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Jardins Botânicos Reais de Kew atingem marco de 1 milhão de espécimes digitalizados

07.08.2023
Projecto de digitalização de Kew. Foto: RBG Kew

A 12 de Julho, os Jardins Botânicos Reais de Kew, no Reino Unido, alcançaram um feito histórico na missão de digitalizar toda a sua colecção de plantas e fungos. O projecto a quatro anos atingiu a marca de 1 milhão de espécimes digitalizados. “Só” faltam 7 milhões.

A equipa por detrás deste projecto diz estar a desbloquear um conjunto rico de informações sobre a vida na Terra, incluindo dados sobre espécimes históricos raros que hoje só existem nas suas coleções.

O projecto arrancou em Março de 2022 e desde então está a digitalizar, com a ajuda de scanners, espécimes de plantas e de fungos guardados nas colecções de Kew para que possam estar acessíveis, gratuitamente, a qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Isto inclui cientistas que poderão usar os espécimes digitalizados, através de um novo portal que deverá estar disponível no Outono.

A 12 de Julho foi digitalizado o espécime 1 milhão, um Allium ramosum – espécie nativa da Ásia Central e Rússia -, mas a colecção tem mais de oito milhões.

O projecto conta com a ajuda preciosa de mais de 160 voluntários que se juntaram às equipas de Kew. Os voluntários digitalizam cercam de 800 espécimes por semana e já trabalharam em mais de 9.000.

Um desses voluntários é o jornalista reformado Ben Hirschler. “Sempre adorei vir aos Jardins de Kew e a sua missão de compreender e proteger as plantas e os fungos parece hoje ser mais importante do que nunca”, conta. “Quis encontrar um papel como voluntário que valesse a pena, para a minha reforma, e decidi participar no dia aberto que Kew organizou sobre este projecto. Gostei da sensação de poder contribuir, de uma pequena forma, para espalhar conhecimento que possa ajudar esforços de conservação e a melhorar o conhecimento científico. É fascinante estar imerso e seguir expedições que recolheram espécimes espantosos desde as selvas do Bornéu ao Kilimanjaro, muitos datando do século XIX ou antes.”

“O repositório digital de espécimes de plantas e fungos vai oferecer conhecimentos valiosos sobre alguns dos maiores desafios que o planeta enfrenta hoje, como mapear espécies em risco de extinção e compreender o potencial impacto das alterações climáticas nos ecossistemas, culturas agrícolas e comunidades locais”, comentou Kew em comunicado.

“Cada espécime encerra informação crucial sobre o que crescia num dado lugar numa dada altura”, explica Sarah Phillips, coordenadora do projecto. “Isto permite-nos monitorizar alterações na distribuição das plantas ao longo do tempo para uma dada região, ajudando-nos a compreender de que forma está o clima do nosso planeta a mudar e como nos podemos adaptar para garantir a segurança alimentar para as gerações futuras.”

Entre os espécimes já digitalizados está uma Phaseolus mollis recolhida por Charles Darwin nas suas expedições às ilhas Galápagos e a Streblorrhiza speciosa, um arbusto perene da ilha Philip, Austrália, que estará extinto na natureza.

As coleções históricas de Kew estão a ser usadas para compreendermos como evoluíram plantas e fungos face às mudanças do Ambiente e das práticas agrícolas. Além disso, permitem saber coisas novas, como por exemplo o facto de que 60% das espécies selvagens de café estarem hoje ameaçadas de extinção.

Mas “a digitalização dos espécimes de plantas e fungos de Kew não é importante apenas para a comunidade científica, é também para o público em geral”, destaca a instituição. “Vai permitir que qualquer pessoa com ligação à Internet possa aceder a informação e imagens destes espécimes e aprender mais sobre a incrível diversidade da vida no nosso planeta.”

Para Paul Kersey, director do Departamento de Ciência e Investigação dos Jardins, atingir 1 milhão de espécimes digitalizados “é um feito significativo e um testemunho da dedicação e do trabalho de todos os envolvidos naquele que é o nosso maior projecto até à data”. “O que é mais entusiasmante é que já estamos a perceber o impacto deste trabalho com os investigadores a usarem as nossos colecções digitalizadas para resolver alguns dos maiores desafios que o nosso planeta enfrenta hoje. Tendo isto em conta, o impacto de abrir a nossa colecção inteira de mais de oito milhões de espécimes será imenso.”

Os Jardins Botânicos Reais de Kew estimam que duas em cada cinco plantas estão em risco de extinção. Os seus investigadores estão a trabalhar com parceiros em mais de 100 países para encontrar soluções para travar a crise da Biodiversidade. “Ao digitalizar os seus espécimes, a colecção histórica de Kew é como uma cápsula do tempo para as espécies em todo o mundo”, entende a instituição.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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