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abutre em voo
Abutre-preto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Já há dois casais de abutre-preto no Parque Natural do Douro Internacional

20.03.2019

Um dos quatro ninhos artificiais para abutres-pretos instalados em Janeiro no Douro Internacional já tem ocupantes, o que aumenta a esperança no nascimento de uma nova colónia da espécie, a longo prazo.

 

O anúncio foi feito esta quarta-feira pela equipa do projecto Life Rupis, que trabalha pela conservação do abutre-do-Egipto e da águia-perdigueira na região transfronteiriça do Douro Internacional.

O abutre-preto (Aegypius monachus) é a maior ave em Portugal, onde é considerado Criticamente em Perigo de extinção, desde 2005. Em território português há hoje três núcleos reprodutores, incluindo o Douro Internacional e também o Alentejo e o Tejo Internacional. É nesta última região que está hoje a maior colónia, que em 2018 contava com 15 casais.

Os ninhos artificiais tinham sido instalados pela empresa Oriolus, apoiada por vigilantes de natureza e por técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Objectivo: servirem de alternativa segura ao único casal de abutres-pretos que procriava na região há sete anos, uma vez que o ninho anterior tinha ficado destruído num incêndio em 2017.

 

ninho feito com ramos e paus
Um dos ninhos artificiais para abutres-pretos no Douro Internacional. Foto: José Jambas/Oriolus

 

“Tínhamos falta de boas árvores, com alguma robustez, pois os ninhos construídos pelos abutres-pretos atingem uma dimensão e um peso consideráveis ao fim de alguns anos, à medida que vão acumulando material”, explicou à Wilder Joaquim Teodósio, coordenador do projecto Life Rupis. “Este primeiro casal já tinha construído um novo ninho em 2018, mas numa árvore muito frágil.”

No entanto, o mesmo casal acabou por construir outro ninho já este ano, “numa localização muito melhor”, e as quatro plataformas ficaram a aguardar outros ocupantes. “Tínhamos esperança de atrair outras aves jovens, mas não esperávamos que acontecesse tão depressa”, admitiu o mesmo responsável, ligado à Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

Os abutres-pretos costumam juntar-se em colónias de dezenas de indivíduos, mas a mais próxima fica em Espanha, a cerca de 100 quilómetros, o que surpreendeu os biólogos que acompanham estas aves no Douro.

“Por vezes, casais recém-formados afastam-se de uma colónia, começando um novo núcleo – foi o que sucedeu em Barrancos, por exemplo. Mas normalmente estes novos núcleos formam-se a 10 ou 20 km da colónia de origem – não a 100 km!”, nota um comunicado divulgado pelo SPEA.

A equipa do projecto espera que os dois casais no Parque Natural do Douro Internacional “se reproduzam com sucesso e que este Verão se juntem assim mais duas crias àquela que teve sucesso o ano passado, depois de os pais terem perdido a cria de 2017 no incêndio”.

A longo prazo, caso a nova geração de abutres-pretos ficar na mesma região, e se aves vindas de outros locais ali se fixarem, pode ser que “aos poucos se instale uma colónia de abutres-pretos no Nordeste de Portugal”, acrescentam. “Para esta espécie ameaçada, uma nova população em Portugal seria uma excelente notícia, e um contributo significativo para a recuperação da espécie na Europa.”

O projecto Life Rupis, coordenado pela SPEA, tem mais oito parceiros: Associação Transumância e Natureza (ATNatureza), Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural, ICNF, Junta de Castilla y León, Fundación Patrimonio Natural de Castilla y León, a Vulture Conservation Foundation (VCF), EDP Distribuição e GNR.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Descubra quantos casais de abutre-preto havia no ano passado e quantas crias nasceram em Portugal, neste artigo da Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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