Foto: Universidade de Évora

Investigadores de Évora querem lançar bombas de sementes 100% portuguesas

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Equipa da Universidade de Évora tem como objectivo avançar para o mercado com esta ideia de negócio que visa “preservar a identidade genética de cada região”, que venceu um dos prémios BPI – La Caixa para ideias inovadoras.

 

Erika Almeida, investigadora do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) e estudante de Doutoramento em Biologia na Universidade de Évora, foi a autora da ideia de negócio “Seedballs 100% portuguesas: uma ideia natural para promoção de recursos vegetais com interesse para a conservação”, desenvolvida com o apoio de Anabela Belo, professora do Departamento Biologia, investigadora do MED e coordenadora do Laboratório de Botânica da Universidade de Évora.

Agora que têm o aval do prémio BPI – La Caixa no âmbito do programa Promove, que considera que o projecto “tem potencial para se tornar um projecto-piloto inovador”, a equipa quer meter mãos à obra e “promover o fabrico, optimização e desenvolvimento de uma pequena indústria de bolsas de sementes (‘seedballs’) de proveniência regional certificada, e com interesse para a conservação, que possam ser utilizadas em projetos de conservação de natureza”, explica em comunicado a Universidade de Évora.

Foto: Universidade de Évora

“É urgente providenciar uma oferta nacional de espécies vegetais nativas de proveniência regional, de forma a preservar a identidade genética de cada região”, acreditam os membros da equipa, que inclui também Cristina Baião, estudante de Doutoramento em Ciências Agrárias e Ambientais, e João Marques, estudante de Mestrado em Tecnologias em Agricultura de Precisão, da mesma Universidade.

“Bombardear” para conservar a natureza

Uma das grandes preocupações destes investigadores, aliás, “é evitar a introdução de espécies provenientes de outros países e até de outras regiões ecológicas, que podem competir com as nossas espécies e tornarem-se invasoras”.

Ainda mais “num momento em que se prevê a expansão deste tipo de projetos”, mas em que a existência de “uma grande escassez de oferta nacional” pode traduzir-se na “utilização de espécies, que ainda que nativas são provenientes de regiões geográficas distantes, ou até mesmo à utilização de espécies exóticas, o que vai contra os princípios fundamentais da conservação e recuperação da natureza”.

Foto: congerdesign/Pixabay

O fabrico de bombas de sementes envolve a utilização de esferas de argila e composto orgânico, que se misturam com as sementes pretendidas. Estas “bombas” podem ser utilizadas em projectos e acções de conservação da natureza e restauro ecológico, incluindo projectos de reflorestação.

Vantagens importantes desta técnica, destaca a equipa: pode ser usada “em zonas onde o acesso de maquinaria é difícil ou mesmo impossível” e protege as sementes “de predadores como por exemplo as aves, ratos, formigas” e também de “condições desfavoráveis à germinação, sobretudo num cenário de aquecimento global e alteração dos padrões climáticos, como o aumento de temperatura ou a irregularidade da precipitação”.

Além do mais, explica Erika Almeida, se forem utilizadas sementes de proveniência regional garante-se “um maior sucesso das acções de conservação da natureza uma vez que estão mais bem adaptadas ecologicamente às condições locais”.

Início no Alentejo

Mas para o projecto avançar para o terreno, a equipa vai ter de aumentar a escala de todas as fases do processo, incluindo a produção e limpeza de sementes, a optimização da composição das “bombas” para um maior número de espécies, e a transformação do processo de fabrico manual num processo de produção semi-industrializado.

A ideia é que as sementes sejam colhidas na natureza apenas no início, passando depois a serem cultivadas e conservadas com o apoio do Banco de Sementes da Universidade de Évora, adianta a investigadora. “O produto final serão ‘seedballs’ de proveniência regional certificada, cuja composição específica será adequada a diferentes tipos de vegetação.”

Por outro lado, a equipa quer contribuir para a economia circular, incluindo no fabrico alguns subprodutos de origem doméstica e industrial, como cinza e argilas.

“A concretização desta ideia, que prevemos inicialmente ser instalada no Alentejo, irá contribuir para a economia do tecido produtivo regional”, avança Erika Almeida. “No entanto, este modelo de negócio poderá ser replicado noutras regiões e assim contribuir para a fixação populacional e criação de postos de trabalho fora das grandes cidades.”

Neste momento, a equipa está a terminar o plano de pré-viabilidade para aprovação pela Fundação La Caixa. Todavia, para que a ideia se concretize e chegue ao mercado, é necessária a “captação de financiamentos específicos ou investimento privado”.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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