Águia-pesqueira. Foto: Skeeze/Pixabay

UICN lança “Estatuto Verde” e avalia conservação de 181 espécies

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Acabam de ser publicados os “Estatutos Verdes” para as primeiras 181 espécies avaliadas por este novo mecanismo da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). 

A conservação mundial da natureza tem uma nova ferramenta. Para já foi testada em 181 espécies, incluindo algumas que ocorrem em Portugal como a águia-pesqueira (Pandion haliaetus), a foca-monge-do-mediterrâneo (Monachus monachus) e o escaravelho Tarphius floresensis, endémico da ilha das Flores, nos Açores (esta espécie não existe em mais local nenhum do planeta).

O artigo científico, publicado a 28 de Julho na revista Conservation Biology, aplica pela primeira vez o “Estatuto Verde das Espécies”, uma nova medida mundial para avaliar duas coisas: o quão perto está uma espécie de ser ecologicamente funcional na zona onde vive e o quanto recuperou graças a esforços de conservação.

No artigo são apresentados estatutos para 181 espécies, desde o pombo-cor-de-rosa (Nesoenas mayeri) – que foi salvo da extinção graças a medidas de conservação- ao lobo-cinzento (Canis lupus), uma espécie que está numa promissora trajectória para a recuperação da funcionalidade ecológica em vastas áreas da sua distribuição histórica. Mais de 200 autores, de 171 instituições, contribuíram para este artigo.

“Evitar a extinção das espécies é o principal objectivo que os conservacionistas têm tradicionalmente perseguido”, comentou, em comunicado, Jon Paul Rodríguez, coordenador da Comissão da UICN para a Sobrevivência das Espécies.

“Mas acabámos por perceber que o verdadeiro sucesso seria reverter o declínio ao ponto em que animais, fungos e plantas cumpram as suas funções ecológicas nas suas áreas de distribuição, resultando em espécies que não estão apenas a sobreviver mas sim a prosperar.”

Este é o primeiro método padronizado a nível mundial para avaliar o potencial de uma espécie para a sua recuperação. “O Estatuto Verde da UICN vai ajudar com informações os planos de conservação e orientar as acções para cumprirmos as metas nacionais e internacionais para 2030 e para depois disso”, explicou Jon Paul Rodríguez. “E também nos dá uma métrica para quantificar e celebrar o sucesso conservacionista.”

O Estatuto Verde das Espécies da UICN será integrado na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da UICN. Juntos poderão dar uma imagem mais completa do estatuto de conservação das espécies, incluindo tanto o risco de extinção como o progresso a nível de recuperação.

Segundo explica a UICN, o Estatuto Verde classifica as espécies em nove categorias, que indicam até que ponto estão esgotadas ou recuperadas em comparação com os seus níveis populacionais históricos. Cada avaliação do Estatuto Verde mede o impacto de medidas de conservação passadas numa espécie, a dependência de uma espécie de ajuda continuada, quanto uma espécie tem a ganhar de medidas de conservação nos próximos 10 anos e o potencial que tem para recuperar no próximo século.

“A Lista Vermelha da UICN diz-nos quão perto está uma espécie da sua extinção, mas não foi feita para dar uma imagem mais completa do seu estatuto e funcionamento no ecossistema onde vive”, explicou Molly Grace, investigadora da Universidade de Oxford e principal autora do artigo científico. “Com o Estatuto Verde da UICN temos agora uma ferramenta complementar que nos permite acompanhar a recuperação de uma espécie e melhorar drasticamente a nossa compreensão do estado da vida selvagem mundial”, acrescentou a investigadora, que é uma das coordenadoras do grupo de trabalho do Estatuto Verde da UICN. Segundo Molly Grace, este novo instrumento “dá-nos provas de que a conservação funciona, motivos para estarmos optimistas e um ímpeto para fazermos mais”.

Para começar, 181 espécies já foram avaliadas e têm um Estatuto Verde. Os autores do artigo concluíram que muitas espécies em elevado risco de extinção também têm um elevado potencial para recuperar no próximo século. Por exemplo, o Estatuto Verde do condor-da-Califórnia (Gymnogyps californianus) confirmou que projectos de conservação evitaram a extinção desta espécie. E que um apoio continuado à espécie poderá permitir uma recuperação significativa no próximo século.

“O Estatuto Verde das Espécies introduz uma nova maneira de pensar sobre o impacto da conservação ao defini-la em termos de progresso em direcção à recuperação das espécies”, comentou Barney Long, investigador que também faz parte do Grupo de Trabalho do Estatuto Verde da UICN.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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