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Já há (pelo menos) nove linces em liberdade em Portugal

14.05.2015

A quinta e última solta de linces-ibéricos de 2014/2015 aconteceu nesta quinta-feira, quando os machos Luso e Litio foram libertados na região envolvente do Parque Natural do Vale do Guadiana. Agora, serão (pelo menos) nove os linces em liberdade no país.

 

Luso e Litio foram libertados directamente na natureza (sem ser no cercado, ou seja, a primeira solta dura realizada em Portugal) na Herdade das Romeiras, em S. João dos Caldeireiros, concelho de Mértola.

Ambos nasceram no ano passado, mas em países diferentes. Luso nasceu no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico em Cativeiro, em Silves, e Litio no Centro de Reprodução em cativeiro de El Acebuche, Espanha.

A reintrodução de linces-ibéricos em Portugal começou a 16 de Dezembro. Desde então foram libertados no Vale do Guadiana Jacarandá, Katmandú, Kayakweru, Kempo, Loro, Liberdade, Lluvia e Lagunilla. E agora Luso e Litio. Todos estão bem, “apresentando os comportamentos naturais da espécie”, menos a fêmea Kayakweru, que foi encontrada morta por envenenamento em Março.

O projecto de reintrodução começou na Andaluzia em 2010 e em Portugal em Dezembro de 2014 e resulta do esforço conjunto das equipas dos cinco centros de reprodução da espécie em cativeiro e das equipas que trabalham para garantir que o lince tenha um habitat para onde regressar.

Portugal e Espanha juntaram-se para devolver o lince-ibérico aos habitats que já foram seus e conseguir, pelo menos, quatro populações viáveis: em Portugal, Andaluzia, Extremadura e Castela-La Mancha. “Para o lince-ibérico uma população viável será alcançada quando se obter 50 fêmeas estabilizadas no território”, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). “Neste primeiro ano de reintrodução contamos dar um passo significativo com a estabilização de quatro fêmeas na região”, acrescentou hoje, em comunicado.

Segundo o mais recente Censo às Populações Andaluzas de Lince-ibérico, relativo ao ano de 2014, existem hoje 327 linces-ibéricos na natureza, dos quais 97 são fêmeas e 71 crias.

E agora?

O trabalho a fazer de 2015 a 2020 será orientado pelo novo Plano de Ação para a Conservação do Lince Ibérico em Portugal (PACLIP), que foi apresentado hoje em Mértola, com a presença do ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, e do Secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel Castro Neto.

O plano prevê alterações para a reprodução do lince-ibérico em cativeiro. Para o ano serão criadas novas instalações no centro de Silves para permitir preparar melhor os animais que serão reintroduzidos e um Banco de Recursos Biológicos para garantir a manutenção de material biológico da espécie. Além disso, o centro vai apostar ainda na recuperação de animais doentes ou feridos vindos das zonas de reintrodução ou das áreas de presença de lince.

No habitat de lince, o grande objectivo será consolidar o núcleo populacional iniciado em Mértola e avaliar novos núcleos e corredores ecológicos que os liguem. O plano prevê medidas para prevenir e mitigar conflitos e causas de mortalidade de lince – como os atropelamentos e práticas ilegais de captura – e para reforçar as populações de coelho-bravo, presa principal do lince.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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