos.

O tetraz pirenaico vive em bosques de pinheiros negros onde abundam os rododendros e plantas com bagas. Alimenta-se de folhas, bagas e rebentos; as crias comem invertebrados.

Principais ameaças

Se bem que as causas do declínio desta ave se possam atribuir a uma baixa produtividade – uma cria sobrevivente por cada duas fêmeas – ou a um possível aumento dos javalis, raposas, veados ou corços, “o certo é que hoje a fragmentação dos habitats onde vive e o cada vez maior peso do turismo – por causa do aumento de trilhos sinalizados – é, provavelmente, um dos factores que mais está a contribuir para o seu declínio e extinção”, considera a SEO/Birdlife.

Por isso, a organização entende que é necessário sensibilizar mais a população para evitar comportamentos negativos (ruído, cães à solta, sair dos trilhos, etc) que afectam esta espécie ameaçada. Além disso apela ao governo de Aragão para que, através do Plano de Desenvolvimento Rural, financie acções dirigidas à melhoria do habitat e outras para salvar a espécie.

Mas os tetrazes pirenaicos não são os únicos em regressão. Os tetrazes têm contra si vários factores, sendo um deles a baixa taxa reprodutiva. “Este fracasso reprodutor está relacionado com uma baixa qualidade do habitat, o efeito das alterações climáticas nos habitats de montanha e o efeito da depredação”.

De momento, os esforços para salvar a espécie focam-se na melhoria da qualidade do habitat, através de uma gestão florestal, na redução da depredação e no reforço populacional.

“É urgente que o governo de Aragão assuma a gravidade da situação dos seus últimos tetrazes e ponha em marcha um plano de medidas urgentes e consensuais no âmbito do grupo de trabalho do tetraz do Ministério do Ambiente (MITECO)”, defende a SEO/Birdlife.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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