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Investigadoras portuguesas estão na Antárctida a estudar líquenes

18.02.2019

Paula Matos e Maria Alexandra Oliveira estão até Março na Ilha de Livingstone para estudar como os líquenes podem ajudar a antecipar mudanças súbitas no clima da Antártida.

 

O potencial dos pequenos líquenes para dar sinais de alerta sobre o que está a acontecer aos ecossistemas do planeta já despertou a atenção internacional. Em Janeiro de 2017, um artigo publicado na revista Methods in Ecology and Evolution defendeu os líquenes enquanto indicador ecológico mundial, reconhecido pelas Nações Unidas. Os autores do artigo, coordenados por Paula Matos (investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), apresentaram uma nova métrica para que os líquenes possam passar a ajudar a analisar os efeitos do clima e da poluição a nível mundial.

Agora, Paula Matos está na Antárctida em mais uma etapa deste projecto científico, trabalhando lado a lado com Maria Alexandra Oliveira. Ambas as investigadoras do cE3c estão a estudar os líquenes que que vivem neste ambiente extremo para desenvolverem um indicador ecológico que permita antecipar as mudanças súbitas no clima da Antártida e datar depósitos relacionados com o recuo dos glaciares.

As investigadoras estão na Base Antártida Juan Carlos I, na Ilha de Livingstone, a cerca de 12.000 quilómetros de Lisboa.

 

Base Juan Carlos I (Ilha de Livingstone). Foto: Paula Matos

 

Durante as próximas semanas, Paula e Alexandra vão obter amostras de líquenes que, juntamente com os musgos, dominam a vegetação da região. “Vamos ver e amostrar as comunidades de líquenes ao longo de um gradiente de clima”, explicou, em comunicado, Paula Matos. “Com base nesses dados, e nos conhecimentos reunidos pela comunidade científica ao longo dos últimos 20 anos, queremos desenvolver um indicador ecológico que permita prever as mudanças súbitas no clima da Antártida.”

O projecto que as leva nesta expedição é o Lichen Early Meter – Development of an ecological indicator to monitor the effects of climate change in polar regions based on lichen functional traits, um dos 14 projectos no âmbito do Programa Polar Português (PROPOLAR) para 2018/2019.

Os líquenes já são utilizados como indicadores ecológicos para avaliar a “saúde” dos ecossistemas, face a factores como poluição ou alterações no uso dos solos, por exemplo.

Além do desenvolvimento do indicador ecológico, o estudo das mudanças climáticas na Antártida alia a Biologia à Geologia, área de formação de Maria Alexandra Oliveira: “Vou utilizar a liquenometria em depósitos relacionados com o recuo dos glaciares para compreender a dinâmica dos mesmos”, explicou Maria Alexandra Oliveira. A liquenometria é um “método de datação que utiliza os conhecimentos que existem sobre a taxa de crescimento de certas espécies de líquenes para tentar determinar há quanto tempo é que uma determinada rocha está exposta”.

 

O desafio das baixas temperaturas

As investigadoras passam grande parte do dia no exterior em trabalho de campo, com temperaturas médias de 0ºC, o que implicou preparativos especiais para a viagem. “Trabalhar num ambiente muito frio significa ter de andar sempre com três camadas de roupa. Felizmente, a PROPOLAR empresta a terceira camada, que é muito cara”, contou Paula Matos. Ainda assim, vive-se nesta altura o Verão no hemisfério sul. No Inverno, nesta região registam-se temperaturas médias de -25ºC, e nem a Base Juan Carlos I se encontra em funcionamento.

À expedição à Antártida, com duração prevista até ao início de Março, vai seguir-se a análise detalhada dos dados e amostras recolhidas, já na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, até Setembro.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Pode acompanhar o dia-a-dia da expedição aqui.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Aqui tem um guia de campo útil para distinguir e identificar 12 espécies de líquenes que crescem nas árvores em Portugal.

Saiba identificar seis espécies de musgos e líquenes das árvores e telhados do nosso país.

Aqui estão cinco espécies de líquenes e musgos para descobrir em Janeiro e Fevereiro.

 

[divider type=”thick”]Precisamos de pedir-lhe um pequeno favor…

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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